Criação de 400 mil empregos esconde mudança na coleta de dados

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Carteira de trabalho (Foto: Marcello Casal Jr./ABr)
Carteira de trabalho (foto de Marcello Casal Jr., ABr)

O Brasil assistiu à criação de 401.639 vagas com carteira assinada em fevereiro, saldo de 1.694.604 admissões e de 1.292.965 desligamentos de empregos com carteira assinada. Somado ao resultado de janeiro, são 659.870 empregos este ano.

Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (o novo Caged) e foram motivo de comemoração do ministro da Economia, Paulo Guedes, que falou em maior resultado para o mês na história. Mas como isso pode ter ocorrido se a economia patina?

Em primeiro lugar porque, ao contrário do que Guedes disse, os dados de 2020 e 2021 não podem ser comparados com o “antigo” Caged. O sistema foi substituído em 2019 pelo Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas – vulgo eSocial. E os dois trabalham com dados diferentes.

Nota técnica da Secretaria de Trabalho do Ministério da Economia, de maio de 2020, detalha as diferenças. Entre as mudanças, a declaração dos vínculos temporários no Caged era opcional, enquanto no eSocial é obrigatória. “Assim, o volume de movimentações no eSocial, na média, tende a ser superior àquelas verificadas historicamente no Caged, uma vez que neste sistema, além dos vínculos temporários serem subdeclarados, não é possível discernir esse vínculo dos demais”, assinala a nota.

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Outra alteração é que, enquanto o “antigo” Caged registrava basicamente empregados contratados por empregadores, pessoa física ou jurídica, sob o regime da CLT, o eSocial inclui trabalhadores avulsos, agentes públicos, trabalhadores cedidos e dirigentes sindicais e contribuintes individuais.

Nas simulações feitas pela Secretaria do Trabalho comparando os dois modelos, há uma tendência de o novo sistema apresentar mais contratações (acréscimo de até 100 mil por mês) e menos demissões (em torno de 50 mil). Ajustes feitos, usando outras bases de dados, reduziram a diferença, mas não permitem comparar os números anteriores a 2020 com os atuais.

O salário médio de admissão em janeiro ficou em R$ 1.727,04, menor que em com janeiro de 2021 (-2,7%) e que em fevereiro de 2020 (-3,8%).

O estoque de empregos formais alcançou 40.022.748 em fevereiro. No melhor momento, em 2015, era de 41.124.735 vagas com carteira.

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