O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu reduzir a taxa Selic pela primeira vez em três anos. O corte foi de 0,5 ponto percentual (p.p.), e a decisão foi apertada: 5 votos a 4.
Apesar de positivo, e de o relatório da reunião sinalizar novos cortes este ano, a redução de meio ponto percentual terá pouco impacto prático e mantém o Brasil com os juros reais (descontada a inflação) mais altos do mundo.
Redução da taxa Selic foi de 0,5 ponto, para 13,25% ao ano
Na reunião anterior do Copom, em 20 e 21 de junho, que manteve a taxa Selic em 13,75%, o mercado financeiro estimava, no Boletim Focus divulgado em 16 de junho, uma taxa de inflação (IPCA) para 2023 de 5,12%.
Agora, a última projeção do mercado financeiro, no Focus de 28 de julho, o IPCA caiu para 4,84%, uma redução de 0,28 ponto percentual. Assim, a taxa real, frente a estimativa de inflação, pouco se alterou.
A taxa Selic será de 13,25% ao ano até a próxima reunião, em 19 e 20 de setembro. O mercado financeiro espera novos cortes até o final do ano, levando os juros para ainda elevados 12%.
Fim do Bolsa Banqueiro permitiria recompor salário do funcionalismo
“Em vez de Bolsa Banqueiro, governo poderia reparar perdas de todo o serviço público federal”, instigou a coordenadora nacional da Auditoria Cidadã (ACD), Maria Lucia Fattorelli, durante live realizada na segunda-feira (31).
O cálculo da ACD é o seguinte: em 2022, o Banco Central pagou mais de R$ 180 bilhões de juros aos bancos. Isso sem falar nos juros e amortizações da dívida pública que o Tesouro Nacional também paga.
Por outro lado, os servidores públicos federais reivindicam a recomposição das perdas inflacionárias acumuladas em 46,5% desde 2010, percentual este resultante da média entre 53,17% e 39,92%, reivindicados pelos respectivos blocos de servidores.
O volume de recursos para repor integralmente essa perda média de 46,5% seria de aproximadamente R$ 158 bilhões, valor inferior ao valor gasto com a Bolsa Banqueiro no ano passado e, adicionalmente, menos de 10% que o valor gasto com juros e amortizações do Sistema da Dívida em 2022, calcula a ACD.
Taxa Selic foi reduzida pela última vez há 3 anos
A última vez em que o BC tinha reduzido a Selic foi em agosto de 2020, quando a taxa caiu de 2,25% para 2% ao ano.
Depois disso, o Copom elevou a taxa de juros Selic por 12 vezes consecutivas, num ciclo que começou em meio à alta dos preços de alimentos, de energia e de combustíveis, e, a partir de agosto do ano passado, manteve a taxa em 13,75% ao ano por sete vezes seguidas.
Antes do início do ciclo de alta, a Selic tinha sido reduzida para 2% ao ano, no nível mais baixo da série histórica iniciada em 1986. Por causa da contração econômica gerada pela pandemia de covid-19, o Banco Central tinha derrubado a taxa para estimular a produção e o consumo. A taxa ficou no menor patamar da história de agosto de 2020 a março de 2021.
Inflação vem caindo
A inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), em junho, ficou negativa em 0,08% e acumula 3,16% em 12 meses. Nos últimos dois meses, a inflação vem caindo por causa dos alimentos e dos combustíveis.
O índice fechou o ano passado acima do teto da meta de inflação. Para 2023, o Conselho Monetário Nacional (CMN) fixou meta de inflação de 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. O IPCA, portanto, não podia superar 4,75% nem ficar abaixo de 1,75% neste ano.
No Relatório de Inflação divulgado no fim de junho pelo Banco Central, a autoridade monetária estimava que o IPCA fecharia 2023 em 5% no cenário base. A projeção, no entanto, pode ser revista para baixo na nova versão do relatório, que será divulgada no fim de setembro.
As previsões do mercado estão mais otimistas que as oficiais. De acordo com o boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo BC, a inflação oficial deverá fechar o ano em 4,84%. Há um mês, as estimativas do mercado estavam em 4,98%.
Imobiliárias esperam novas quedas da taxa Selic
A Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) classificou como positiva a redução na taxa de juros Selic. “Entretanto, esperamos que esse seja um movimento contínuo de redução, e que a Selic possa se estabilizar em um patamar baixo de forma sustentável no longo prazo.”
Para o presidente da Abrainc, Luiz França, o corte na taxa básica de juros é essencial para a incorporação imobiliária e construção civil.
“Além da queda nos juros, é essencial que o Banco Central adote medidas que aumentem a oferta de funding ao setor. Uma delas é a ampliação dos recursos da Poupança que são direcionados obrigatoriamente ao financiamento de imóveis dos atuais 65% para 70%”, defende o executivo.
A Abrainc destacou que os juros altos deixam mais caro o custo de capital para as empresas, já que muitas delas dependem de financiamentos para realizar seus projetos e culmina em um aumento nos custos para a população, além de ser um grande entrave para a geração de empregos e crescimento econômico.
Trabalhadores dizem que BC errou na dose
“Acertou o remédio, errou na dose!” é o título da nota do presidente da Força Sindical, Miguel Torres. “Apenas 0,50%”, lamentou.
“A queda é necessária e importante neste momento, mas o Banco Central deve continuar o processo de redução nas próximas reuniões.
“A Taxa Selic em patamar elevado resulta em consequências danosas para o setor produtivo e para os trabalhadores. A Taxa em 13,25% ainda é proibitiva!
“A redução é insuficiente. A Força Sindical ressalta que irá continuar na luta pela redução da Taxa Básica de Juros, como importante passo rumo ao fortalecimento e crescimento da economia. Juros exorbitantes inibem o consumo, a produção e, consequentemente, a geração de postos de trabalho.
“Vale destacar que os tecnocratas do Banco Central perdem uma ótima oportunidade de reduzir drasticamente a Taxa Selic e, assim, dar uma injeção de ânimo no setor produtivo e na geração de empregos.
“Juros nas alturas são uma forma de concentrar cada vez mais renda nas mãos de poucos. O País precisa investir no fomento da produção, na geração de empregos e na distribuição de renda para retomar o caminho do seu crescimento econômico”, finaliza a Força.
Campos Neto votou junto com diretores indicados por Lula
André Meirelles, diretor de Alocação e Distribuição da InvestSmart XP, disse, em nota, que a queda foi maior do que a esperada pelos economistas, “mas em linha com a expectativa do mercado, quando consideramos a curva a termo dos juros”.
Meirelles destaca que, em seu comunicado, o Copom anteviu mais uma queda de 0,5% para próxima reunião. “Um detalhe importante foi que o presidente do Bacen [BC], Roberto Campos Neto, votou em harmonia com os novos membros do Copom, Gabriel Muricca Galípolo e Ailton de Aquino Santos, os únicos indicados pelo novo governo.”
“Para as próximas decisões, o Copom deve considerar os pontos que foram elencados em seu balanço de risco: persistência da inflação global e na inflação doméstica de serviços poderiam levar o comitê a ponderar uma queda menor e desaceleração da atividade global mais acentuada e surpresas baixistas na trajetória de inflação poderiam levar o comitê a pensar em acelerar a queda, para 0,75%”, finaliza a nota da InvestSmart XP.
Com Agência Brasil
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