Decisão do Fed ecoa

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Alvaro Bandeira (foto divulgação)
Alvaro Bandeira (foto divulgação)

Ontem, na última meia hora, os mercados americanos realizaram forte e inibiram melhor performance do mercado local. A Bovespa ainda conseguiu encerrar com alta de 0,98% e índice em 111.289 pontos (chegou a vazar a faixa de 112.600 pontos), enquanto Dow Jones passou para campo negativo em -0,38% e Nasdaq praticamente estável com +0,02%. Aqui, o dólar também reverteu queda e fechou em alta de 0,11%, cotado a R$ 5,44.

Tudo por conta da coletiva de imprensa do presidente do Fed, Jerome Powell, que começou sua fala como sempre suave nas declarações, mas no final endureceu posição, abrindo espaço para um Fed mais agressivo no tapering, alta de juros (principalmente) e redução de tamanho dos ativos carregados. Além disso, podemos estimar encurtamento de prazos para essas atividades.

Isso não era tão esperado, mas possível. Os EUA temem muito inflação alta e persistente, e foram destacados os desequilíbrios na cadeia de insumos, que podem durar até 2023. Resultado disso, mercados na Ásia em forte queda durante a madrugada, Europa começando também com boas quedas, e melhorando na sequência, e futuros do mercado americano agora com comportamento misto. Aqui, seguimos mirando no objetivo de 115 mil pontos do Ibovespa para ganhar maior tração.

A Casa Branca disse querer estar preparada para problemas de fornecimento de gás pela Rússia, notadamente para a Europa. As armas enviadas à Ucrânia chegaram, e Biden voltou a ameaçar Putin com maiores sanções que as ocorridas em 2014.

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Na China, o lucro industrial de 2021 subiu 34,3%, mas com desacelerações nos últimos meses e fortemente baseado em matérias-primas e alta tecnologia. Lucro industrial de matérias-primas cresceu 190% e tecnologia ficou com +48,4%. Na Alemanha, o índice GFK de confiança do consumidor de fevereiro subiu para -6,7 pontos, vindo de -6,9 pontos e com previsão de -8 pontos.

Já o Banco Central do Chile anunciou alta da taxa de juros básica em 1,5%, para 5,5%. No mercado internacional, o petróleo WTI, negociado em Nova Iorque, já volta a subir 0,29%, com o barril cotado a 87,60. O euro era transacionado em queda para US$ 1,12 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 1,84%, em queda. O ouro e a prata com quedas na Comex, e commodities agrícolas com viés de queda na Bolsa de Chicago.

Aqui, a CGU ignorou pedido do ministro Paulo Guedes para revelar indicações políticas feitas, e Bolsonaro disse que a PEC dos combustíveis já foi acertada com a área econômica e que pode conceder reajuste salarial de 33% para os professores, seguindo a lei. Mais uma encrenca para reverberar.

Já o processo de adesão do Brasil à Organização OCDE pode demorar bastante, como ocorreu e ocorre com outros países, e o grande obstáculo é a reforma tributária. Mas a notícia foi positiva e ajudou os mercados ontem. Na agenda do dia, teremos a divulgação do Caged de dezembro com a criação de vagas e a confiança da indústria de janeiro. Nos EUA, os pedidos de auxílio desemprego da semana anterior, as encomendas de bens duráveis de dezembro, o PIB e PCE do 4º trimestre e o índice de atividade industrial de Kansas. Além disso, resultados da Apple, Mastercard, Visa e McDonald’s.

Expectativa de Bovespa com chance de melhorar, dólar forte no exterior podendo influir aqui e juros em alta.

Curiosamente, a sessão de ontem deveria ser de indecisão dos investidores aguardando a decisão do Fed das 16h e, na sequência, a coletiva do presidente Jerome Powell. Além disso, a recorrente preocupação geopolítica com as tensões entre Rússia e Ucrânia. Mas soaram mais alto os resultados que estão sendo mostrados por empresas no 4º trimestre e rotações de ativos nos mercados. Consequência disso, mas um dia de Bolsas em alta e dólar fraco.

Também tivemos indicadores com potencial de mexerem com o mercado local, mas as boas perspectivas para o minério de ferro e a alta novamente do petróleo no mercado internacional fizeram a Bovespa passar o patamar de 112 mil pontos durante o dia.

No exterior, o Canadá anunciou a manutenção dos juros básicos em 0,25%, mas retirou o guidance. Nos EUA, as vendas de imóveis novos de dezembro cresceram 11,9%, quando o previsto era alta de somente 1,7%. Já os estoques de petróleo cresceram 2,3 milhões de barris na semana anterior, de previsão de queda de 800 mil barris. Mas isso não tirou o ímpeto de alta do óleo no mercado internacional. Também foi anunciado pelo CDC que controla a pandemia nos EUA que os casos de contaminação da semana encolheram 6%, enquanto as mortes expandiram 20,9%, mas com incidência em não vacinados.

Já sobre a decisão do Fed e a coletiva de Jerome Powell, o Fomc decidiu manter juros entre 0% e 0,25%, sinalizando atividade e emprego fortalecidos e setores afetados pela pandemia melhorando. Ainda mantêm condições acomodatícias para a política monetária, mas sinalizaram que o tapering termina no início de março, depois alta de juros e redução programada do balanço do Fed. Expectativa foi de antecipação de prazos, mas o comunicado foi semelhante ao anterior. Jerome Powell, como sempre moderado em suas colocações, repetiu termos do comunicado, mas deixou claro que juros podem subir em seguida ao tapering e movimentos sempre bem esclarecidos. Ressaltou que há muito espaço para subir juros sem afetar o mercado de trabalho.

No mercado internacional, o petróleo WTI, negociado em Nova Iorque, mostrava alta de 1,28%, com o barril cotado a US$ 86,70, enquanto o tipo b rente ultrapassava US$ 90. O euro era transacionado em leve queda para US$ 1,124 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 1,81%, com leve alta. O ouro e a prata tinham quedas na Comex, e commodities agrícolas com desempenho positivo na Bolsa de Chicago. O minério de ferro, negociado em Qingdao, na China, ficou praticamente estável, terminando o dia com +0,08% e a tonelada cotada em US$ 138,50.

No cenário doméstico, a FGV anunciou o INCC de janeiro com aceleração para 0,64%, vindo de +0,30%, e a confiança do segmento de construção em queda de 3,9 pontos, para 92,8 pontos. O IBGE divulgou a prévia da inflação oficial pelo IPCA-15 com alta para 0,58% (anterior em 0,78%), mas a expectativa mediana era de 0,45%. Com isso, a inflação em 12 meses mostra +10,20%. A mediana dos núcleos foi de 0,95% e a difusão subiu para 74,4%, de anterior em 69%.

Os números vieram ruins e passaram a induzir a expectativa de o Copom elevar a taxa Selic na reunião da próxima semana em 1,5%, levando os juros básicos para 10,75%. Função disso, surgiram projeções de alongamento do ciclo de alta e com a Selic chegando próxima de 12% e tendência de alta. Há projeções também de inflação de 2022 de pouco mais de 6%, mas a mediana ainda está próxima de 5,5%, de qualquer forma, bem longe da meta de 2022.

O BC divulgou o déficit em conta-corrente de 2021 em US$ 28,1 bilhões (1,75% do PIB) e o investimento direto no país (IDP) de 2021 em US$ 46,4 bilhões. Investimentos em ações brasileiras ficaram no ano passado em US$ 5,25 bilhões, renda fixa em US$ 18,5 bilhões e fundos com saídas de US$ 176 milhões. Até o último dia 21 o IDP estava em US$ 2,3 bilhões e investimentos em ações brasileiras em US$ 1,6 bilhão. Destaque negativo para o IDP de dezembro, mostrando desinvestimento de US$ 3,9 bilhões. Atípico, mas devemos considerar que os últimos meses têm mostrado encolhimento, que já tínhamos detectado antes.

O Tesouro anunciou que a dívida pública federal (DPF) fechou 2021 com R$ 5,61 trilhões, após alta de 2,09% em dezembro e a participação de estrangeiros subindo para 10,56% do total. Dezembro mostrou emissão líquida de R$ 6,8 bilhões e gastos com juros de R$ 46,9 bilhões. No plano anual de financiamento (PAF), está previsto que a dívida pública em 2022 atinja entre R$ 6 trilhões e R$ 6,4 trilhões e necessidade do governo federal de financiamentos de R$ 1,2 trilhão.

Já o fluxo cambial até o dia 21 estava negativo em US$ 1,18 bilhão, fruto de fluxo comercial negativo em US$ 3,15 bilhões e financeiro positivo em US$ 2 bilhões. Bancos seguiram vendidos em dólar em US$ 22,4 bilhões. Governadores decidiram congelar por mais 60 dias o ICMS de combustíveis, esperando solução mais definitiva.

No mercado, ontem foi dia de dólar oscilando entre positivo e negativo para fechar com +0,11% e cotado a R$ 5,44. Na Bovespa, na sessão do último dia 24, os investidores estrangeiros voltaram a aplicar recursos no valor de R$ 963,9 milhões, acumulando ingressos em janeiro de R$ 21,07 bilhões. Mas os investidores institucionais sacaram R$ 16,6 bilhões no mesmo período. No mercado acionário, dia de alta de 1,33% na Bolsa de Londres, Paris com +2,11% e Frankfurt com +2,22%. Madri e Milão com altas de respectivamente 1,78% e 2,27%. No mercado americano, faltando meia hora para o encerramento, o Dow Jones tinha -1,05% e o Nasdaq estava com -0,69%. Na Bovespa, também meia hora antes, alta de 0,81% e índice em 111.101 pontos. Na máxima, chegou a 112.694 pontos.

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Alvaro Bandeira

Economista-chefe do Banco Digital Modalmais

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