Contração seguida do PIB configura recessão técnica

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Maquinário agrícola, agronegócio
Maquinário agrícola (foto divulgação)

A quinta-feira foi marcada pela repercussão dos dados divulgados sobre o Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todos os bens e serviços produzidos no país, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A queda no terceiro trimestre da agropecuária, segmento que tradicionalmente puxa para cima o resultado do PIB, abriu questionamentos sobre o que virá nos meses seguintes. O governo explicou que fatores climáticos influenciaram os resultados.
O PIB variou -0,1% no terceiro trimestre de 2021 (comparado ao segundo trimestre de 2021), na série com ajuste sazonal. Em relação a igual período de 2020, o PIB cresceu 4,0%. “Foi a segunda contração seguida do PIB, o que configura recessão técnica”, avalia o economista João Beck, sócio da BRA, escritório credenciado da XP Investimentos. Ele disse que a variação de -0,1% veio em linha com a expectativa de estabilidade. “Destaque para a queda do setor agro de 8% no trimestre e serviços cresceram 1,1% como resultado da retomada da mobilidade da economia. Na comparação anual, a alta foi de 4%. O PIB se mantém no mesmo patamar pré pandemia”, comentou o economista.
Segundo ele, um aspecto positivo foi o consumo das famílias que registrou resultado positivo pelo segundo trimestre seguido (4,2%). “Algo que deve perder força no 4t21 com os atuais dados de confiança e inflação que podemos usar como bons previsores futuros”, prevê. Para o economista, a contribuição ainda positiva das famílias é resultado ainda de um país de taxa de juros muito baixa e aumento da mobilidade. “O impacto da alta da Selic, principalmente após a aceleração dessa taxa, deve impactar a economia ainda mais nos próximos trimestres. O aumento da Selic não tem efeito imediato, algo que se observa na atividade após um semestre”, explica.
Analisando o contexto, Beck diz que o país “contratou” uma recessão com elevação aguda da taxa de juros para convergência da inflação para a meta. “A recessão do ano passado seria muito pior, não fosse o pacote de estímulos dado às populações mais necessitadas. Parte desse gap do ano anterior (diferença da recessão potencial e da observada) está sendo incorporado na conta do PIB corrente. Ou seja, ainda não acabamos de pagar os estragos da pandemia”, esclareceu.
Na interpretação de Alexsandro Nishimura, economista, head de conteúdo e sócio da BRA, os dados do PIB foram piores do que a expectativa do consenso do mercado, que tinha projeções de estabilidade na comparação trimestral e avanço de 4,3% no comparativo anual. “Para reforçar a fraqueza da atividade econômica, o resultado do 2º trimestre foi revisado para uma retração ainda maior, saindo de -0,1% para -0,4%”, comentou.

Setor agrícola

Nishimura comentou que o setor agrícola, que por muitas vezes puxou o PIB, desta vez foi o grande destaque negativo e descolou fortemente das expectativas ao cair 8% contra o segundo trimestre, quando se esperava queda de 3,3%. Por outro lado, o setor industrial se mostrou resiliente, enquanto serviços expandiu menos do que o esperado.
“É um olhar pelo retrovisor, mas que ajuda a entender o que vem pela frente, escancara a fraqueza da economia brasileira e tende a reforçar as projeções cada vez menores de avanço para este ano e de 2022, quando as projeções já eram de baixo crescimento e podem piorar”, acredita o economista. Segundo ele, o resultado confirmou também a expectativa de entrada na chamada “recessão técnica”, que ocorre quando o PIB cai por dois trimestres consecutivos.
“O retrato de uma economia mais fragilizada, as incertezas com o impacto da variante Ômicron, que pode trazer turbulências mundo afora, hoje ainda tentando resolver a questão fiscal com a PEC dos Precatórios e um ano de eleições à frente, o Banco Central ganha mais variáveis na difícil calibragem da política monetária para o enfrentamento da inflação”, avalia Nishimura.

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