Contribuições de Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro e Paulo Freire para as Organizações

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Gestão Democrática e Participativa: a herança transformadora

A presente resenha objetiva entender se a Gestão Organizacional sofreu algum tipo de influência das trajetórias e das obras dos educadores, pensadores, autores, gestores e idealistas Anísio Teixeira (1900-1971), Paulo Freire (1921-1997) e Darcy Ribeiro (1922-1997). Mas antes de estabelecer qualquer tipo de conjectura, é preciso fazer uma imersão nas contribuições dessas personalidades no direcionamento da Educação no Brasil.

Foto: Instituto Anísio Teixeira
Paulo Freire – Foto: Reprodução
Foto: Fundação Darcy Ribeiro / Divulgação

Anísio Teixeira, Paulo Freire e Darcy Ribeiro nasceram nas décadas iniciais do século 20, sendo através do amadurecimento intelectual deles que o país ganhou novas formas de lidar com os educandos. Isso porque eles não se ativeram à comodidade de apenas teorizar sobre a Educação no país, já que trouxeram a teoria para atuações na prática.

Anísio Teixeira aproximou a população brasileira do ambiente escolar ao implantar escolas públicas, objetivando a gratuidade educacional para todos. Paulo Freire revolucionou a metodologia do processo educacional ao transformar a forma de se alfabetizar, quando incorporou ao processo a experiência de vida dos indivíduos. Darcy Ribeiro, além de trazer o olhar antropológico para as comunidades indígenas do Brasil, expandiu o intuito de educação para todos de Anísio Teixeira ao criar projeto de escolas públicas com maior carga horária.

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Tais projetos tiveram a denominação de Centro Integrado de Educação Pública (Ciep), tratando-se de locais em que os alunos passavam o dia, entre a manhã e o final da tarde, recebendo aulas pertinentes aos currículos escolares, alimentação, assistência médica e atividades esportivas e culturais.

Ao se observar tais feitos educacionais, pode-se captar que há uma essência comum entre eles, que é o democratizar a Educação. Porém, ao aproximar a população da Educação, esses baluartes da Educação no Brasil trouxeram a compreensão do significado de democracia participativa. Uma contribuição ímpar acerca do que é a participação da população, sem distinção, no meio coletivo em que vive, ou seja, do que é pensar e agir de maneira democrática e participativa. A ideia principal é que todos os grupos envolvidos (pais, alunos, professores e outros colaboradores das instituições de ensino) possam opinar sobre o formato do aprendizado, incluindo modelos de avaliação, abrangendo tanto a união como o poder de fala na busca do processo de aprendizagem com qualidade para todos os alunos.


Uma postura passível de sair do ambiente educacional para ancorar no estreito da Gestão Organizacional. Haja vista que indica um caminho possível de aproximação entre a organização e o seu quadro de funcionários, que, por sua vez, aponta para a participação coletiva em prol de uma melhor performance organizacional. Chegando-se, assim, ao entendimento da terminologia Gestão Democrática e Participativa.

Desenvolvida para o ambiente escolar, a gestão democrática acabou por ganhar espaço nas organizações, especialmente nas mais modernas ou nas com quadro de funcionários mais jovem. Dessa forma, a organização que adota a Gestão Democrática e Participativa prima por dividir o poder de decisão com todos da equipe, não ficando ele concentrado em sua liderança. Comportamento organizacional que aumenta a autonomia e a motivação dos profissionais da equipe de funcionários.

Portanto, o envolvimento de todos da equipe nas tomadas de decisão da organização, ou mesmo nas criações e desenvolvimento de projetos, significa estabelecer uma gestão democrática, que se coloca aberta à participação de todos. Deste modo, há o estabelecimento de uma gestão participativa, que também pode ser entendida como gestão horizontal. Um cenário organizacional que é tipificado pela responsabilidade compartilhada, independentemente do cargo ocupado pelo profissional.

Todavia, mesmo que estabelecida a Gestão Democrática e Participativa na organização, a existência do líder ainda é primordial, visto que ele tem por função a coordenação deste modelo de gestão de pessoas. Cabe ao líder orientar os integrantes da equipe para o alcance de um ambiente organizado de diálogo. Também sendo sua função motivar os integrantes da equipe, inclusive implementando canais de comunicação para o exercício da Gestão Democrática e Participativa, instituindo assim uma liderança democrática.

Ao se estabelecer uma Gestão Democrática e Participativa numa organização, deve-se atentar para o implemento de três características essenciais para o seu sucesso, sendo:

  1. Participação de todos os integrantes da equipe – é indispensável um ambiente arranjado e aberto para que haja o envolvimento de todos, devendo cada integrante entender o seu papel e a sua responsabilidade na busca pelo sucesso do negócio;
  2. Poder de decisão descentralizado – Apesar de ser o líder o detentor da palavra final nas decisões da organização, existe ambiente para que todos os integrantes da equipe sejam ouvidos antes da tomada de decisão final, levando-se em consideração o que cada um tem a dizer;
  3. Transparência entre os envolvidos – Todos os integrantes da equipe têm a possibilidade de obter conhecimento acerca das coordenadas administrativas da organização, desde o formato da tomada de decisão até os riscos relacionados à realidade do negócio.

Sendo assim, a Gestão Democrática e Participativa coloca-se como um modelo de gestão de pessoas que, atualmente, está conquistando espaço nas empresas. Uma gestão vista não só pelo seu aporte ético de quebrar a barreira de distinção entre funcionários, respeitando a participação de todos no negócio, como também pelo seu aporte estratégico para melhorar a performance da organização.

Certamente, ao motivar os integrantes da equipe de funcionários, aproximando-os das orientações administrativas do negócio, a Gestão Democrática e Participativa tende a gerar otimização para a produtividade da organização. Cabendo ao líder da organização estabelecer o engajamento participativo de todos os integrantes da equipe de funcionários nesse estreito de gestão participativa. Seja qual for a etapa de uma ação organizacional, os integrantes da equipe devem se fazer presentes e, especialmente, opinativos.

Seguramente, o arcabouço teórico-prático de Anísio Teixeira, Paulo Freire e Darcy Ribeiro contribuiu como fonte de entendimento da democracia participativa, a qual acabou ecoando na ciência administrativa. Isso porque, quando instituíram a igualdade educacional para todos num ambiente participativo, tais pensadores acabaram por inspirar a mesma postura para o ambiente de gestão organizacional. Ou seja, a busca pelo ensino de qualidade para os brasileiros reverberou também como uma possibilidade para se buscar qualidade numa gestão organizacional. Conclui-se, assim, que a utilização da Gestão Democrática e Participativa, como meio para otimizar as atividades de uma organização, está atrelada à influência das trajetórias e das obras de Anísio Teixeira, Paulo Freire e Darcy Ribeiro.

Assim, para encerrar a apreciação aqui feita, vale trazer algumas passagens inspiradoras destes grandes pensadores, plausíveis ao ensejo da Gestão Democrática e Participativa:

Democracia é, assim, um regime de saber e de virtude. E saber e virtude não chegam conosco ao berço, mas são aquisições lentas e penosas por processos voluntários e organizados.

Anísio teixeira

Onde quer que haja mulheres e homens, há sempre o que fazer, há sempre o que ensinar, há sempre o que aprender.

Paulo Freire

A coisa mais importante para os brasileiros (…) é inventar o Brasil que nós queremos.

Darcy Ribeiro

Emiliano Furtado Campos é diretor-geral da Faculdade de Ciências Médicas do Pará (Facimpa).

Ana Carolina Motta é docente do Programa de Pós-Graduação em Administração PPGA (Unigranrio).

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