Cooperação Sul-Americana – XIII

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Urge tornar mais técnica a atividade agrícola na América do Sul. A massa crítica para tanto já encontra-se disponível, como pode atestar o programa bem sucedido de assistência rural posto em prática pelo Sistema Embrater no Brasil. É preciso expandi-lo para os demais países da América do Sul.
Isto, porque, na América do Sul, emprega-se menos do que um quinto de fertilizantes por unidade de área que na União Européia e a mecanização agrícola sul-americana é vinte vezes menor que a estadunidense, como se pode ver na tabela abaixo, que se segue:
PERFIL DA AGRICULTURA NA AMÉRICA DO SUL
1997

Superfície
(milhões de ha)

Produção
(milhares de tonelada)

Rendimento
(tonelada/há) Número de tratores por cada 1000 empregados Consumo de fertilizantes*
(Kg / ha)
Argentina .15.862 48.609 3,21 79 5
Brasil 31.000 74.041 2.45 17 59
Colômbia 1.398 3.611 2,59 10 73
Chile 649 2.507 3,82 64 26
Peru 782 1.536 2,00 71 35
Venezuela 739 1.509 2,04 61 73
Outros países 5.580 8.749 1,60 n.d. n.d.
América do Sul 55.110 140.562 2,61 27 48
Estados Unidos 76.966 339.850 4,41 801 110
União Européia 45.337 179.231 3,95 485 261
*Consumo de nutrientes na superfície de cultivo. Cifras correspondentes a 1990.
Fonte: FAO e ONU
Com respeito a disponibilidade de terras a situação na América do Sul, talvez, seja das mais favoráveis do planeta. A América do Sul tem hoje cerca de 6% da população mundial. Entretanto, concentra 14% da superfície terrestre do planeta e igual parcela passível de utilização agrícola. Todavia, este potencial encontra-se pouco explorado, a ponto de hoje na América do Sul só se cultivar 8% de sua superfície total ou seja menos da sétima parte de sua superfície potencialmente  e menos que a média mundial. Isto resulta de uma postura atrasada, que vê a terra como uma reserva de valor e que inibe um programa de distribuição do fator terra, o que premiaria, realmente, o trabalhador rural.
Acresce-se a estas condicionantes negativas o fato de que a maior parte da receita externa da região sul-americana provem do setor agrícola, o que resulta em brutais exportações de bens alimentícios para outros continentes, retirando da parcela menos assistida da região o acesso a muitas das fontes de suprimento que a área detém. Aqui, também, um programa de cooperação demonstrar-se-á um excelente elemento de alavancagem das condições de vida na região.
DISPONIBILIDADE MUNDIAL DE SUPERFÍCIE AGRÍCOLA
1992

Espaço Publicitáriocnseg

Superfície total
(milhões de ha) Superfície com
Potencial agrícola*
(milhões de ha)
% da
superfície total Cultivo**
(milhões de há)
% da
superfície total
América do Sul 1720 920 53,5 174 10,1
EUA e Canadá 1.835 498 27,2 237 12,9
União Européia 373 166 44,4 95 25,5
Europa Oriental e URSS 2.327 667 28,7 278 11,9
Ásia 2.679 1.107 41,3 458 17,1
África 2.966 967 32,6 183 6,2
Outras regiões 1.177 517 58,8 45 5,1
Total mundial 13,077 4.641 35,5 1.469 11,2
% América do Sul 14 20,0
11,8
* Inclui a superfície de cultivo e as áreas de pastagens permanentes.
Superfície dedicada tanto a cultivos temporários como permanentes.
Fonte: FAO.
Uma das maiores melhorias resultantes do Mercosul foi, sem dúvida, o acesso, sem a sempre onerosa utilização de divisas, que a economia brasileira está tendo de bens agrícolas de clima temperado e que está proporcionando, como contrapartida, o acesso, também, sem divisas, à economia argentina de bens agrícolas de clima tropical.
Toda a ação pretendida na área agrícola objetiva valorizar o maior capital estratégico que detém a região, que é  a sua disponibilidade de água doce e o seu espaço destinado à produção alimentar, como tão bem exemplifica a tabela acima:
Como meta pode-se afirmar que é possível triplicar a produção de grãos na América do Sul nos próximos 20 anos. Podemos sair dos atuais 140 milhões de toneladas para 400 milhões de toneladas. Para tanto, o maior esforço deverá estar centrado no aumento da produtividade das terras já cultivadas. Entretanto, dever-se-á, também, realizar um ponderável esforço na abertura de novas terras para o cultivo. Estima-se a necessidade de se aumentar em 50% a mais o espaço atual envolvido na produção  Sugere-se que este esforço seja preferencialmente induzido por ação estatal nas seguintes áreas, pois, já existe uma progressão privada, algo que mostraremos adiante, e que também deve ser incentivada, em outras áreas  mais interessantes e que por isto, só depois serão mencionadas:
1) As planícies da Colômbia e da Venezuela: área, de cerca de 20 milhões de hectares, ao sul destes países, que em decorrência de grandes precipitações de chuva durante parcela do ano e secas em outros períodos tem sido muitíssimo pouco utilizada para a agricultura. Um programa de regulação hídrica poderia representar a solução para esta questão.
2) O nordeste do Brasil: Amplo espaço, onde hoje, excetuando pequenas áreas irrigadas, está entregue a inatividade agrícola. Com um programa de transposição de cursos de água e de irrigação, poderia acrescentar mais de 40 milhões de hectares a atividade produtiva.
3) A área da franja sul da Bacia Amazônica: Espaço também resultante do derramamento de basalto vindo dos Andes, que engloba o Estado do Acre, o sul do Estado do Amazonas, no Brasil;  o norte da Bolívia e o sul do Peru e que só necessita de infra-estrutura de acesso para a sua incorporação a produção agrícola da região;
As áreas onde a iniciativa privada deve ser orientada para a rápida progressão:
a) as mesetas do Planalto Brasileiro;
b) os lhanos (planícies) da Colômbia e do Chile;
c) as calhas dos rios amazônicos, do Rio São Francisco e do Rio Orinoco; e
d) a Bacia do Prata, a mais promissora de todas.

Darc Costa
Coordenador do Centro de Estudos Estratégicos da Escola Superior de Guerra e Membro do Conselho Editorial do MONITOR MERCANTIL.

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