Cristina depõe à Justiça argentina em processo de lavagem de dinheiro

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A ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner compareceu à Justiça nessa quarta-feira para depor em um processo que investiga a venda de contratos futuros de dólar a preços abaixo do mercado internacional, que teria causado um prejuízo aos cofres públicos equivalente a R$ 17 bilhões. Ela entregou sua defesa por escrito, acusou o atual governo de montar uma operação para prendê-la e discursou para milhares de simpatizantes que foram até o tribunal para apoiá-la.
– Podem me convocar 20 vezes. Podem me mandar prender, mas o que não vão conseguir é me calar e me impedir de dizer o que penso – disse Cristina.
O discurso público, feito de um palanque montado pelos simpatizantes da ex-presidente na porta do tribunal, durou quase duas horas e foi o primeiro desde a sua despedida da Casa Rosada, no dia 9 de dezembro.
Cristina deixou o governo sem passar a faixa presidencial ao sucessor Mauricio Macri. Ela viajou para a província de Santa Cruz, no extremo Sul da Argentina, no dia da posse do novo presidente e só voltou a Buenos Aires na segunda-feira, pela primeira vez em quatro meses.
No aeroporto, uma multidão com bandeiras e faixas esperava a sua chegada. Um pequeno grupo ficou de plantão, na porta do edifício do bairro nobre da Recoleta, onde a ex-presidente tem um apartamento, para saudá-la cada vez que saía de casa. Nem parecia que Cristina Kirchner tinha viajado a Buenos Aires a pedido da Justiça.
O juiz Claudio Bonadio está investigando contratos futuros de dólares, negociados meses antes do fim do segundo mandato de Cristina, a preços em média 42% abaixo da cotação no mercado internacional. Na época, ainda vigoravam os controles cambiais impostos pelo governo em 2011, para impedir a fuga de divisas. O Banco Central vendeu a moeda norte-americana prevendo que, no futuro, custaria cerca de 10 pesos (cifra próxima ao câmbio oficial), quando no mercado paralelo já tinha superado os 15 pesos.
No documento, a ex-presidente defendeu a política do seu ex-ministro da Economia Axel Kicillof (hoje deputado) e do ex-presidente do Banco Central argentino Alejandro Vanoli. Cristina Kirchner acusou o juiz Bonadio de abuso de poder. No discurso, ela convocou os militantes a se unirem contra o governo de Mauricio Macri.
Florencia Vicario, de 42 anos, viajou em ônibus fretado pela agrupação política dela, em Lomas de Zamorra – um município da província de Buenos Aires. Ela ficou presa no engarrafamento provocado por caravanas de carros e ônibus e por milhares de pessoas, caminhando na chuva, que aderiram à mobilização a favor de Cristina Kirchner.
– Não sei se (Cristina) roubou ou não. Não entendo de dólar futuro. Só sei que comprei minha casa no governo dela, que ajudou os mais humildes. E que Mauricio Macri guardou o dinheiro dele em paraísos fiscais, bem longe da Argentina – disse Florencia.
Macri apareceu no escândalo do Panama Papers como diretor da Fleg Trading – uma empresa da família aberta em 1998 para fazer investimentCristina Kirchneros no Brasil. A sociedade offshore foi dissolvida dez anos depois, mas não foi incluída nas declarações de bens de Macri quando ele era prefeito de Buenos Aires.
O presidente – que também apareceu como diretor na empresa offshore Kagemusha, sediada no Panamá – diz que nada tem a esconder. Macri afirmou que apresentou à Justiça documentos, provando que não era acionista da Fleg Trading e que, portanto, não era obrigado a declará-la, mas que ela consta da declaração do pai, o empresário Franco Macri.
Cristina, por sua vez, está sendo investigada pela Justiça em um caso de lavagem de dinheiro, envolvendo o empreiteiro Lazaro Baez. Ele enriqueceu nos governos do ex-presidente Nestor Kirchner (2003-2007) e de sua sucessora e esposa, Cristina (2007-2015), com contratos públicos – alguns deles não executados. Baez é suspeito de ser testa de ferro dos Cristina, que são donos de hotéis e imóveis no Sul da Argentina.
Depois de ouvir o depoimento de Leonador Farina – um dos envolvidos no caso, que pediu para fazer delação premiada – o Ministério Publico argentino pediu ao juiz que investigasse Cristina Kirchner.

Agência Brasil

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