Cresce emprego sem renda

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Desde 2013, o Brasil não criava tantas vagas de emprego. Segundo os do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), foram criados 644.079 postos com carteira assinada no ano passado. Olhando somente para o dado segregado, é possível afirmar que o primeiro ano do Governo Bolsonaro é de retomada do crescimento e reversão do quadro negativo que assolou a economia durante os últimos anos. Mas somente um número não diz nada. É preciso analisar o todo.

Primeiro, dizer que a quantidade de postos gerados é a melhor desde 2013 não é muita coisa, pois pode-se estabelecer 2014 como o primeiro ano da crise econômica brasileira, quando o PIB ficou praticamente estagnado. Antes da revisão do dado, o IBGE divulgou que o incremento foi de 0,1% no produto. Após a inserção de novos dados, mais amplos e detalhados, além de atualizações metodológica, o “salto” econômico revisado ficou em 0,5%. Neste ano, o Brasil criou 396.993 empregos formais (dados do Caged).

O incremento antecede os dois sucessivos vales em que a economia brasileira se afundou. Queda de 3,5% em 2015 e de 3,3% em 2016 e menos 1,54 milhão e 1,3 milhão de vagas formais, respectivamente. Em 2017, houve uma melhora, com alta de 1%, mas ainda 20 mil vagas perdidas. Já e em 2018, a economia sobe 1,1% e aí vem a criação de 529.554 postos de trabalho com carteira assinada. A estimativa é de que 2019 siga no mesmo patamar, ao redor do 1%, de novo e chegamos às 644.079 vagas.

Ao analisar o histórico dos últimos anos, é possível chegar a algumas conclusões. Crescer em cima de dados ruins não é tão difícil. Outra questão é que o emprego é o último indicador econômico a demonstrar recuperação após uma crise. A reversão começou em 2018, o que leva à continuidade em 2019 e, caso o cenário atual permaneça, 2020 pode ser ainda melhor.

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Em terceiro, a recuperação dos postos de trabalho nos últimos dois anos (1.173.633) é insuficiente para cobrir as perdas de 2016 e 2017 (1.320.000) e se somarmos as de 2015, o que eleva o número de vagas fechadas para 2.860.000, o saldo negativo dos últimos cinco anos é de 1.686.367. Da mesma forma que o crescimento do PIB dos últimos três anos foi insuficiente para cobrir as perdas, o aumento dos postos de trabalho também.

Deve ser levada em consideração ainda a qualidade dos postos de trabalho formais gerados. De acordo com o Caged, das 644 mil vagas criadas em 2019, 16,5%, ou 106 mil, foram abertas nas modalidades de trabalho intermitente ou de regime de tempo parcial. O trabalho intermitente gerou saldo de 85.716 empregos em 2019, contra 50 mil vagas no ano anterior. Já o regime de tempo parcial criou 20.360, pouco abaixo de 2018 (21,4 mil).

Estes dois tipos de emprego foram impulsionados pela Reforma Trabalhista ao final de 2017 e, ao mesmo tempo que estimulam o aumento das vagas, representam a precarização das relações. No primeiro caso (intermitente), o empregado ganha por hora trabalhada e não há garantia de jornada ou remuneração mínima por mês. Já o no segundo caso (parcial) as jornadas podem ser de até 30 horas semanais.

Outra questão é que há uma diferença entre renda e carteira assinada. O Dieese demonstrou isso claramente ao analisar os dados de emprego em 2018. Os dados obtidos pelo departamento mostram que em 43% dos vínculos intermitentes, os trabalhadores obtiveram remuneração abaixo de um salário mínimo em dezembro daquele ano, e outros 11% não ganharam nada.

O que se vê no Brasil é a precarização das relações de trabalho que, junto com uma reforma da Previdência, retira renda do trabalhador. Não adianta comemorar o dado cru, é preciso que a economia cresça muito acima do registrado nos últimos anos para que ocorra a efetiva recuperação do emprego formal e dos salários. Sem renda fica difícil.

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