Crises e conflitos do Século XXI

90

A maioria dos analistas dos setores especializados da ONU e pesquisadores universitários norte-americanos e europeus, ultimamente, tem lançado livros e artigos em revistas sobre o que consideram a maior crise que ameaça a humanidade neste século – o esgotamento das fontes primárias de petróleo e de água doce.
Em síntese, os professores Samuel Huntington, Michael Klare, Paul Kennedy, James Fallows e outros, avaliando as conseqüências do processo incontido “de crescimento demasiado da humanidade num planeta que não cresce”, concluem que estamos muito próximos de enfrentar crises alarmantes de carência de recursos naturais, particularmente petróleo e água, indispensáveis à estabilidade da vida da sociedade.
A população mundial passou de 1 bilhão de habitantes em meados do século XVIII, para 6,3 bilhões nos dias de hoje. Vieram habitar o mesmo planeta mais 5,3 bilhões de seres humanos em pouco mais de 200 anos, enquanto a sociedade levou milênios para alcançar o seu primeiro bilhão. Perigosa, se não catastrófica, taxa de aceleração que tem que ser contida.
A sociedade desenvolvida do Ocidente, a partir da invenção da máquina a vapor, vem incorporando ciclos sucessivos de progresso – industrialização, avanços extraordinários nos meios de transporte e de telecomunicações, utilização da eletrônica e da informática. Criou-se um modelo de sociedade consumista altamente dependente, para sua estabilidade social,  sua segurança e seu bem-estar, de quantidades cada vez mais elevadas de petróleo e água, produtos naturais, o primeiro esgotável e o segundo, em declinante degrau de escassez.
Segundo as avaliações de organismos internacionais mais abalizados, inclusive da ONU, no ano de 2025 as reservas de petróleo conhecidas já não mais terão capacidade de atender o aumento de demanda. Sua substituição por fontes de energia renováveis exigirão uma mudança demorada e muito dispendiosa nas estruturas de transportes, máquinas industriais e agrícolas e fontes de geração de energia existentes.
Nossa sociedade é altamente dependente do uso cada vez mais abrangente de água doce. Sua disponibilidade vem apresentando sensível diminuição, não somente devido a exigências de seu consumo pelo homem moderno, como também pela poluição das nascentes e cursos em virtude de seu uso inconsciente pelas empresas e pelas populações.
Os analistas internacionais consideram alarmantes os efeitos desta enorme crise previsível, de recursos naturais, sobre a estabilidade social, política e de segurança dos países mais desenvolvidos e, em conseqüência, a consideram a principal fonte de perigosos conflitos internacionais, estimulados, particularmente pelas três potências mais poderosas – Estados Unidos, Rússia e China – que darão a marca de turbulência ao corrente século.
O escritor e professor norte-americano Michael T Klare, no seu último livro,   Blood and Oil (2005), demonstra que a disputa política e militar pela apreciação e pela futura utilização das reservas disponíveis de petróleo do mundo, já está claramente lançada. Vê o autor, especialista no assunto e com várias obras publicadas, que atualmente o foco principal das disputas e conflitos são as cobiçadas reservas da Ásia Central e da região do Mar Cáspio.
Considera Michael Klare como prelúdio de um conflito prolongado pela conquista de novas fontes de petróleo, as atuais intervenções militares dos Estados Unidos no Afeganistão e no Iraque, a fracassada invasão da Rússia ao Afeganistão, o presente conflito na Chechênia e as pressões de Moscou para obrigar os norte-americanos a retirarem suas bases militares instaladas em repúblicas muçulmanas (ex-territórios da União Soviética) ao Norte do Afeganistão.
Na opinião de credenciados internacionalistas, o quadro geopolítico dos conflitos que surgirão até o fim deste século, além dos suscitados pelo terrorismo internacional, será o de tensões e guerras, entre países e grupos de prepostos das três maiores potências – Estados Unidos, Rússia e China – movidas principalmente pela conquista de reservas petrolíferas e garantia de suas vias de transportes. Não é esperado um choque militar direto entre essas grandes potências. Nem é previsto o desencadeamento de uma guerra nuclear, perdurando o receio da destruição recíproca, embora não se exclua a hipótese do emprego de pequenas bombas radioativas sujas por grupos terroristas.
Em síntese, o quadro visualizado por especialistas de renomado prestígio internacional, em suas prospectivas de crises e conflitos político-militares, mostra-se desanimador para aqueles que anseiam por um longo período de harmonia entre os povos, de paz e segurança. O mundo que se anuncia é de constantes crises e conflitos armados, tendo por leitmotiv, prioritariamente, a disputa pelo petróleo.
O Brasil, felizmente, não deve ser envolvido diretamente nessa luta dos grandes pelo petróleo, mas, possuidor do maior potencial potomográfico do mundo, deve se guardar e preparar-se para enfrentar a próxima crise internacional à vista – a luta pela conquista das fontes naturais de água doce.
Carlos de Meira Mattos
General reformado do Exército. Veterano da 2ª Guerra Mundial, doutor em ciência política e conselheiro da Escola Superior de Guerra.

Espaço Publicitáriocnseg

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui