Crises mudam realidades e escancaram oportunidades

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A pandemia de Covid-19 fez com que precisássemos adaptar diversas atividades cotidianas para respeitar o isolamento social e frear a disseminação da doença. Vimos crescer a adoção do trabalho remoto, o delivery e as videoconferências. O setor da educação não ficou imune às mudanças e, agora, completamos oito meses sem aulas presenciais, sendo que as perspectivas de retorno completo ainda estão incertas.

Apesar da situação, à primeira vista, caótica e das incertezas que nos rondam desde março, conseguimos aprender para não somente superar o agora, mas mirando o futuro. Crises, não à toa, mudam realidades: quando fazemos uma análise histórica e olhamos para o passado, vemos que esses momentos são, na realidade, oportunidades únicas para realizar grandes transformações.

No campo educacional, há muito falávamos da necessidade de se adotar novas tecnologias – ou da influência delas – mas era tudo muito moroso, difícil. A pandemia do coronavírus, contudo, fez com que, em semanas, avançássemos cinco anos, talvez até uma década, nesse sentido. Esse avanço foi marcado por um senso muito forte de colaboração.

As aulas se tornaram 100% digitais em questão de dias. Não foi tudo perfeito, mas não é a perfeição que almejamos. Muitos docentes e estudantes se abriram ao novo. A primeira lição disso tudo é que a dor ensina. O senso de urgência, afinal, une as pessoas em prol da resolução de um problema.

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Junto a isso, há que se falar da importância do diálogo, da empatia, de colocar-se no lugar do outro nesse tipo de situação tão atípica. O diálogo entre gestão, professores, estudantes e demais colaboradores se mostrou fundamental. Deve-se ouvir o outro lado, compreender o que pode dar certo. Reagir também envolve troca.

Outra lição está no fato de que professores não serão substituídos, simplesmente, pela tecnologia, mas por professores que usam a tecnologia. Há uma diferença imensa aqui. Acreditar que tudo será robotizado soa ingênuo. A pandemia pode ter modificado profundamente as relações, mas ainda somos seres humanos, seres sociais. O lado afetivo, o engajamento, a motivação… Muito disso ainda é resultado da relação entre as pessoas, da vivência, das trocas de experiência. Assim, a interação qualificada entre docentes e estudantes é indispensável para que se tenha uma formação de excelência.

A tecnologia, ao mesmo tempo, agrega muito a esse processo. Está claro, hoje, que teremos um futuro híbrido, no qual a tecnologia terá um importante papel, mas sem substituir as relações humanas.

É preciso, é claro, que o Poder Público pense em políticas sociais voltadas à inclusão digital. Mas não devemos nos prender a uma postura de sempre passar a solução do problema para o Estado. A transformação, enfim, deve partir de pessoas e organizações inovadoras e comprometidas com o progresso da sociedade, que, por sua natureza, estão dispostas a pagar o preço do protagonismo em contexto de extrema incerteza.

É chegado o momento no qual os protagonistas devem assumir seu papel. O que não se deve, porém, é cair na falácia de que não se pode avançar enquanto não houver uma completa igualdade – igualdade esta utópica em um país de dimensões continentais. Nessa seara, inclusão e avanço podem, muito bem, ocorrer de forma concomitante.

Vidal Martins

Vice-reitor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

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