Cooperação Sul-Americana – X

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O desenvolvimento econômico, adequadamente definido, é o desenvolvimento da produtividade da força de trabalho. As metas de desenvolvimento na América do Sul, portanto, devem ser planejadas com vistas a obter resultados que sejam expressos em uma modificação da composição de emprego da força de trabalho total. A força de trabalho, sugere-se, deve tender a distanciar-se de composições de tipo “pré-industrial” e “pós-industrial”, face a uma composição congruente com a tecnologia moderna e o aumento correspondente da densidade relativa potencial de população.
Isto significa que, no transcurso de uma geração, a América do Sul deve orientar suas estratégias de desenvolvimento para conseguir:
que cresça a população total;
que aumente a população economicamente ativa (PEA) até estabilizar-se em cerca de 40% da população total; e
o pleno emprego da PEA.
As proporções recomendadas para levar em conta no emprego da PEA são as seguintes:
1) o número de operários produtivos (empregos não administrativos em fábricas, construção, mineração, energia, agricultura e transporte), deve crescer até chegar a mais de 50% da PEA;
2) o emprego destes operários produtivos deve concentrar-se na produção de bens de capital e dentro dessa área, em máquinas e ferramentas, em particular; e
3) mais de 3% da PEA deve estar empregada como cientistas, técnicos e engenheiros.
As referidas proporções refletem o ritmo máximo de geração e absorção de avanços tecnológicos na economia; quer dizer, o aumento ótimo da produtividade da força de trabalho. Se a maior riqueza não utilizada da América do Sul é sua força de trabalho, atualmente em larga escala desempregada, então pode-se dizer que a tarefa central do desenvolvimento é, em resumo, empregar plenamente essa força daqui para o ano 2025, procurando obter proporções anteriormente mencionadas de composição no seu emprego. Em concreto, isto significa que, para quase eliminar o desemprego atual e absorver o crescimento de sua força de trabalho até o ano 2025, a América do Sul terá que triplicar sua força trabalhadora empregada.
Isto não basta. É necessário crescer a taxas próximas de 10% a.a. Como crescer a 10% ao ano? Como se observa no quadro abaixo, historicamente, a América do Sul alcançou taxas anuais de crescimento do produto interno bruto (PIB) da ordem de 6% a.a., em média, como as registradas, durante o decênio, de 1970 a 1980. Neste período, alguns países da América do Sul alcançaram taxas de crescimento superiores, como é o caso do nosso país, cujo PIB cresceu acima de 8% a.a.
PRODUTOS, EMPREGO E PRODUTIVIDADE EM DIVERSOS PAÍSES
1970-1980
(taxas médias de crescimento anual)
América
do Sul México Brasil Coréia do Sul Japão*
Produto interno bruto (PIB) 6,0 6,6 8,6 8,6 10,4
Emprego total 3,1 3,2 3,9 2,8 1,4
Produtividade média 2,8 2,6 4,5 5,6 8,9
Inversão bruta 7,4 8,3 9,0 10,1 14,6
Inversão/PIB 23,8 25,7 22,0 29,4 36,0
* 1960 – 1970
Fontes: CEPAL e Banco Mundial
Não foi só isso. No melhor dos casos – o do Brasil – só se conseguiu desenvolver certas áreas da agricultura e indústria. O grosso dos setores produtivos e sua população permaneceram em condições de atraso tecnológico e baixa produtividade, exercendo um enorme lastro sobre o resto da economia e prejudicando o nível de capitalização e produtividade. O crescimento global de seus setores industriais foi insuficiente para absorver a imigração do meio rural para o meio urbano, gerando-se assim uma grande massa de desocupados, que se viram obrigados a viver em condições miseráveis de subemprego, de marginalidade e pobreza, tanto na periferia das cidades, como na área rural. Esta é a história atrás dos 97 milhões de desempregados – contando não só o desemprego “oficial” como o dissimulado – que existem hoje na região sul-americana.
Muito embora, a América do Sul não ofereça nenhum exemplo de crescimento de 10% anuais, há países que conseguiram isso. O caso paradigma é, sem dúvida, o Japão, que conseguiu manter taxas de crescimento superiores a 10% ao ano, ao longo de períodos prolongados. A causa fundamental, deste crescimento japonês, foi um grande aumento da produtividade industrial, a taxas próximas de 9% ao ano, que lhe permitiu ampliar substancialmente, suas margens de inversão, que chegaram a representar até 36% do PIB, segundo se vê também no quadro acima. Em conseqüência, em poucas décadas, o Japão deixou de ser um país medianamente industrializado e se transformou em uma verdadeira potência industrial, superando os demais países desenvolvidos, em níveis de produção e produtividade, em um grande número de atividades industriais. Grandes avanços registraram, também, outros países que seguiram a estratégia japonesa, de altas taxas de inversão; esse é o caso da Coréia do Sul, que fez a transição de nação agrícola a industrializada, em menos de uma geração. Atualmente, o mesmo fenômeno pode ser observado na China.
O chamado “milagre japonês” poderia ser reproduzido pela América do Sul, inclusive em maior escala, sempre e quando se seguir a mesma estratégia e reinvestir grandes porcentagens do produto em áreas cientificamente escolhidas devido a sua alta tecnologia o que conduzirá a sempre maior produtividade.
PARÂMETROS DE CRESCIMENTO PARA A AMÉRICA DO SUL
1985-2020
1970-1980 1980-1985 1985-2000 2000-2020
População total 2,5 2,3 1,8 2,3
Produto interno bruto (PIB) 6,0 -,5 3,2 10,0
PIB per capita 3,4 -1,8 0,8 7,5
Emprego efetivo 2,5 0,5 0,1 3,6
Produtividade média 3,4 – 4,6 6,2
Inversão bruta 7,4 -6,7 1,0 10,0
Inversão/PIB 23,8 19,7 21,1 34,0
Fontes: CEPAL e estimativas próprias.
Dessa forma, em três décadas, a América do Sul poderá se converter em uma superpotência industrial de magnitude comparável à do setor desenvolvido dos dias de hoje, incluindo os Estados Unidos, Europa Ocidental e o Japão. Na tabela acima são indicados os parâmetros de crescimento econômico que devem servir de base para o desenvolvimento sul-americano nos próximos 30 anos, para poder se alcançar os níveis de emprego e produtividade que possibilitarão o surgimento desta imaginada e pretendida superpotência industrial.
Este é um trabalho e se apoia em perspectivas historicamente observadas. Contudo, no futuro, o próprio desenvolvimento tecnológico pode contribuir para acelerar as perspectivas aqui colocadas.

Darc Costa
Coordenador do Centro de Estudos Estratégicos da Escola Superior de Guerra e Membro do Conselho Editorial do MONITOR MERCANTIL.

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