A ata da 239ª reunião do Copom não apenas reforça a preocupação quanto à inflação do comunicado como também aumenta o tom contra o cenário inflacionário, tendo assim leitura hawkish. Pesa para isso principalmente o exposto no parágrafo 15, em que o Comitê destacou a possibilidade de uma redução do estímulo em magnitude maior já na reunião de junho.
Em relação aos riscos para a inflação, temos, pelo lado baixista, a questão da estabilização de preço de commodities em moeda local. Por outro, a perspectiva de prolongamento de estímulos fiscais pode impactar a trajetória fiscal e os prêmios de risco, com destaque para a contemporização da melhora de alguns indicadores fiscais.
Do lado internacional, a discussão sobre inflação nos EUA com uma eventual mudança da trajetória de política monetária é um risco para a inflação no Brasil. Por outro lado, o Copom destacou que a inflação de comercializáveis foi maior no Brasil e a reversão desse processo no futuro criaria um risco baixista para a inflação.
Sobre a atividade econômica, o Comitê avaliou que essa continua surpreendendo para cima, apesar da intensidade da segunda onda. Avaliam que a atividade no segundo semestre deve ser mais robusta, especialmente com o avanço na vacinação. Além disso, a mediana das projeções da Focus está mais otimista que seu cenário base e os riscos inflacionários baixistas quanto a recuperação também se reduziram.
No parágrafo 13, o Comitê destaca que o cenário básico produz projeções de inflação alinhadas com a meta, contudo que a assimetria do balanço de riscos justifica uma trajetória de política monetária menos estimulativa. No parágrafo 14, indicou a necessidade de levar os juros ao patamar neutro sem interrupção.
No parágrafo 15, houve a discussão sobre a chance de uma elevação ainda maior da Selic para essa reunião e destacou a possibilidade de um ajuste mais tempestivo vir na próxima reunião. Essa estratégia é justificada nos parágrafos seguintes pelo (i) acúmulo de mais informações sobre os determinantes da inflação; e (ii) os efeitos de reafirmar enfaticamente o compromisso do Copom com a meta de inflação, a despeito das projeções condicionais.
Em suma, o balanço de riscos da inflação é altista e o Comitê levantou a possibilidade de uma elevação dos juros em 100 bps já na reunião de junho. Apesar de indicarem uma nova alta de 0,75 pp. para agosto, a chance de um aumento em 1 pp. ganhou ainda mais força.
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Felipe Sichel
Estrategista-chefe do Banco Digital Modalmais