Cooperação Sul-Americana – XXIV – A

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Devido ao legado das relações comerciais com os países industrializados, a mineração é a indústria relativamente melhor desenvolvida na América do Sul. O ouro e a prata foram, por exemplo, as primeiras exportações da região, dos séculos XVI a XVIII, e nos séculos posteriores a exploração mineral tornou-se o principal objeto dos investimentos estrangeiros na região. O ouro e a prata são ainda produtos importantes. O cobre do Chile e Peru, o estanho da Bolívia, o minério de ferro do Brasil e um sem número de outros minerais representam parte muito importante do produto interno bruto e das exportações da região.
Mas muito pouco desses minerais se refina e adquire sua forma metálica definitiva na América do Sul, apesar da região possuir fontes de energia baratas e abundantes (pois a energia é um dos elementos mais importantes no refino dos metais). Tradicionalmente, este tem sido um dos aspectos mais débeis da mineração e da indústria sul-americana. Extrai-se muitos minérios, mas é muito pouco o que é refinado e industrializado na América do Sul; em conseqüência, o valor agregado é minúsculo.
Assim sendo, a América do Sul exporta minerais a preços baixos, ou as vezes metais acabados ou semi-acabados, e importa produtos acabados caros que contêm o metal ou, no melhor dos casos, peças para a montagem. O que se omite são as etapas intermediárias, a manufatura de bens de capital e a indústria pesada, que são as indústrias menos desenvolvidas da região. Isto explica o perigoso desequilíbrio existente entre o setor fabril de bens de capital e o de bens de consumo na região.
A tabela abaixo indica as reservas sul-americanas estimadas desses mesmos minerais e a porcentagem que representam do total mundial. A segunda coluna indica a porcentagem da produção mundial total que é representada por esta produção.
Produção e reservas de minerais metálicos na América do Sul*

Produção
1983 % do
total
mundial
Reservas
1990 % do
total
mundial
Principais
produtores
Minerais
básicos: Milhares de
Toneladas
Milhões de Toneladas

Minério de ferro 142.300 26,8 52.000+ 46,3 Bolívia, Brasil
Venezuela
Níquel 9 3,7 2,3 3,8 Brasil
Cobre 1.822 22,5 111 32,6 Chile, Peru
Bauxita 23.378 n.d. 5.800 27,6 Brasil, Caribe
Titânio 14 1,5 34,5 20,0 Brasil
Zinco 987 15,7 20 11,8 Peru
Estanho 40 19,0 0,3 8,5 Bolívia, Brasil
Chumbo 494 14,7 6 6,3 Peru
Manganês 1.046 13,1 30,6+ 3,4 Bolívia, Brasil

Minerais
Estratégicos: Toneladas Milhares de toneladas

Espaço Publicitáriocnseg

Nióbio 6.977 73,1 3.221 78,9 Brasil
Litio 1.279 15,2 1.270 66,7 Chile, Brasil
Rênio 4,8 31,5 1,4 45,5 Chile, Peru
Berílio 1.250 18,3 165 43,2 Brasil
Telúrio 125 23,6 7.280 33,1 Chile, Peru
Selênio 375 19,9 25 31,3 Chile
Prata§ 144,2 36,7 2.290 29,2 Peru
Cobalto 1.650 7,1 1.048 28,9 Colômbia
Molibdênio 23,8 36,7 1.361 25,0 Peru
Cádmio 2,503 12,7 75 13,5 Peru
Antimônio 19.053 39,9 554 13,3 Bolívia
Tálio 1,9 14,3 0,05 12,0 Brasil
* Quantidades medidas em conteúdo metálico.
+ Inclui estimativas das jazidas de Mutúm na Bolívia e de Carajás no Brasil.
+ As reservas de manganês podem ser bem maiores, dadas às quantidades indeterminadas nas jazidas de Mutúm.
§ Milhões de onças-troy.
Fonte: Bureau of Mines, E.U.A.

Como se pode ver, a região produz uma porção considerável dos minerais básicos, como minério de ferro, níquel, cobre, zinco e estanho. Também possui grandes porcentagens da produção de vários minerais estratégicos.
Contudo, podemos observar que a região possui uma porção maior das reservas do que da produção: 46% das reservas mundiais de minério de ferro, 39% do níquel, 33% das de cobre e 28% da bauxita. Quanto aos minerais estratégicos, o quadro indica que a América do Sul possui mais de 40% das reservas de quatro deles e mais de 25% das reservas de outros cinco.
O Brasil, a Bolívia , o Peru e o Chile são os principais países mineiros do subcontinente. Todavia, os recursos apontados não representam a totalidade dos recursos disponíveis e sim os recursos conhecidos. Um objetivo central para uma ação mineral na região passa obrigatoriamente pelo emprego de técnicas mais modernas de pesquisa e prospeção mineral baseado em satélites, via sensoreamento remoto, ou através de métodos mais usuais de aerofotogrametria, para a realização de um inventário completo das disponibilidades minerais da região.
A ótica prevalecente no programa de pesquisas deve ser o de privilegiar as necessidades da região, modificando-se, portanto, a prioridade atual de se dar ênfase às exportações. Ênfase especial deve se dar aos projetos minerais no sentido de utilizá-los como instrumento de incorporação de várias áreas da região aos seus ecúmenos ( triângulos Rio-Buenos Aires-Brasília e Caracas-Bogotá-Lima), a exemplo do que foi projetado para Carajás.

Darc Costa
Coordenador do Centro de Estudos Estratégicos da Escola Superior de Guerra e Membro do Conselho Editorial do MONITOR MERCANTIL.

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