Com a inflação desacelerando, mas alguns preços, como a energia, pressionados, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decide nesta quarta-feira se pausa o ciclo de alta na Taxa Selic, juros básicos da economia. Os analistas de mercado estão divididos entre a manutenção da taxa ou uma última elevação antes de o BC interromper as altas.
Atualmente em 14,75% ao ano, a Selic está no maior nível desde agosto de 2006. Desde setembro do ano passado, a taxa foi elevada seis vezes seguidas.
Segundo a edição mais recente do Boletim Focus, pesquisa semanal com analistas de mercado, a taxa básica deve ser mantida em 14,75% ao ano até o fim de 2025, iniciando uma redução em 2026.
No entanto, parte do mercado aposta numa elevação para 15% ao ano. O comunicado da última reunião, em maio, o Copom destacou que mais indicadores mostram desaceleração da economia, o que mostra o início dos efeitos do ciclo de alta dos juros. O texto não informou o que aconteceria depois da reunião de maio. Apenas afirmou que é necessário esperar que “os canais de transmissão da política monetária estejam desobstruídos” para garantir que o aumento dos juros provoque efeito sobre a economia real.
Nesta quarta-feira, ao fim do dia, o Copom anunciará a decisão. Após chegar a 10,5% ao ano de junho a agosto do ano passado, a taxa começou a ser elevada em setembro do ano passado, com uma alta de 0,25 ponto, uma de 0,5 ponto, três de 1 ponto percentual e uma de 0,5 ponto.
A queda da inflação aumentou as chances de interrupção no ciclo de altas. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) desacelerou para 0,26% em maio e para 5,32% em 12 meses.
Segundo o último Boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras feita pelo BC, a estimativa de inflação para 2025 caiu para 5,25%, contra 5,5% há quatro semanas. Isso representa inflação acima do teto da meta contínua estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 3% para este ano, podendo chegar a 4,5% por causa do intervalo de tolerância de 1,5 ponto.
Pelo novo sistema de meta contínua em vigor desde janeiro, a meta de inflação que deve ser perseguida pelo BC, definida pelo Conselho Monetário Nacional, é 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 1,5% e o superior é 4,5%.
No modelo de meta contínua, a meta passa ser apurada mês a mês, considerando a inflação acumulada em 12 meses. Em maio de 2025, a inflação desde junho de 2024 é comparada com a meta e o intervalo de tolerância. Em junho, o procedimento se repete, com apuração a partir de julho de 2024. Dessa forma, a verificação se desloca ao longo do tempo, não ficando mais restrita ao índice fechado de dezembro de cada ano.
No último Relatório de Inflação, divulgado no fim de março pelo Banco Central, a autoridade monetária manteve a previsão de que o IPCA termine 2025 em 5,1%, mas a estimativa pode ser revista, dependendo do comportamento do dólar e da inflação. O próximo relatório será divulgado no fim de junho.
Segundo Hugo Garbe, professor de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriano Mackenzie (UPM), “em um momento de enorme sensibilidade econômica, hoje, 17 de junho, começa mais uma reunião do Copom. O mercado está dividido entre aqueles que acreditam na manutenção da Selic em 14,75% e a outra parte, que já precifica uma alta de 0,25 ponto percentual, levando a taxa a 15%.”
“A dúvida não é apenas técnica. É, antes de tudo, política, fiscal e simbólica. Afinal, o Banco Central está diante de uma conjuntura em que precisa equilibrar sua credibilidade como guardião da inflação com os efeitos cada vez mais claros de uma política monetária extremamente restritiva. O cenário mais provável é de manutenção da taxa. Há sinais de que a inflação começa a ceder, mesmo que de forma ainda tímida e heterogênea entre os setores. O núcleo da inflação, que é aquele mais sensível à política monetária, já dá mostras de desaceleração, ainda que as expectativas futuras estejam levemente desancoradas.”
Segundo ele, “atualmente, o que vemos é uma economia real fragilizada. O consumo das famílias está travado, o mercado de crédito vem encolhendo há meses e o crescimento econômico tem sido constantemente revisado para baixo. A taxa de juros atual, já em patamar elevado, cumpre seu papel de freio. Aumentá-la em meio a uma atividade tão fraca pode acabar gerando um efeito colateral mais danoso do que o próprio risco inflacionário de curto prazo.”
Com informações da Agência Brasil
















