Taxas de juros mais altas estão elevando os custos do serviço da dívida para os países em desenvolvimento. Na Índia, os pagamentos adicionais de juros representam 8,7% do total das despesas do governo, 1 ponto percentual a mais do que a parcela da educação no orçamento total em 2020. No Brasil, Indonésia e África do Sul, o aumento nos pagamentos de juros representaria cerca de 6% a 7% das despesas totais, calcula a Organização das Nações Unidas (ONU) no relatório Situação Econômica Mundial e Perspectivas 2023.
No Brasil, pagamentos de juros sobre a dívida do governo central representam cerca de 23% das receitas fiscais, estima a ONU. Os cálculos das Nações Unidas não incluem a rolagem da dívida. A taxa real brasileira (descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses) é de 8,16%, quase 3 pontos superior à do segundo colocado (México, com 5,39%), de acordo com cálculos da Infinity Asset.
O resultado é um crescimento fraco na economia. A ONU projeta uma alta de 0,9% do Produto Interno Bruto (PIB, expressão do tamanho da economia) em 2023 e 2% em 2024. Ambos os percentuais são inferiores à previsão para os países em desenvolvimento (3,9% e 4,1%, respectivamente) e mesmo da média mundial (1,9% este ano e 2,7% em 2024).
O crescimento da produção mundial estimado para 2022 é de 3%. A projeção para 2023 marca uma das taxas de crescimento mais baixas nas últimas décadas, de acordo com a ONU. Nos Estados Unidos, o PIB deverá crescer apenas 0,4% em 2023, após alta estimada de 1,8% em 2022, disse o relatório. O crescimento econômico da China deve acelerar para 4,8% em 2023.
Em 2022, o número de pessoas que enfrentam insegurança alimentar aguda mais que dobrou em relação a 2019, chegando a quase 350 milhões. Um período prolongado de fraqueza econômica e crescimento lento da renda não apenas prejudicaria a erradicação da pobreza, mas também restringiria a capacidade dos países de investir nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável de 2030 de forma mais ampla, enfatizou o relatório.
“Não é hora para raciocínio de curto prazo ou austeridade fiscal irrefletida, que exacerbe a desigualdade, aumente o sofrimento e coloque os ODS fora de alcance. São tempos sem precedentes, que demandam ações sem precedentes”, afirmou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.
Segundo ele, “esta ação inclui pacote de estímulo transformador dos ODS, gerado através de esforços coletivos e organizados de todos os atores envolvidos.”
Lenta recuperação no mercado de trabalho
Em meio a alta inflacionária, agressivo aperto monetário e crescimento de incertezas, a recessão atual tem diminuído o ritmo da recuperação econômica da crise da Covid-19, ameaçando diversos países – desenvolvidos e em desenvolvimento – com previsão de recessão em 2023. O impulso de crescimento diminuiu significativamente nos EUA, União Europeia e outras economias desenvolvidas em 2022, impactando de maneira adversa o restante da economia global através de diversos meios.
Restrições das condições financeiras globais, aliadas ao fortalecimento do dólar, exacerbaram as vulnerabilidades fiscais e a dívida dos países em desenvolvimento. Mais de 85 bancos centrais de todo o mundo ajustaram a política monetária e aumentaram as taxas de juros seguidas vezes em 2021, para domar as pressões inflacionárias e evitar a recessão. A inflação global, que alcançou uma alta de cerca de 9% em 2022, está projetada para cair mas ainda se manter em elevados 6,5% em 2023.
A maioria dos países em desenvolvimento tem visto uma lenta recuperação no mercado de trabalho em 2022 e continuará a enfrentar um cenário consideravelmente fraco. As perdas desproporcionais de empregos das mulheres durante o início da pandemia ainda não foram completamente revertidas, com recuperação em trabalhos informais.
De acordo com o relatório, o crescimento lento, a inflação elevada e a vulnerabilidade de dívidas ameaçam retardar conquistas de desenvolvimento sustentável, aprofundando os já negativos efeitos da crise atual. Ainda em 2022, o número de pessoas sofrendo de grave insegurança alimentar mais do que dobrou em comparação a 2019, alcançando quase 350 milhões. Um período prolongado de fragilidade econômica e lento crescimento de renda irá não apenas dificultar a erradicação da pobreza como também limitar a capacidade dos países em investir nos ODS de maneira mais ampla.
O relatório pede que os governos evitem austeridade fiscal que possa reprimir crescimento e afetar desproporcionalmente os grupos mais vulneráveis, afetar o progresso da igualdade de gênero e travar perspectiva de desenvolvimento através de gerações. O documento recomenda a realocação e nova priorização de gastos públicos através de políticas intervencionistas diretas que criem postos de trabalho e revigorem o crescimento. Isto irá exigir o fortalecimento de sistemas de proteção social, garantindo apoio continuado para subsídios temporários e específicos, transferência de recursos e descontos em tarifas de serviços, que podem ser complementadas com reduções nas taxas de consumo ou em impostos aduaneiros.
Matéria atualizada às 21h20 para inclusão de dados sobre a economia brasileira