Conversamos sobre operações de day trade e análise técnica com Julio Chartone, analista técnico CNPI-T com formação em engenharia e professor de análise técnica para day trade e swing trade.
Por que você escolheu operar com day trade?
Eu caí de paraquedas no day trade. Eu era dono de uma empresa que tinha uma forte exposição na minha região, mas em um determinado momento, eu percebi que trabalhava 28 dias corridos no mês apenas para honrar os seus compromissos. Todo início de mês, eu já começava com uma dívida composta por aluguel, contas de consumo, salários, impostos etc., e se a empresa não faturasse, eu teria que honrá-los. Chegou um momento em que eu me vi dilapidando o meu patrimônio para honrar esses compromissos. Eu me desmotivei e acabei desmotivando toda a equipe. No final, eu vendi a empresa para os meus funcionários.
A partir daquele momento, eu comecei a buscar algo para trabalhar por conta própria. Um belo dia, eu fui na casa de um amigo, que ao me receber, me disse que estava em horário de trabalho, mas que poderia conversar comigo. Isso foi em 2011. Na conversa, ele me disse que estava trabalhando com a Bolsa e me levou para ver o seu escritório, me mostrar os gráficos e me falar das operações. Nessa conversa, ele me disse que se eu estivesse comprado e o mercado subisse, eu ganharia. Da mesma forma, se eu estivesse vendido e o mercado caísse, eu ganharia. Tudo muito simples.
Como eu sou engenheiro e sempre fui muito bom em cálculos, estatísticas e probabilidades, em pouco tempo eu estava operando no mercado de day trade sem experiência alguma. Eu não sabia o que era uma média móvel e os critérios de análise técnica. Eu só sabia que se houvesse um candle azul, eu compraria, e se houvesse um candle vermelho, eu venderia.
O problema é que ao mesmo tempo em que o day trade é a operação mais fácil que existe, ele também é a operação de maior risco. No começo, eu tive sorte de principiante e ganhei dinheiro, mas quando eu decidi transformar as operações em um negócio e me especializar, eu comecei a ter perdas financeiras. Foi assim que eu aprendi, de forma amarga, o que era gerenciamento de risco para operações de renda variável.
Como disse, eu não escolhi o day trade, mas caí de paraquedas nele. Se eu estivesse começando hoje, eu diversificaria as minhas operações de forma a colocar o menor capital possível em day trade. Eu colocaria uma parte do meu capital, reservado para investimentos, em renda variável, mais precisamente em operações de swing trade e ações de médio e longo prazo, uma parte em renda fixa, uma parte em operações estruturadas e uma parte pequena em day trade.
Eu comecei pelo day trade, pois não conhecia outras operações, mas o day trade não é o caminho mais indicado para uma pessoa que está começando a operar no mercado por conta dos seus riscos.
Você opera com day trade de ações, índice futuro e criptomoedas. Por que você não opera com opções?
Por falta de tempo. Pela parte da manhã, eu trabalho em uma sala de operações onde faço recomendações de compra e venda, e pela parte da tarde, eu administro uma carteira de swing trade para uma casa de análises e faço o desenvolvimento de operações automatizadas. Eu só não faço operações com opções por falta de braço.
Como você refinou a sua forma de operar com day trade?
Depois da fase inicial, eu parei e fui procurar um critério estatístico que me mostrasse a maior probabilidade de resultados positivos e negativos. Foram seis meses varando madrugadas buscando nos gráficos um padrão que pudesse ser testado com o mínimo de capital possível para avaliar os seus resultados. Foi assim que eu encontrei um padrão que se mostrou muito eficiente.
No início desse modelo, para que uma operação me gerasse, por exemplo, R$ 1 mil de ganho, ela poderia gerar antes R$ 2 mil de prejuízo devido a volatilidade. O modelo dava resultado, mas o risco de perda poderia ser o dobro do que poderia ser ganho. Isso me fez refinar o modelo operacional mais um pouco, e como consequência, eu diminuí a quantidade de operações que fazia. Aliás, eu diminuo cada vez mais a quantidade de operações que faço, sendo que hoje eu opero apenas um percentual do capital que eu coloco no mercado.
Por exemplo, no day trade é muito comum ter ganhos de 2% ao dia. No final do mês, isso representa um ganho bruto de 40%. Em termos líquidos, isso representaria um ganho de 28%, 30%. Isso com poucas operações. Hoje, em vez de buscar um padrão operacional, eu busco um percentual sobre os resultados que estou trabalhando. Quando esse percentual chega em 2%, 2,5%, para mim já basta, já que eu não quero correr mais riscos. O grande risco desse mercado é que as pessoas querem depositar o mínimo de capital possível para tirar o máximo de capital possível.
Hoje, eu fico procurando no mercado ativos que tenham preços que estejam com uma certa exaustão. Se o ativo está caro, ele pode ter um movimento de baixa, e se ele está barato, ele pode ter um movimento de alta. Com isso, eu consegui diminuir a possibilidade de perda, mas eu também diminuí o tamanho do ganho, já que passei a proteger as minhas operações.
Você diminuiu a quantidade de operações, mas você aumentou o valor das operações?
Não. Eu diminuí a quantidade de operações e também os seus valores. Ou seja, eu diminuí a minha exposição ao mercado. Isso porque através da divisão que eu mencionei, eu coloquei a menor parte possível no day trade. Hipoteticamente, se eu operava com R$ 50 mil, eu passei a operar com R$ 5 mil. Isso porque no day trade, se você alocar R$ 10 mil, existe o risco de se perder R$ 10 mil. Se você alocar R$ 100 mil, existe o risco de se perder R$ 100 mil. Da mesma forma, se você colocar R$ 1 milhão, existe o risco de se perder R$ 1 milhão. Esse limite tem que ser colocado pelo próprio operador.
O que você faz quando o mercado vai no sentido contrário, ou seja, quando você espera uma alta, mas ele cai, ou quando você espera uma queda, mas ele sobe?
Aqui entra o famoso stop loss. Toda vez que eu entro em uma operação, seja ela de curto, médio ou longo prazo, eu calculo, por critérios estatísticos, a possibilidade de reversão do movimento. Se essa variação negativa for de 3%, o meu stop loss será de 3%. Cabe destacar que antes de olhar a possibilidade do tamanho do ganho, eu olho a possibilidade do tamanho da perda.
Muitas pessoas acham que o stop loss é apenas para fazer a pessoa ficar no negativo e perder dinheiro. Não é. O seu objetivo é limitar as possíveis perdas caso o mercado reverta.
Um ponto importante: se as pessoas que entram no mercado estão acionando o stop loss a todo momento, alguma coisa está errada. Provavelmente, ele não está sendo alocado no melhor ponto perante o padrão de operação daquela pessoa. Talvez essa pessoa tenha que ajustar o seu stop loss. Outras pessoas gostam de stop loss muito pequenos, mas como eles são acionados a todo momento, isso acaba gerando um grande valor de perdas, o que não é interessante.
Apenas esclarecendo: cada operação que você faz tem um stop loss diferente ou você trabalha com um percentual fixo de stop loss?
Cada operação tem um stop loss de tamanho diferente. No day trade, as operações mais comuns são as scalpers, que são mais curtas, e as operações de tendência, que são mais longas. Para as operações de scalper, o meu stop loss é mais curto. Para as operações de tendência, o meu stop loss é mais longo. Por exemplo, em uma operação de scalper, o meu stop loss pode ficar entre 80 e 100 pontos, enquanto em uma operação de tendência, o meu stop loss pode ser de 300 pontos. Os stop loss que eu utilizo variam de acordo com o momento do mercado.
Como você utiliza a análise técnica nas suas operações?
Eu gosto muito do padrão de candles, o famosos price action, indicadores gráficos, que são cálculos sobre a cotação do ativo que mostra algumas linhas no gráfico, e ferramentas que mostram se o preço está muito caro ou muito barato, sendo que eu tento compilar todos esses padrões em uma única ferramenta. Para isso, eu desenvolvi um indicador que coloquei na minha plataforma. Esse indicador me mostra os pontos de compra, venda e stop loss.
Eu sou o famoso caçador de topos e fundos. O caçador de fundo fica esperando o mercado chegar a uma exaustão de fundo para fazer uma reversão de baixa para alta por conta da elasticidade. Já o caçador de topo fica esperando o mercado chegar a uma exaustão de topo para fazer uma reversão de alta para baixa por conta da elasticidade.
Quais são os maiores erros cometidos por uma pessoa que opera com day trade?
O primeiro é não aceitar a perda. A pessoa que entra no mercado e não aceita perda, é uma sério candidato a sair do mercado. O segundo erro é alocar um capital no day trade que, caso ocorra perda, vai prejudicá-lo financeiramente. Por exemplo, é muito comum uma pessoa que se aposenta ou perde o emprego pegar o seu capital e dizer que vai viver do mercado financeiro. Isso é errado. É preciso colocar o mínimo de capital, operar pouco, criar gorduras financeiras com calma, e, com essas gorduras, aumentar a sua capacidade de operação. Nunca, jamais, uma pessoa deve se desfazer de um patrimônio para colocar os recursos em uma renda variável de risco.
Outro ponto: quando eu atinjo os meus objetivos, eu paro. Eu conheço pessoas que estavam com a meta batida, foram fazer mais uma operação, perderam tudo o que haviam ganhado e ainda ficaram devendo dinheiro. Isso porque o mais difícil é a pessoa vencer a si mesma.
Como você avalia o impacto das redes sociais nesse tipo de operação?
Terrivelmente negativo. Infelizmente, pessoas que aparecem falando muito bonito sobre day trade, mostrando fotos na frente de carros, aviões e helicópteros, com um monte de dinheiro no bolso, atraem pessoas que colocam a ganância na frente da ambição e acabam estragando a imagem das pessoas que querem fazer um trabalho sério.
É muito comum ver nas redes sociais pessoas que postam imagens e vídeos de ganhos de R$ 30 mil, R$ 50 mil, obtidos com operações de day trade, que instigam as pessoas a operarem sem estarem preparadas. É por isso que deveria haver uma regulamentação sobre a forma como podem ser feitas essas postagens e seus conteúdos nas redes sociais.
É possível, sim, ter resultados positivos, mas não da forma como é colocado na internet, onde há muita venda de ilusão.