Criptomoedas: avaliações sobre o 1º semestre e perspectivas para o 2º

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Beibei Liu, Felipe Escudero e Paulo Boghosian (fotos divulgação)
Beibei Liu, Felipe Escudero e Paulo Boghosian (fotos divulgação)

Ao contrário das expectativas do início do ano, as principais criptomoedas do mercado fecharam o semestre com fortes desvalorizações: bitcoin, 57%, e ethereum, 71%. Conversamos com três especialistas sobre o que aconteceu com o mercado que levou a essas fortes desvalorizações e como o mercado deve se comportar no segundo semestre.

Beibei Liu (foto divulgação NovaDAX)

Beibei Liu, CEO da NovaDAX

Realmente, começamos 2022 com boas expectativas em relação às principais criptomoedas. Havia um certo otimismo de crescimento econômico mais acelerado após anos de pandemia, porém, fatores como a guerra na Ucrânia e o clima econômico global minaram parte desse otimismo.

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Em alguns países como os Estados Unidos, existe um risco crescente de recessão. A inflação e os juros estão subindo, o que afeta o custo de vida. Muitos investidores estão focando em ativos mais tradicionais como ouro e petróleo.

Quanto ao bitcoin, era esperada uma queda em seu valor, já que em 2021 a moeda chegou ao auge, perto de US$ 70 mil, portanto, além dos fatores sociais e econômicos, um ajuste natural de valor era dado como certo.

Em relação ao segundo semestre, eu estou moderadamente otimista já que certos fatores continuarão afetando o mercado, como a guerra e flutuações políticas e sociais. Devido à queda do BTC e do ETH no primeiro semestre, acredito que haverá sim uma valorização delas nos próximos meses, porém os aportes nessas criptos precisam ser realizados de forma consciente e fracionada devido ao momento por elas enfrentado.

O Real Digital, que já tem uma estrutura de como será montado, deve ter um piloto no segundo semestre, o que deve movimentar o mercado e causar mais interesse de investidores. Além disso, estamos acompanhando com grande interesse a votação do marco legal dos criptoativos na Câmara dos Deputados, que deve acontecer ainda em julho. Ter uma regulamentação no Brasil permite que as exchanges ofereçam maior segurança às operações dos investidores em um ambiente controlado e com leis mais claras.

Felipe Escudero (foto divulgação Canal BitNada)

Felipe Escudero, analista do Canal BitNada no Youtube

O ano de 2022 está sendo um ano de realização de lucros no mercado cripto. Durante 2020 e 2021, acompanhamos uma valorização de mais de 1.600% no bitcoin, saindo de US$ 3,8 mil para US$ 69 mil, e de incríveis 5.300% de valorização para o ether – token da rede Ethereum – no mesmo período, saindo de US$ 90 para US$ 4,8 mil.

Já era esperada uma reversão nessa euforia. Muitos “turistas” vieram para o mercado de criptoativos com a sensação de lucros exponenciais ou riqueza instantânea, sendo que nós já vimos em ciclos passados de alta e queda que essas valorizações acima da média não se sustentam.

Em 2018, por exemplo, o bitcoin teve uma retração de 84% em 12 meses, vendo seu topo histórico de preço na época baixar de US$ 20 mil para US$ 3,2 mil de forma abrupta. No mesmo período, o ether teve uma desvalorização de 93%.

As criptomoedas são extremamente voláteis. Ao mesmo passo que sobem muito em ciclos de alta, também têm fortes quedas nos ciclos de baixa.

Quando olhamos para o cenário global, com inflação subindo em todo o globo e, consequentemente, juros aumentando, nós percebemos que o apetite ao risco diminui. O investidor hoje no Brasil já encontra produtos de renda fixa pagando 14%, 15% ao ano. Esse investidor olha para o mercado cripto em queda livre e não pensa duas vezes em alocar seus recursos em algo com muito menos volatilidade.

Adicionamos ainda uma incerteza global por conta da guerra que acontece entre Rússia e Ucrânia, e entendemos porque o mercado de cripto está em um ciclo de baixa, comumente chamado de “inverno cripto” pelos investidores de criptoativos.

Uma nova virada no mercado cripto só deve acontecer às vésperas do próximo halving do bitcoin, por volta de maio de 2024, quando a recompensa pela mineração cai pela metade, e o ativo entra em mais uma era de menor inflação. Até lá, seguimos aguardando.

Paulo Boghosian (foto divulgação TC Cripto)

Paulo Boghosian, co-head do TC Cripto

De fato, em 2021 o cenário era bastante positivo para cripto, mas nós tivemos uma série de mudanças no panorama que fizeram com que tivéssemos essas quedas.

Essas mudanças afetaram também o mercado de risco como um todo, como ações e outras classes de ativos, que sofreram com a retirada de liquidez feita pelo Fed e demais bancos centrais à medida que a inflação chegou a níveis que não eram previstos pelo mercado como um todo. Isso foi causado pelas políticas expansionistas dos bancos centrais durante a crise do Covid, mas também pelos choques de oferta causados pela guerra entre Rússia e Ucrânia.

Nesse cenário, nós vimos ações de tecnologia na Nasdaq caírem até 90%. Os criptoativos também caíram fortemente, sendo que o bitcoin caiu menos do que algumas ações de tecnologia.

Para os próximos meses, eu enxergo que o processo de recuperação do mercado cripto pode demorar mais do que a recuperação do crash do Covid (março de 2020), quando houve uma recuperação em V.

Na queda atual, o mercado descobriu players que operavam com uma alavancagem excessiva. Isso pôde ser visto à medida que os preços caíram bastante nos últimos 6 meses. Plataformas de empréstimos como Celsius e BlockFi estão com grandes rombos nos seus balanços. O Triarius Capital, um fundo que tinha mais de US$ 10 bilhões sob gestão, foi praticamente liquidado. Além disso, existe muita informação de bastidor de que outros fundos estão sendo liquidados. É difícil saber até onde vai esse contágio no setor porque ele envolve muitas instituições privadas cujos balanços não tem como ser acessados.

Houve um fator macroeconômico muito importante, mas também um fator microeconômico do mercado cripto operando de forma alavancada. O resultado disso foi muita venda forçada, pois à medida que esses fundos vão sendo liquidados, os ativos em cripto têm que ser vendidos a mercado. Recentemente, houve a informação de que a própria BlockFi teve que vender US$ 900 milhões de dólares em bitcoins. Essas vendas forçadas derrubam os preços.

Por outro lado, os principais indicadores on-chain indicam que compras com esses preços, para quem está visando o longo prazo, costumam ser recompensadas. Trata-se de um momento de cautela, e não de tomar alavancagem, mas se a tendência e os dados históricos nos servirem como base, nesses preços o investidor está comprando valor.

 

Coordenação: Jorge Priori

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