Criatividade em equipe nas escolas de samba!

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Empresas e organizações, sempre criativas ao longo de sua história individual, perseguem taxas cada vez mais elevadas de criatividade, que provoquem aumentos de produtividade e portanto de resultado financeiro, seu instrumento de medida. Seria inconcebível o nível de progresso atual se a criatividade humana não fosse a constante de nossa História.
Portanto é natural que administradores de empresa, dos mais diferentes perfis, busquem incessantemente ampliar o potencial criativo de seus quadros, com o objetivo precípuo de registrar aumentos de produtividade e de lucros.
O desafio tem sido sempre como pavimentar o caminho que conduza uma determinada equipe empresarial a superar os naturais conftitos individuais e subjacentes a cada grupo humano de modo a engajá-lo nesta rota de criatividade. Prazerosa até, em muitos casos.
Teóricos da criatividade, advindos do exterior, têm proposto alternativas que pouco seduzem uma sociedade emergente como a nossa, carente de tempo e mesmo de mão-de-obra disponível para se dedicar exclusivamente ao tema. Não podemos conceber que pessoas mais propensas à criatividade, nas empresas e nas organizações, possam dispor de um largo período de tempo para pouco ou nada fazer, enquanto as idéias se gestariam em suas mentes “privilegiadas” para finalmente serem submetidas ao calor da análise e do consumo de todo um grupo.
O carnaval que se aproxima, com suas escolas de samba, um modelo tipicamente brasileiro dos muitos que já existem, tem muito a ensinar sobre criatividade em equipe, na medida em que cada grande escola dá um show de organização empresarial voltada para o espetáculo de seu desfile, “ópera popular” delirantemente criativa.
Já em 1996, abordei o tema, publicando artigos sobre a criatividade nas escolas de samba, nas revistas Tendências do Trabalho, da Editora Suma, e na Parceria em Qualidade, da Qualimark Editora. Os conceitos básicos que ali abordei envolviam este, o de “opera popular”, o único capaz de expressar o gênero do espetáculo, além de outros como sua “fugacidade”, um imenso trabalho de pelo menos 10 meses para consumo em 80 – oitenta! – minutos, ainda o de sua “criatividade tipicamente nacional”, nada devendo a modelos importados e o de sua “força de expansão” como referência, a partir do Rio de Janeiro para diversas cidades do país, que hoje o adotam.
E, por fim, conceitos sócio-políticos como o fenômeno da “massa crítica” emergente capaz de colocar uma escola no ar, e o da “motivação” da equipe, pulsão que contagia os 3 a 4 mil participantes de cada uma de dezenas de escolas, apenas por prazer.
Culminando todo este processo de reflexão, mencionava ainda a figura do “carnavalesco”, um misto de diretor de produção e de criação, a catalisar sobre si a qualidade do espetáculo, num processo evolutivo de tal sorte que forçou os críticos do Estandarte de Ouro de O Globo, especializados na análise das escolas de samba desde 1972, a introduzirem a categoria “Personalidades” em 1988 aliada a de “Prêmios Especiais” para abrigarem igualmente “carnavalescos” excepcionais em seu potencial criativo como Fernando Pinto em 1985 e Joãozinho Trinta em 1986, um verdadeiro revolucionário deste espetáculo puramente brasileiro.
Espetáculo que nos permite acreditar que existe no país a criatividade em equipe de que precisamos para reconstruí-lo após o desastre neoliberal do FHC.
Quando o ex-reitor Carlos Lessa buscou criar o bloco carnavalesco Minerva Assanhada, na UFRJ, ele, um conhecedor da cultura carioca e de sua expressão sintética da cultura brasileira, pretendia abrir o espaço acadêmico para uma reflexão sobre o tema, que está a merecer mais do que nunca, monografias que o registrem e o interpretem, sobretudo no que se refere à criatividade em equipe explícita e manifesta no trabalho de cada escola de samba, desde a escolha do enredo, passando pelo barracão até sua chegada na avenida para o tão sonhado desfile.
Centenas de executivos brasileiros, das mais diferentes atividades, participam de escolas de samba. Cabe-lhes levar tal experiência criativa para seus ambientes de trabalho, incrementando-lhes o potencial criativo, a partir do exemplo deste paradigma brasileiro presente nas escolas, e de fácil entendimento e leitura, qual seja, a do exercício da criatividade com emoção e prazer, com baixa dose de conflitos interpessoais e até mesmo sem a preocupação, legítima, da remuneração.
A reflexão sobre a criatividade em equipe manifesta nas escolas de samba auxiliou-me na compreensão do tema e nas leis possíveis para colocá-la em ação junto a um grupo específico, como pude expressar no vídeo-texto Criatividade em Equipe e suas leis de marketing, editado pela Suma Econômica.
Temos uma vocação natural em nosso país para o carnaval e para a festa, por força tanto de nossas raízes culturais quanto de nossa situação geográfica e climática, a nos empurrar à vida participativa ao ar livre durante todo o ano, em virtude da agradabilidade do clima, este um artigo de exportação sob a forma do turismo. A Espanha, com muito menos sol do que o Brasil, transformou-se, com seu calor humano e sua cultura festiva num grande destino turístico para toda a Europa, fonte inexorável de dólares em seu balanço de pagamentos, dólares que o Brasil igualmente precisa e que o carnaval cada vez mais ajuda a trazer.
A terrível dívida que FHC e sua equipe nos legaram, tanto externa quanto interna, só serão superadas com muita criatividade, um fundamento que o próprio presidente Lula tem invocado para que se estabeleçam novos rumos ao país. O nosso carnaval, de há muito “sem medo de ser feliz”, tem escrito sua história de sucesso com o manejo contínuo da criatividade, indicando ser esta uma característica do brasileiro.
Pois com ela, com a criatividade que nos impulsiona a todos, é que haveremos de contar para reconstruir o país, tornando-o mais humano e mais feliz.

Paulo Guilherme Hostin Sämy
Autor de Criatividade em Equipe (Edit. Suma Econômica), é ex-conselheiro da Associação Brasileira dos Analistas do Mercado de Capitais (Abamec-Rio).

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