Nos últimos anos, a conscientização sobre sustentabilidade ambiental e mudanças climáticas aumentou enormemente, e a questão da energia se tornou um tema central do debate político em muitos países. A súbita emergência de saúde da Covid-19 corre o risco de desacelerar essa tendência. Mas, por outro lado, também representa uma grande oportunidade para acelerar a transição para a green economy, a economia verde.
Nos Estados Unidos, a energia foi um dos temas centrais da campanha eleitoral presidencial. Donald Trump defendeu o petróleo e o gás de xisto, cujo boom, nos últimos anos, criou muitos empregos, permitindo aos Estados Unidos alcançar a independência energética, rotulando as fontes alternativas de custosas e não confiáveis. Joe Biden, vencedor das eleições, apoiou a necessidade de planejar a transição energética de fontes fósseis para renováveis, concluindo-a até 2050.
Na União Europeia, o pacote Green New Deal, lançado em dezembro de 2019, estabelece metas rígidas para reduzir as emissões – em linha com as metas da ONU e do Acordo de Paris – e limitar o aquecimento global a +1,5°C, em comparação com o período pré-industrial entre a atualidade e o ano 2050. O projeto é ambicioso porque diz respeito não apenas ao setor de energia, mas também a infraestrutura, planejamento urbano, transporte e gestão de resíduos.
A revisão da Rede Transeuropeia – nascida na década de 1980 para apoiar o mercado único, através do desenvolvimento de infraestruturas integradas de transportes, telecomunicações e energia – foi lançada no sentido de alargar os seus objetivos, por exemplo, prevendo a criação de redes digitalizadas para o hidrogênio, captura de carbono e armazenamento de energia.
E para o biênio 2020-22, estão previstas iniciativas que vão desde a progressiva descarbonização das fontes de energia até a construção de cidades mais sustentáveis, desde a introdução de meios de transporte, menos poluentes, até o maior uso de materiais reciclados.
Projetos verdes não faltam, mas, para serem bem-sucedidos, eles devem ter sentido econômico e reunir consenso político. Isso requer a disponibilidade de recursos financeiros e a escolha de ferramentas políticas adequadas.
A emergência de saúde, causada pela Covid-19, pode representar uma oportunidade para a transição energética, especialmente devido à possibilidade de alocar recursos financeiros substanciais.
A disponibilidade de recursos é importante, mas assim também é a escolha das ferramentas adotadas pelos formuladores de políticas, para conciliar crescimento e sustentabilidade ambiental. O leque de intervenções possíveis é muito amplo. Em algumas situações, são necessárias regras claras, que proíbam comportamentos insustentáveis e prevejam, em caso de não cumprimento, sanções pesadas e determinadas.
A alternativa, em vez de sancionar, é taxar as externalidades negativas, por exemplo, introduzindo um imposto sobre o carbono, que afeta as fontes de energia que emitem dióxido de carbono. Em outras circunstâncias, pode ser mais eficaz promover a conversão dos ciclos de produção e recompensar economicamente os países que reduzirem as emissões, dentro do prazo exigido.
Edoardo Pacelli
Jornalista, ex-diretor de pesquisa do CNR (Itália), é editor da revista Italiamiga.