As contas externas tiveram saldo negativo de US$ 843 milhões em junho, informou nesta quarta-feira o Banco Central. No mesmo mês de 2022, houve superávit de US$ 266 milhões nas transações correntes, que são as compras e vendas de mercadorias e serviços e transferências de renda com outros países.
A diferença na comparação interanual é resultado do déficit em renda primária que aumentou US$ 2,8 bilhões no mês devido, em parte, a uma concentração maior de pagamento de juros ao exterior nas operações intercompanhias (da filial/matriz no Brasil para a matriz/filial no exterior) e nos empréstimos externos tradicionais, quando empresas não estão relacionadas. Também houve diminuição do superávit da renda secundária em US$ 276 milhões, que são as transferências sem contrapartidas.
O déficit foi compensado parcialmente por um aumento de US$ 1,3 bilhão no superávit comercial de bens e um recuo de US$ 700 milhões no déficit em serviços.
Em 12 meses – encerrados em junho – o déficit em transações correntes é de US$ 49,967 bilhões, 2,5% do Produto Interno Bruto, ante o saldo negativo de US$ 48,858 bilhões (2,47% do PIB) em maio de 2023 e déficit de US$ 52,621 bilhões (2,94% do PIB) no período equivalente terminado em junho de 2022. Já no acumulado do ano, o déficit é de US$ 13,803 bilhões, contra saldo negativo de US$ 20,833 bilhões no primeiro semestre de 2022. É o menor déficit para período desde 2017, quando chegou a US$ 7,8 bilhões.
Segundo o chefe do Departamento de Estatística do BC, Fernando Rocha, embora o resultado negativo tenha aumentado na comparação interanual de junho, houve redução nesse déficit no semestre.
“Permanece uma tendência de déficits baixos em conta-corrente que pode ser traduzida para uma situação externa do país confortável” disse, em coletiva.
O superávit da balança comercial foi o maior da série histórica, para os meses de junho – iniciada em janeiro de 1995. As exportações de bens totalizaram US$ 30,247 bilhões em junho, redução de 8,7% em relação a igual mês de 2022. As importações somaram US$ 21,645 bilhões, queda de 16,1% na comparação com junho do ano passado. A queda no valor das exportações foi influenciada pela redução dos preços internacionais, enquanto as importações se reduziram em razão do volume importado que foi menor. Com esses resultados, a balança comercial fechou com superávit de US$ 8,603 bilhões no mês passado, ante saldo positivo de US$ 7,337 bilhões em junho de 2022.
O déficit na conta de serviços – viagens internacionais, transporte, aluguel de equipamentos e seguros, entre outros – somou US$ 3,483 bilhões em junho, redução de 16,8% diante dos US$ 4,187 bilhões em igual mês de 2022.
A rubrica de transportes contribuiu para essa redução do déficit da conta de serviços, ao passar de US$ 1,672 bilhão em junho de 2022 para US$ 1,172 bilhão no mês passado, recuo de 29,9%. De acordo com Rocha, a melhora foi influenciada por menores gastos em fretes, que teve redução devido à queda nos preços internacionais, além de redução nas exportações e importações.
Ainda segundo ele, houve recuo no déficit de serviços de propriedade intelectual, na comparação interanual, devido a uma grande operação que aconteceu em junho de 2022 e que não se repetiu no mês passado.
Assim, a base de comparação do mês ficou elevada, mas os dados do ano seguem a normalidade. Em junho de 2022, o déficit nessa conta chegou a US$ 1,310 bilhão, enquanto no mês ficou em US$ 415 milhões.
No caso das viagens internacionais, seguindo a tendência dos meses recentes, as receitas de estrangeiros em viagem ao Brasil cresceram 30,8% na comparação interanual e chegaram a US$ 508 milhões em junho, contra US$ 388 milhões no mesmo mês de 2022. Esse resultado é o maior para o mês desde junho de 2014, quando chegou a US$ 793 milhões. Rocha lembrou, entretanto que, em junho daquele ano, houve a Copa do Mundo no Brasil e o país recebeu um grande número de turistas estrangeiros.
As despesas de brasileiros no exterior passaram de US$ 1,196 bilhão em junho do ano passado para em US$ 1,417 bilhão no mesmo mês de 2023, aumento de 18,4%. Com isso, a conta de viagens fechou o mês com aumento de 12,4% no déficit, chegando a US$ 909 milhões, ante déficit de US$ 808 milhões em junho de 2022.
Segundo Rocha, esta é uma conta muito afetada pelas restrições impostas pela Covid-19, e apesar da recuperação gradual, os valores ainda estão abaixo do período antes da pandemia.
Em junho, o déficit em renda primária chegou a US$ 6,161 bilhões, aumento de 83,5% ante os US$ 3,358 bilhões no mesmo mês de 2022. Normalmente, essa conta é deficitária, já que há mais investimentos de estrangeiros no Brasil – e eles remetem os lucros para fora do país – do que de brasileiros no exterior.
No caso dos lucros e dividendos associados aos investimentos direto e em carteira, houve déficit de US$ 3,841 bilhões no mês de junho deste ano, frente ao observado em junho de 2022, de US$ 2,304 bilhões, devido à redução de US$ 1,1 bilhão nas receitas.
A conta de renda secundária – gerada em uma economia e distribuída para outra, como doações e remessas de dólares, sem contrapartida de serviços ou bens – teve resultado positivo de US$ 198 milhões no mês passado, contra superávit US$ 474 milhões em junho de 2022.
Os ingressos líquidos em investimentos diretos no país (IDP) foram baixos para o padrão recente da série. Eles somaram US$ 1,880 bilhão em junho último, ante US$ 5,228 bilhões em junho de 2022.
O IDP acumulado em 12 meses totalizou US$ 80,020 bilhões (4,01% do PIB) em junho de 2023, ante US$ 83,369 bilhões (4,21% do PIB) no mês anterior e US$ 62,733 bilhões (3,5% do PIB) em junho de 2022.
Com informações das Agência Brasil