Crédito para capital de giro e adiar impostos não significa anistia.

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A maioria das startups e boa parte das micro, pequenas e médias empresas brasileiras estão passando pela primeira experiência com uma crise financeira de proporções globais com a pandemia do Covid-19.

Tais estabelecimentos, geralmente familiares, não têm estrutura para aguentar semanas ou meses com demanda reduzida ou quase zero, como é o caso de bares e restaurantes. Isso não quer dizer, entretanto, que tenham problemas financeiros estruturais, mas sim que precisam de caixa para fechar as contas durante este período”, diz o diretor da Neurotech, empresa especializada na aplicação de inteligência artificial para novos negócios, Breno Costa.

Especialistas afirmam que apesar da grande apreensão, o momento também serve para tirar aprendizados que serão úteis inclusive para a fase da calmaria que virá quando todo o problema já estiver resolvido, lembra o executivo.

Na opinião de Breno Costa, a hora é de reajuste nas finanças. “A forte queda da demanda e, por consequência das receitas, além da adequação nos custos, imporá aos microempresários a renegociação com fornecedores e busca por linha de crédito. Neste caso, será preciso avaliar se o valor do empréstimo e seu prazo de pagamento serão suficientes para solucionar o descasamento de caixa ou se aumentarão o problema futuro”, destaca.

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Breno Costa acredita que a postura das instituições financeiras demonstra que o momento é de consciência social, ou seja, não deve ocorrer um forte enxugamento da oferta de crédito. Em março entrou em vigor as alterações nas regras dos depósitos compulsórios. Segundo a estimativa do Bacen, as medidas têm potencial de injetar R$ 135 bilhões no mercado, porém isso dependerá das instituições financeiras. Mas ainda assim é preciso avançar e aí as fintechs poderão desempenhar um papel importante.

 

Startups financeiras

 

Embora ainda limitadas por uma capacidade de funding reduzida, baseada fortemente em Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), as startups financeiras têm utilizado tecnologias inovadoras e modelos de negócios mais flexíveis que as tornam capazes de levar a concessão de crédito de uma forma mais abrangente para as pequenas e médias empresas (PMEs).

Segundo pesquisa realizada pelo Sebrae em parceria com a Associação Brasileira de Fintechs, a ABFintechs, na metade das fintechs brasileiras pelo menos 30% dos clientes são formados por pequenos negócios, sendo que em 40% dos casos as MPE são maioria na carteira de clientes.

O sócio da DOC Concierge, empresa especializada em soluções financeiras para a classe médica, Renato Marques afirma que empresas como clínicas, consultórios médicos, pequenos prestadores de serviço e toda as atividades que depende do atendimento ao público precisam ainda revisitar todos os custos e despesas recorrentes o mais rápido possível, pois a receita, com certeza, não será a mesma nos próximos meses.

Segundo ele, a reestruturação financeira deste tipo de atividade passará pelo aproveitamento das ofertas de socorro oferecidas pelo governo como o adiamento do pagamento do Simples Nacional (para empresas que usam este modelo tributário). Ele explica que o fisco permitirá que as parcelas de abril, maio e junho sejam pagas somente em outubro, novembro e dezembro como forma de ampliar o prazo de recuperação para as empresas.

O mesmo pode acontecer com o Imposto de Renda (IR) pois o governo, embora ainda não tenha confirmado, já sinalizou com a possibilidade de adiar o prazo aumentando o fôlego para aqueles que pagam este imposto. Existe ainda a possibilidade de um adiamento nos depósitos do FGTS dos funcionários. Os maiores bancos do país também estão anunciando condições especiais para adiar o pagamento de compromissos.

Apesar de ganhar fôlego com esses instrumentos, o empreendedor deve ficar atento para o fato de que não se trata de anistia e sim de adiamento. Então significa que ele terá que pagar estes valores e precisa se preparar para isso”, diz.

No entendimento do especialista, a crise será uma oportunidade para os empresários e para as pessoas físicas avaliarem seus gastos e perceberem a relevância dos seus investimentos. Marques chama a atenção para dados que dão conta de que até fevereiro cerca de 90% das empresas de pequeno porte tinham capital de giro para seu dia a dia, mas não um colchão de liquidez para se proteger. Essa situação se repete no que se refere à relação entre receita e gastos pessoais.

Esse grande susto ensinará sobre o benefício de um comportamento mais precavido quando as coisas estão indo bem. Imprevistos sempre acontecem. Seja uma pandemia ou um simples acidente pessoal, mas para os dois casos é preciso estar preparado”, afirma.

 

 

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