Covardia generalizada

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A  administração FH continua a exercer seu triste papel de executora das ordens emanadas do exterior, proferidas pelos “donos do mundo”, através de seus instrumentos de ação: FMI, Bird, BID, OMC, inúmeras ONGs e outros. A sucessão de episódios, que ilustram esta assertiva, demonstra, à saciedade, sua veracidade. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) autoriza o reajuste das tarifas de duas distribuidoras de energia, que atendem consumidores do Rio de Janeiro e Minas Gerais. O ministro de Minas e Energia anuncia que o racionamento de energia continuará no próximo verão, adentrando o ano de 2002, com uma previsão de diminuição da cota de racionamento de 20% para 10%, criando inquietação na Câmara de Gestão da Crise (GCE). Isto representaria uma meta inatingível, por exemplo, para o cidadão do Rio de Janeiro, pois a média foi calculada com base nos meses de abril, maio e junho de 01, época na qual o consumo médio é baixo, pois é outono, enquanto que, no verão, atinge a temperaturas médias acima de 40°, tornando obrigatório o uso do ar refrigerado. Afinal, um cidadão dos EUA consome, em média, 2000 kwh, por mês. Até o “Financial Times” elogia a boa vontade dos brasileiros, atribuindo-lhes “um admirável show de responsabilidade cívica”, ao mesmo tempo que afirma que “o governo do presidente FH está sendo corretamente responsabilizado pelo atual racionamento, porque não adotou medidas para reduzir a dependência do país de fatores climáticos”, admitindo que o PIB brasileiro deverá crescer a metade do previsto neste ano, além de classificar a crise como “um presente para a oposição”, que poderia ganhar as eleições, se houvesse união em torno de um único candidato.
O índice de intenção do consumidor, apurado pela Federação do Comércio de São Paulo, numa escala de zero (extremo pessimismo) a 200 (extremo otimismo) caiu de 101,7 em abril, para 81,7 em maio. Este dado revela a preocupação da população com a atual situação brasileira, caracterizada pelos juros elevados, falta de luz, dólar acima de R$ 2,40, perspectiva de elevação de preços da gasolina, em julho, do aumento do desemprego, da subida da taxa de inflação (acima da meta acertada com o FMI, nos últimos doze meses, mesmo considerando a tolerância de mais 2%) e outras variáveis com tendência negativa. Um episódio, aparentemente isolado, o fechamento da estrada do colono, no parque nacional, por ordem de uma juíza de Porto Alegre, com o emprego violento da Polícia Federal e até do Exército, utilizados como instrumentos de coerção pelos que não desejam o desenvolvimento brasileiro, com direito até a destruição, por dinamite, de balsas de transporte, a pretexto de ser a área patrimônio da humanidade, demonstra a subserviência reinante, para agradar aos “donos do mundo”. Isto,  no momento em que o presidente Bush libera a exploração de petróleo no Alasca e em áreas preservadas, também patrimônios da humanidade. Perseguem os humildes brasileiros que moram na região, desejosos apenas de sobreviver com dignidade. Outro fato chocante foi a reportagem, transmitida por um canal de TV, mostrando oficiais estrangeiros realizando treinamento de guerra na selva, na Amazônia brasileira, treinados pelo Exército brasileiro. Ora, sabendo-se que nos EUA, na França, na Alemanha, não existem florestas tropicais, fica a preocupação: será que estamos adestrando o futuro invasor para melhor dominar nosso território? Outro acontecimento degradante é a entrega da base de Alcântara aos EUA, caracterizando um crime de lesa-pátria, com a criação de um enclave militar estrangeiro em nosso país. E continua com a vergonhosa capitulação do ministro da Justiça ao Primeiro Comando da Capital (PCC) na rebelião ocorrida em presídio situado no Paraná, onde morreram um agente penitenciário e vários detentos , com o cumprimento das exigências feitas pelos celerados. Mas, “em compensação”, o governo do Estado do Rio de Janeiro vai destruir no dia 24.06.01, no Aterro do Flamengo, por ordem da ONU e orientação do Viva Rio, cerca de 100.000 armas de fogo, que poderiam ser utilizadas pelas Polícia no combate ao crime organizado.
Nosso comentário refere-se aos dois lados da moeda, sempre existentes. No referente à crise de energia, por exemplo, é digna de elogios a capacidade de mobilização do sofrido povo brasileiro. Do lado negativo, identificamos uma passividade exagerada, uma covardia generalizada, uma apatia assustadora de grande parte da população brasileira, considerando não só o quadro descrito, como a corrupção desenfreada, o entreguismo ilimitado, a incompetência gritante. Por muito menos, em outros países, e até no Brasil, administrações foram derrubadas e presidentes depostos, forçados a renunciar, ou presos após o término do mandato. Existem os exemplos recentes do Peru, do Equador, do México, da Argentina e outros. A explicação para a leniência reinante reside, em parte, no nefasto papel da mídia amestrada, encarregada de anestesiar a população e, em outra parte, pela cumplicidade da denominada oposição formal, criada para garantir a manutenção pelos “donos do mundo” no poder. De fato, os pronunciamentos e “planos de governo”, apresentados, nos últimos dias,  pelos candidatos Lula e Ciro Gomes não representam possibilidade de mudança da dramática situação de nosso país, mas sim, a perpetuação deste calamitoso estado de coisas.

Marcos Coimbra
Professor Titular de Economia na Universidade Candido Mendes, Professor na UERJ e Conselheiro da ESG. Correio eletrônico: [email protected].
Site: www.brasilsoberano.com.br.

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