Covid-19 matou mais policiais do que confrontos em 2020

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Policia/Bope (Foto: Tânia Rêgo/ABr)
Policia/Bope (Foto: Tânia Rêgo/ABr)

A Covid-19 matou 465 policiais no Brasil no ano passado. Esse é mais que o dobro do número de agentes assassinados no país que chegou a 198. As informações são de um levantamento realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e o Núcleo de Estudos da Violência da USP, em parceria do G1, com base nos confrontos com civis ou lesões não naturais com intencionalidade envolvendo policiais em atividade, os estados com mais policiais mortos pela doença foram Rio de Janeiro (65), Amazonas (50) e Pará (49).

Segundo o estudo, São Paulo seguiu essa trágica linha, os policiais militares, civis e técnico-científicos que atuam no estado morreram mais em decorrência do coronavírus do que em confrontos realizados em serviço no ano passado. Enquanto a covid-19 matou 43 policiais, 22 morreram em serviço.

O levantamento mostra também, que foram afastados da função em algum momento 126.154 policiais, o que representa 25% do total do efetivo no país.

O estado com maior percentual de afastamentos pela doença foi Tocantins com 38% do total. E, segundo o levantamento, todas as unidades da federação tiveram ao menos um policial morto pela doença no ano passado. O número pode ser maior já que na pesquisa não foi levado em conta os primeiros meses de 2021.

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De acordo com Bruno Paes Manso, do Núcleo de Estudos da Violência da USP, e Samira Bueno e Renato Sérgio de Lima, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, esse é um cenário de tragédia no país diante do enfrentamento a pandemia. Eles afirmaram que o país pareceu ignorar que uma quantidade significativa de profissionais de segurança pública trabalham em contato direto com a população e sofrem constante risco de contaminação.

Racismo

O Monitor da Violência também mostra que as pessoas negras foram 78% dos mortos pelas polícias militar e civil no Brasil em 2020. Segundo informações do estudo, quase quatro a cada cinco pessoas mortas por policiais são pretas ou pardas.

De acordo com o pesquisador do estudo, Dennis Pacheco, “o motivo é histórico. A gente tem uma representação social da população negra no Brasil que foi construída por meio da escravidão. A perspectiva de que o negro é perigoso, de que ele é pobre, de que tem uma tendência maior a estar envolvido em atividades criminosas acaba tendo impacto na forma como essas pessoas são abordadas”, explica. Esse é o reflexo do racismo enraizado no país, segundo Pacheco.

O estudo mostra também que não há transparência das informações: 11 estados brasileiros não divulgaram dados sobre raça das pessoas mortas pelas corporações.

Segundo o coordenador da Rede de Observatórios da Segurança da Bahia e co-fundador da Iniciativa Negra Por Uma Nova Política Sobre Drogas, Dudu Ribeiro, a falta dessas informações impede a criação de políticas públicas eficientes na área de segurança pública.

“Essa falta de transparência é parte do projeto de distribuição de morte, enquanto operação conduzida pelo Estado. É a partir da não produção de dados qualificados e da falta de transparência que a gente tem mais dificuldade de encontrar saídas e políticas públicas. Isso também representa um processo desumanizador de nossas comunidades devido à falta de prioridade no orçamento público”.

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