Crise na Argentina está afetando a economia brasileira

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O impacto do novo governo argentino na economia brasileira pode afetar segmentos comuns entre os dois países muito além das empresas binacionais. Tema abordado pelo pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas, Livio Ribeiro, a relação entre as duas potências do Mercosul acende um alerta para a possibilidade de a economia brasileira ser puxada para baixo, embora o Brasil esteja em movimento oposto ao do vizinho. O especialista ainda destaca que esse “puxão” é oriundo não só de manufaturados destinados ao consumidor final, mas também pela indústria de insumos e de bens intermediários. A justificativa é que embora sejam duas indústrias, na prática funcionam como quase uma só, ou seja, uma espécie de parto fabril, dividido nos dois territórios, como ocorre na indústria automotiva, vestuário, bebidas, entre outros. Nestes, o ciclo econômico está muito interligado, na relação da ordem de 75% a 80% e, de fato, quando uma cai, a outra também. E vice-versa.

O pesquisador ainda traçou um panorama da Argentina desde o primeiro governo Macri até os dias atuais e diz acreditar que o ex-presidente não conseguiria apresentar um quadro diferente naquele país.

É preciso separar o discurso liberal do fato. O Macri do início de governo é bem diferente daquele do fim, que promoveu congelamento de preços, subsídios populistas e controle cambial, ao passo que no começo do governo teve ações positivas com mais abertura de mercado. Só que a situação apertou”, concluiu ao Bate-Papo FGV.

Luana Miranda, também pesquisadora do Ibre, lembra que a indústria brasileira enfrenta um ciclo de reversão da tendência positiva iniciada a partir do fim da última recessão. O processo teria se iniciado em meados de 2018 e enfrentado uma série de choques conjunturais no período recente. Entre eles, destacam-se o início de uma profunda recessão na Argentina, a greve dos caminhoneiros, elevada incerteza política originada pelas eleições presidenciais em 2018, guerra comercial entre EUA e China, o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho e o enfraquecimento do crescimento global.

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Uma parcela importante da desaceleração da indústria brasileira pode ser creditada à crise argentina, afinal há uma integração importante entre as cadeias produtivas dos dois países no setor manufatureiro. Aproximadamente, 36% das exportações brasileiras para a Argentina foram compostas por insumos industriais, outros 21% por peças e equipamentos de transporte e apenas 20% por automóveis para passageiros”, destaca.

A pesquisadora acrescentou ainda que de 2017 para 2019, houve uma redução da participação dos automóveis na pauta de exportações do Brasil para a Argentina. A queda no período foi de 27% para 20%

 

OCDE: coronavírus derrubará crescimento global

Embora uma crise econômica global para este ano já fosse prevista há algum tempo, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) reduziu a expectativa de crescimento da economia mundial diante do surto de coronavírus e seu impacto na China, país mais atingido pelo novo vírus. A entidade prevê agora uma expansão de 2,4% no Produto Interno Bruto (PIB), nível mais baixo desde 2009, ante 2,9% da previsão anterior, que já estava enfraquecida pelas tensões comerciais e políticas.

A economia global enfrenta a ameaça mais grave desde a crise financeira [de 2008 e 2009], à medida que o coronavírus se espalha”, informou a OCDE. A previsão é que a recuperação venha já em 2021, com crescimento de 3,3%. Em 2019, o PIB mundial teve expansão de 2,9%.

Contudo, a OCDE alerta que o índice pode ser de apenas 1,5% – a metade da previsão anterior – se surto não for controlado. OMC também espera impacto “substancial” na economia. Nessa hipótese, o comércio mundial apresentaria uma contração de 3,75%.

A perspectiva de crescimento para a China caiu de 5,7% para 4,9% em 2020. Para 2021, entretanto, o PIB chinês deve crescer 6,4%. Em 2019, a economia do país teve expansão de 6,1%. Em países como Japão, Coreia e Austrália o crescimento terá uma recuperação difícil e gradual.

Em outras economias o impacto é menos severo, segundo o relatório, mas ainda atingidas pela queda na confiança e na interrupção da cadeia de suprimentos. De acordo com a OCDE, para o Brasil, a previsão de crescimento do PIB se mantém em 1,7% para este ano. No ano passado, a economia do país cresceu 1,1%.

Em relatório divulgado nesta segunda-feira, a organização pede que os governos ajam imediatamente para limitar a disseminação do coronavírus, fortalecer o sistema de saúde, proteger pessoas e empresas de seus efeitos e aumentar a demanda na economia.

Mesmo no melhor cenário de surtos limitados em países fora da China, espera-se uma forte desaceleração do crescimento mundial no primeiro semestre de 2020, à medida que as cadeias de suprimentos e commodities são atingidas, o turismo cai e a confiança diminui”, alertou a OCDE em nota.

 

Presidente do BB: efeito temporário

O presidente do Banco do Brasil (BB), Rubem Novaes, declarou que a epidemia do Covid-19, o novo coronavírus, terá reflexos na economia brasileira, mas que o efeito será passageiro. Ele destacou que economistas do Banco Central e da equipe econômica do governo têm avaliado que o surto pode ter um impacto no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e dos serviços produzidos no país) da ordem de 0,5%.

Segundo o presidente do BB, a epidemia, que afeta diversos países, entre os quais China, Coreia do Sul, Itália, Estados Unidos e Brasil, é séria e vai paralisar algumas atividades, o que vai gerar problemas para determinados setores. “Mas isso é um fenômeno temporário, vai demorar três meses, quatro meses. Depois, a vida continua normalmente”, disse Novaes, em palestra na Associação Comercial do Rio de Janeiro. Para ele, está havendo "um certo excesso de pânico" em relação ao coronavírus.

Rubem Novaes comentou o resultado do PIB, que fechou o ano passado com crescimento de 1,1% frente a 2018. O resultado foi alcançado após a variação do quarto trimestre de 2019, que teve alta de 0,5% na comparação com o período anterior. Na comparação com o mesmo trimestre de 2018 houve elevação de 1,7%.Os números foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na quarta-feira (4).

As estatísticas mostram que o que puxou o PIB para baixo foi o setor de governo. As despesas de governo é que, caindo, puxam o PIB para baixo. Isso mostra que o governo está se ajustando. Uma contração das despesas públicas é algo necessário. O setor privado, a parte mais saudável da economia, mais eficiente, está crescendo acima de 2%”, afirmou o presidente do BB.

 

Exportação de carne de frango cresceu 10%

As exportações brasileiras de carne de frango cresceram 10% em volume em fevereiro em relação ao mesmo mês do ano passado, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (05) pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). O Brasil enviou ao exterior 348,4 mil toneladas do produto no mês passado. Em fevereiro de 2019 foram 316, 7 mil toneladas. O valor inclui carne in natura e processada.

Em valores, as exportações geraram US$ 553,8 milhões no último mês e também cresceram, mas em percentual menor que em volume: 5,2%. Em fevereiro do ano passado, elas estavam em US$ 526,4 milhões. Quando o aumento em volume é maior do que o crescimento da receita significa que os produtos foram exportados por preços menores.

No primeiro bimestre, a quantidade embarcada alcançou 672,2 mil toneladas, com crescimento de 12,3%. A receita avançou 10,5% e ficou em US$ 1,082 bilhão. A China respondeu por 17,5% do total exportado pelo Brasil em carne de frango em janeiro e fevereiro somados, com 115,2 mil toneladas, com crescimento substancial de 59%.

O presidente da ABPA, Francisco Turra, explicou que a extensão do ano novo chinês e as questões logísticas geradas pelo coronavírus não reduziram a demanda chinesa por carne de frango do Brasil. “Ao contrário, houve um impulso pouco comum para o período”, afirmou ele em nova divulgada pela associação.

 

Brasileiras fecham US$ 851 milhões na Gulfood

A Gulfood 2020, maior feira do setor de alimentos e bebidas do Oriente Médio, terminou com um bom balanço de negócios para as empresas brasileiras participantes: US$ 851 milhões em negociações imediatas e alinhavadas para os 12 meses subsequentes ao evento. O resultado contempla as empresas presentes nos pavilhões Nacional, Grãos, Bebidas, Carnes e Proteína Animal (cuja presença das empresas foi apoiada pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne – ABIEC –, e pela Associação Brasileira de Proteína Animal – ABPA –, respectivamente). Neste ano, o Brasil também esteve representado por empresas que foram à Gulfood junto à Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) para conhecer a feira e prospectar o mercado.

Além de atrair milhares de compradores do mundo, a Gulfood apresenta as principais tendências de mercado em alimentos e bebidas, mobilizando, em especial, formadores de opinião e mídia especializada do mercado arábico. Em 2018, as exportações brasileiras do agronegócio para o Oriente Médio representaram 7,39% (US$ 7,5 bilhões) do total exportado. Entre os 15 principais destinos, cinco foram países dessa região (Irã – US$ 2,18 bi; Arábia Saudita – US$ 1,78 bi; Egito – US$ 1,46 bi; Turquia – US$ 1,38 bi; e Emirados Árabes Unidos – US$ 1,36 bi).

Do total exportado em 2019, 90% contemplam os setores de carnes, complexo sucroalcooleiro, cereais e complexo soja, comprovando uma alta concentração nestes produtos e a necessidade de uma maior diversificação e apoio aos outros setores como café, frutas, alimentos industrializados, doces e bebidas, que fazem parte da estratégia da Apex-Brasil para o pavilhão Nacional.

Entre as vantagens apontadas pela Apex-Brasil para fazer negócios com o parceiro do Oriente Médio está a diversificação progressiva da economia do país, que vem reduzindo sua vulnerabilidade aos movimentos dos preços do petróleo em comparação com outros Estados do Golfo, o que dá mais segurança aos exportadores brasileiros para negociar com empresas baseadas no país. Individualmente, os Emirados Árabes Unidos saltaram da 22ª posição entre os principais compradores do Brasil em 2017 para o 15º lugar em 2019, com 1,34% de participação no total (US$ 1,35 bilhão).

 

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