A fim de vencer a “corrida” para mitigar os impactos das mudanças climáticas em virtude do crescente aquecimento do Planeta, metas claras e transparentes foram estabelecidas para mais de 30 setores da economia na COP28 (28ª Conferência de Mudanças Climáticas da ONU), que se encerrou em 13 de dezembro último em Dubai.
Em setores como os de assentamentos humanos, energia, indústria, terra, zonas oceânicas e costeiras, água, transportes e remoção de carbono, houve discussões e foram traçadas metas a serem alcançadas até 2030, tais como:
- novos projetos no setor de construção adotarão medidas de redução de carbono;
- redução em 60% dos níveis de queima de resíduos a céu aberto;
- sistema de refrigeração a exemplo de ar condicionado, com impacto climático cinco vezes menor do que os atuais;
- investimentos em energias renováveis;
- redução na produção de petróleo e emissão de metano;
- projetos para cozinha limpa;
- reutilização e reciclagem e compostagem de 100% das embalagens plásticas;
- gestão sustentável do uso da terra e produção de alimentos;
- proteção, restauração e duplicação de mais de 17 milhões de manguezais;
- investimentos para a proteção de cerca de 125.000 km² de recifes de corais tropicais;
- segurança alimentar e nutricional por meio da proteção e restauração dos sistemas aquáticos e terrestres;
- combustíveis sustentáveis para a aviação e transportes marítimo e terrestre.
Eventos climáticos extremos ao redor do mundo, com exemplos de ondas de calor e inundações, nos permitem ver que o modo de vida que adotamos com o desenvolvimento econômico é incompatível com as possibilidades de resistência da natureza. O consumo de energia proveniente de fontes fósseis nos campos e cidades, aliado ao crescimento da população mundial sobretudo nas grandes cidades, está gerando um aquecimento cada vez maior do Planeta, que vem dando sinais de que a corrida rumo à sustentabilidade não pode parar.
Daí a importância do envolvimento da sociedade, segmentos empresariais e dos governos para manter o aquecimento em 1,5°C até o final do século 21, conforme estabelecido no Acordo de Paris de 2015, assinado por 195 países para a redução das emissões de gases do efeito estufa (GEEs).
A COP28 reiterou que um clima resiliente e seguro exige redução das emissões de dióxido de carbono em até 50% até 2030 e atingir emissões líquidas zero até 2050 além de manter as emissões líquidas negativas ao longo da segunda metade do século.
Um grande impasse enfrentado na COP28 foi o compromisso dos países com a “eliminação” ou “redução” na transição do uso dos combustíveis fósseis, chegando-se à redação final de uma “eliminação gradual”. Países como os Emirados Árabes, que produzem cerca de 7 milhões de barris por dia, ou mesmo o Brasil, que pretende explorar petróleo ao norte do Amapá e integrar a Opep+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), dentre muitos outros que não querem abrir mão dos campos de exploração do petróleo, geram certa contradição na corrida pela descarbonização. Afinal, não podemos alcançar os objetivos nessa corrida olhando pelo retrovisor.
Uma visão holística na busca do que realmente deve ser implementado por todos os países para acelerar a transição energética impõe que a meta não é apenas a de reduzir, mas a de eliminar o uso de combustíveis fósseis. Ganhar ou perder essa “corrida” significa mais do que uma medalha. A “largada”, já deflagrada, significa a possibilidade de vida para comunidades vulneráveis especialmente dos países insulares, mas a chegada, ainda longe, pode implicar na existência de todos.
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