Conversa com Investidor: Ser Educacional (SEER3)

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Rodrigo Alves (foto divulgação Ser Educacional)
Rodrigo Alves (foto divulgação Ser Educacional)

A Ser Educacional é um dos principais grupos de ensino superior do Brasil. Com atuação nacional, a companhia possui sólida presença nas regiões Norte e Nordeste, onde concentra mais de 90% dos seus mais de 240 mil alunos. No 3T21, a Ser Educacional reportou uma receita líquida de R$ 324 milhões, aumento de 20,3% comparado ao 3T20; um Ebitda ajustado de R$ 68 milhões, crescimento de 24%, o que representa uma margem de 21%, crescimento de 0,6 p.p.; e um lucro líquido ajustado de R$ 7,5 milhões, revertendo um prejuízo de 1,3 milhão no 2T20.

Neste Conversa com Investidor, Rodrigo Alves, diretor de RI do Grupo Ser Educacional, foi entrevistado por Mariana Ferraz, analista da Eleven Research.

 

A pandemia impôs diversos desafios para as educacionais, como a captação online de alunos e a transferência da sala de aula para ambientes digitais, ao mesmo tempo em que acelerou processos que levariam anos para serem aceitos pelos alunos. Na visão da Ser, quais são as novas tendências do mercado e as novas demandas dos alunos?

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Definitivamente, vemos como tendência o conceito de onipresença que estamos implantando na Ubíqua, nossa nova metodologia de ensino que passamos a utilizar neste ano. Os alunos querem ter a flexibilidade do ensino digital (antigo ensino a distância) em conjunto com a experiência presencial. Isso nos leva a buscar alternativas que ajudem os alunos a combinarem essas experiências de um modo que, academicamente, eles possam se desenvolver cada vez mais.

Estamos criando uma série de novidades para o mercado neste ano: a introdução das aulas online com professores notáveis em suas áreas do conhecimento; duplas certificações com instituições de ensino internacionais; e até mesmo o conceito de sempre gravarmos as aulas, independentemente do formato (presencial ou online), de forma a permitir que os alunos possam assistir ou reassistir as aulas de onde estiverem.

Outros conceitos também ganharam força: a formatura acelerada e a educação continuada. Aqui os alunos estão procurando aprendizados focados nos temas em que estão buscando aumentar seu conhecimento e com isso se valorizarem no mercado, tendo como base cursos mais específicos e de curta duração, uma graduação, uma segunda graduação, pós-graduação e cursos livres. Tudo mesclado em um conceito de experiências diversas ao longo da carreira.

 

Diante da nova tendência do setor, a Ser estruturou um novo modelo acadêmico. Você pode nos explicar como ele funciona?

Sim, o Ubíqua é o nosso modelo acadêmico baseado no ensino por competências. Com essa concepção, o aluno aprende via online ou presencial de forma integrada e com base na melhor maneira de absorção daquele conteúdo, diferente do modelo tradicional em que parte do curso era online e parte presencial, independente da necessidade daquele aprendizado. Além disso, o modelo tem várias vantagens, pois integra facilmente um curso com outros parceiros, permitindo grande flexibilidade na criação de novos cursos. Além das aulas com pessoas notáveis nas áreas de conhecimento e da dupla certificação, outro destaque são os cursos em conjunto com empresas como o caso da Singular Tech School, uma escola de tecnologia que criou cursos em conjunto com gigantes do setor como Google, IBM e Avanade.

Os cursos podem ser divididos em três formatos:

  • o presencial em que o aluno tem 100% das aulas presencialmente;
  • híbridos que podem ter até 40% das aulas no formato EAD;
  • o EAD, que pode ter apenas 30% da estrutura no formato presencial.

 

A nova estrutura curricular se aplica apenas ao modelo híbrido ou também será levado para os cursos presenciais e EAD? A Ser pensa em levar essa estrutura para os cursos presenciais e EAD no futuro?

Ele pode ser levado para qualquer modelo acadêmico. A matriz foi criada justamente para atender essas diferentes demandas. O que muda é apenas o formato regulatório de entrada.

 

Mariana Ferraz (foto divulgação Eleven Research)
Mariana Ferraz (foto divulgação Eleven Research)

Entendemos que os grandes grupos também estão se movimentando nesse sentido. A Ânima, por exemplo, já fala há bastante tempo do modelo híbrido e de metodologias ativas, e a Cogna anunciou o seu marketplace de educação. Qual o diferencial da Ser?

O conceito de ensino por competências não é novidade. Existe desde 1948, quando foi cunhado por Robert White em Harvard. A inovação real vem da combinação desse conceito em conjunto com tecnologia de ponta e melhoria contínua da experiência dos alunos, base desse conceito de educação onipresente que estamos criando via Ubíqua. Outros diferenciais, além dos que já comentamos, são a qualidade dos conteúdos digitais. Criamos conteúdos novos, intuitivos e com muita interatividade. Os infográficos, jogos, áudios e vídeos são totalmente integrados, seguindo uma linha lógica consolidada. Outro fator é que hoje temos um dos maiores acervos do Brasil, com mais de 8 mil cursos produzidos, desde cursos livres a graduações e pós-graduações em praticamente todas as áreas do conhecimento.

 

Como é a rentabilidade dos cursos livres e qual a estimativa de representação dentro do grupo que eles podem alcançar?

Os cursos ainda estão no primeiro ano de funcionamento, portanto, não geram lucro. Estamos em fase de investimento, tanto na criação de cursos quanto do marketplace GoKursos que fará a oferta.

 

Como vocês imaginam que o novo modelo acadêmico afetará as taxas de retenção de alunos?

É um dos componentes importantes para a formatura dos alunos, mas existem outros como experiência na instituição, aspectos financeiros, relacionamento e vocação para o curso ou profissão escolhida.

 

Com o novo modelo acadêmico será necessária alguma desmobilização de campus, ou seja, a estrutura que vocês têm hoje atende a nova operação?

A tendência do setor são campi menores e mais dedicados a aulas práticas do que no passado. Nós já enxergávamos que isso ia acontecer desde 2018, portanto, não temos grandes necessidades de ajustes em nossa estrutura locada. Mesmo assim, continuamente temos que fazer ajustes finos, acompanhando a evolução de nossa base de alunos em cada cidade em que operamos.

 

E em relação a PDD, a Ser acredita que as taxas de provisionamento continuarão elevadas?

As taxas começaram a cair a partir do terceiro trimestre de 2021 com a retomada das atividades presenciais nas cidades. Acreditamos que o desafio foi muito grande em 2020, mas passamos a ver uma melhoria significativa a partir do segundo semestre. Agora resta saber como o mercado de trabalho vai se comportar em 2022, uma vez que a evasão tem alta correlação com fatores como nível de emprego e renda da população.

 

Os números de captação que foram anunciados para o 2S21 são bem positivos, tanto para o EAD quanto para o presencial, modalidade que foi bastante impactada na pandemia. Contudo, como o ambiente macroeconômico está cada vez mais desafiador, o que podemos esperar para a captação de 2022?

De fato o ambiente está bastante desafiador do ponto de vista econômico, em especial para a classe média brasileira. Por outro lado, vimos neste semestre que as pessoas estão buscando retomar seus sonhos. Nossa percepção é que a demanda ficou reprimida por conta da pandemia. Teremos um retorno da demanda desde que as instituições de ensino se dediquem a trazer uma proposta de valor única para os alunos que combine qualidade, experiência diferenciada e preços justos.

 

Olhando para o consolidado, como a Ser entende que será o comportamento do top line e das principais margens no próximo ano?

Estamos otimistas com um cenário de recuperação para o ano que vem. Temos algumas aquisições que fizemos que vão iniciar uma fase importante de aceleração do ganho de sinergias. Se o processo de captação for de fato positivo, em 2022 teremos a oportunidade de recuperar a ocupação dos campi, o que também ajuda a diluir custos.

 

Em relação aos M&As, vocês demonstraram alto apetite neste ano. Como esses M&As contribuem na estratégia da Ser? Devemos continuar aguardando por novas transações? Podem nos passar também qual tipo de M&A estão focando no momento?

A Ser Educacional sempre combinou crescimento orgânico com aquisições. Os anos de 2020 e 2021 foram importantes nesse sentido porque adicionamos instituições de ensino que complementaram nosso ecossistema de educação continuada. Agora estamos numa fase diferente, mais interessados em consolidar bem as compras que fizemos e criar uma onda de crescimento orgânico, sendo ainda abertos a M&As, mas mais seletivos do que antes e dedicados às edtechs que hoje fazem muitas atividades interessantes para a nossa estratégia (nesta quinta, a Ser Educacional anunciou a aquisição da edtech Delinea, uma das maiores produtoras independentes de conteúdos acadêmicos digitais para ensino superior do Brasil).

 

Quais os principais desafios que enxergam à frente para o setor e para a Ser?

Estamos em um setor em franca transformação pós-pandemia e as instituições de ensino e o Grupo Ser Educacional tiveram que se reinventar em um curto espaço de tempo. O nosso maior desafio no começo foi definir nosso foco estratégico. Agora, o maior desafio está em executar um modelo de negócios que hoje é muito diferente, em que temos que ofertar mais do que cursos, mas também novas atividades como uma fintech ou um hospital veterinário que serão importantes diferenciais no mercado. Ao mesmo tempo, esse cenário nos exige uma capacidade de execução e um perfil multitarefas. Essas características serão diferenciais no futuro quando ocorrer a consolidação dessa estratégia, o que se reverterá em diferenciais importantes nos cursos e na experiência educacional que oferecemos.

 

Coordenação: Jorge Priori

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