Não é incomum ouvirmos hoje que estamos “na maior crise de todos os tempos”, mas falar isso é desconhecer a história econômica brasileira; ou seja, coisa de quem nasceu ontem e acredita que o Brasil começou com o Plano Real. É fato que as projeções dos economistas apontam retração do PIB e inflação beirando os dois dígitos.
De acordo com o boletim Focus publicado pelo Banco Central nesta última semana, os economistas de cerca de 100 instituições preveem para o IPCA uma alta acumulada de 8,97%. Caso as estimativas sejam confirmadas, essa será a maior inflação desde 2003, quando índice encerrou em 9,3%. Para o comportamento do PIB neste ano, os economistas do mercado financeiro têm reduzido constantemente suas previsões. O boletim Focus apontou a quinta queda consecutivo do indicador. A retração esperada é de 1,45%. Se confirmado, este será o pior resultado em 25 anos, ou seja, desde 1990 – quando foi registrada uma queda de 4,35%. Os mais pessimistas avisam: estamos regredindo à década de 80. Será?
O período de 1980 a 1990 é comumente chamada de década perdida no que diz respeito à economia brasileira. Depois do milagre econômico vivido durante os anos 70 – marcado pela melhora da estrutura produtiva e taxas médias de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 7% ao ano, mas também pelo elevado endividamento externo e inflação -, tivemos que pagar as contas durante os anos 80. Planos miraculosos foram postos em prática para combater a inflação. Os resultados foram desastrosos: a alta dos preços se manteve na casa dos 100% no período de 1980-82, mas saltou para 200% no triênio seguinte; como resultado da implementação do Plano Cruzado, caiu para 62% em 1986. Com o fracasso deste, no ano seguinte, a inflação retorna, passando dos 400%. A adoção do Plano Bresser consegue contê-la em 365%. A política do Feijão com Arroz de 1988 elevou o patamar inflacionário para 933% e, após o Plano Verão, de 89, atingiu 1.764%.
Nesse período, a busca da teoria econômica foi por saber como combater a inflação, mas esqueceu-se de pensar em como voltar a crescer. Assim, o incremento médio do PIB ficou no patamar de 2% durante a década de 80. Para combater a inflação, pagamos muito caro. O Plano Real trouxe estabilidade à economia e metas de superávit primário, porém deixou como legado o baixo crescimento econômico e elevadas taxas de juros. Com a introdução da nova moeda, o Real, em julho de 1994, a taxa de inflação anual, que era de 2.489,11% em 1993, foi reduzida para 22% no ano seguinte. Já a Selic (taxa básica de juros) encerrava o ano acima de 50%. O próximo passo foi a implantação do Regime de Metas de Inflação, já em junho de 1999. Houve sucesso no regime e inflação manteve-se na casa de um dígito em quase todos os anos, exceto 2002.
Do lado do PIB, o crescimento foi pífio. Durante o primeiro e segundo mandato do governo FHC, o PIB registrou incremento médio de 2,6% e de 2,3%, respectivamente. Já no governo Lula, o crescimento médio da economia ficou em 3,5% e 4,6%, nos dois mandatos. Depois do bom desempenho da economia entre 2003 e 2010, veio a gestão Dilma que ameaça as conquistas dos últimos 20 anos. Em seu primeiro mandato, o crescimento médio PIB só ficou atrás do governo Collor: o produto cresceu, em média 2,1% e, tendo em vista, as projeções para 2015 e 2016, a taxa média de crescimento do segundo mandato pode ser ainda pior. Ao mesmo tempo, a falta de responsabilidade fiscal deixou o tripé do sistema de metas (câmbio flutuante, meta inflacionária, meta fiscal) manco, o que provoca a recessão atual e a necessidade de ajuste por parte do ministro Joaquim Levy.
O fato é que estamos em um momento de transição, mas muito aquém da pior crise de todos os tempos. A economia deve patinar nos próximos dois anos, mas retomar o rumo no médio prazo. Não, não estamos rumando para uma nova década perdida, porém é necessário que o ajuste fiscal ocorra, tornando o tripé firme novamente.
Ana Borges – Diretora da Compliance Comunicação