Custo de vida diminui no trimestre; queda é maior para classes mais baixas

Dados são da Fecomércio-SP; já segundo CNC, intenção de consumo das famílias cai novamente, mas acesso ao crédito melhora

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Varejo na Rua 25 de março (Foto: Paulo Pinto/Fotos Públicas)
Varejo na Rua 25 de março (Foto: Paulo Pinto/Fotos Públicas)

Após um primeiro trimestre com preços inflacionados, o custo de vida desacelerou para as famílias da Região Metropolitana de São Paulo, sobretudo as de renda mais baixa. O índice geral da pesquisa Custo de Vida por Classe Social, da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP), mostra que, entre abril e junho, o custo de vida subiu 0,71%. No período finalizado em março, o avanço tinha sido de 0,97%.

Segundo a Fecomércio-SP, o resultado é positivo, porque traz fôlego para o orçamento das famílias em um contexto de mercado de trabalho aquecido e massa de renda elevada, ao mesmo tempo que permite o varejo se planejar no médio prazo com mais certezas no horizonte. Não é à toa que, pelos dados e diagnósticos elaborados pela entidade, as vendas estão em um patamar satisfatório na conjuntura paulistana.

É a segunda retração trimestral seguida, depois de o custo de vida subir 1,08% nos últimos três meses de 2023. Com esse resultado, o índice volta próximo ao patamar registrado entre junho e setembro do ano passado.

No recorte entre os estratos sociais, a classe E viu o custo de viver na Região Metropolitana de São Paulo subir 0,64%, taxa que foi de 0,59% para a D. Já para a classe A, o aumento foi mais significativo (0,94%).

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Isso aconteceu, principalmente, por causa de dois grupos de produtos e serviços: alimentos, bebidas e transportes. O primeiro subiu 1,13% para a classe A – mas apenas 0,3% para a E, por exemplo. A explicação está no fato de os preços dos itens de supermercado terem ficado mais controlados do que os custos de comer fora de casa, que pesam com mais força no orçamento das famílias das classes mais abastadas.

Já os transportes subiram 0,52%, para a classe A, e 0,2%, para a B, mas caíram 0,1%, para a classe E, e 0,47%, para a D. Neste caso, a manutenção do preço do combustível foi o grande responsável por esses números. Além disso, as passagens aéreas sofreram reajustes.

Dos nove grupos analisados na pesquisa, apenas um obteve variação negativa no segundo trimestre: o de artigos do lar (-0,58%). A alta mais expressiva foi observada nos itens de saúde (2,6%), o maior aumento em dois anos. Aqui, as classes mais baixas tiveram de lidar com elevação maior (3,03% para a E, contra 2,56% para a A).

Ainda segundo o apurado, medicamentos e produtos de higiene e beleza têm ficado muito mais caros do que os serviços ligados à saúde, impactando os lares mais dependentes de remédios.

A tendência, segundo a Fecomércio-SP, é que os preços continuem desacelerados nos supermercados, o que beneficia os estratos sociais mais baixos. Por outro lado, devem subir nos grupos de habitação e de transportes – o primeiro em razão do ajuste na bandeira tarifária da cobrança de energia elétrica (de verde para amarela), bem como pelos reajustes no gás de cozinha. Já o segundo, pela gasolina mais cara desde julho. Ainda assim, o poder de compra seguirá sendo um fator relevante para o contexto positivo da economia local.

O Custo de Vida por Classe Social, formado pelo Índice de Preços de Serviços (IPS) e pelo Índice de Preços do Varejo (IPV), utiliza informações da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE e contempla as cinco faixas de renda familiar (A, B, C, D e E) para avaliar os pesos e os efeitos da alta de preços na região metropolitana de São Paulo em 247 itens de consumo. A estrutura de ponderação é fixa e baseada na participação dos itens de consumo obtida pela POF de 2008/2009 para cada grupo de renda e para a média geral. O IPS avalia 66 itens de serviços, e o IPV, 181 produtos de consumo.

Já a Intenção de Consumo das Famílias (ICF), apurada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), recuou 0,1% em agosto. Essa queda, a segunda consecutiva no ano, é atribuída principalmente à piora na perspectiva profissional, que diminuiu 0,2%. No entanto, o resultado foi amenizado por um cenário mais favorável para o acesso ao crédito, que cresceu 0,6%. Apesar da redução, o indicador alcançou 102,2 pontos, permanecendo acima do nível de satisfação e atingindo o maior patamar desde maio deste ano.

A desaceleração do crescimento contínuo da geração de empregos levou a um recuo na percepção dos consumidores em relação ao emprego atual e à perspectiva profissional em julho. No entanto, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de julho mostrou um aumento do número de assalariados, com um saldo líquido superior ao de junho. Isso resultou em um crescimento de 0,4% no indicador que mede a satisfação com o emprego atual.

O subindicador que avalia o otimismo referente ao acesso ao crédito também teve um crescimento no mês, aumentando 0,6%. Apesar de a taxa Selic não ter sido reduzida nas duas últimas reuniões do Copom, as condições de crédito melhoraram em relação a períodos anteriores. O momento desafiador no mercado de crédito foi capturado na Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), que mostrou que os consumidores precisam equilibrar seu alto endividamento com o controle da inadimplência. No entanto, o resultado de julho da Peic foi mais ameno, com uma redução do percentual de famílias que não terão condições de amortizar sua inadimplência. Esse fator também influenciou o aumento do indicador que mede a avaliação dos consumidores sobre o momento para compra de bens duráveis, pois a redução da inadimplência torna o mercado de crédito mais acessível. Além disso, como esses tipos de produto têm alto valor agregado, são altamente influenciáveis pelas taxas de juros.

A intenção de consumo em agosto apresentou caminhos distintos entre as faixas de renda analisadas. As famílias com renda abaixo de 10 salários mínimos mantiveram estabilidade, enquanto aquelas com renda acima desse patamar registraram uma queda de 0,2%. A perspectiva de consumo para os próximos meses também refletiu essa diferença, com redução de 0,7% entre as famílias de maior renda e 1,1% entre as de menor renda.

A maior diferença entre as rendas ocorreu no item que avalia o acesso ao crédito, com as famílias com rendimento abaixo de 10 salários mínimos tendo um avanço de 0,7% no subindicador, enquanto aquelas com maior renda mostraram queda de 0,4%. Isso sugere uma melhora da seletividade do crédito, beneficiando principalmente as famílias de menor renda.

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