Degustação Belle Cave e festival de espumantes brasileiros

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Nesta segunda quinzena de novembro, estamos publicando, extraordinariamente, dois artigos em função da cobertura de eventos de vinhos que continuam “pipocando” por aí. No artigo anterior, falei de uma feira de vinhos voltada mais para profissionais, que reuniu muitos produtores, importadores e outras empresas ligadas ao setor, como de embalagens, adegas, acessórios etc.

Agora falo da degustação anual da Belle Cave, que segue o mesmo modelo de grandes importadores que apresentam seu portfólio anualmente a profissionais e consumidores finais dos principais mercados. Esta aconteceu no início de novembro no Hotel Hilton, Leme, Rio de Janeiro. O catálogo da importadora traz um bom conjunto de produtores, pautado de forma significativa pelo perfil europeu de pequeno e médio porte, flertando com a conversão orgânica. Catálogo perfeitamente satisfatório para amantes dos vinhos de alto poder aquisitivo. Não consegui visitar todos, mas boa parte, e fiz uma seleção de alguns que me chamaram a atenção, seja pela qualidade, novidade ou preço.

A Áustria foi mais uma vez representada, agora por dois vinhos da região de Wachau: o Nikolaihof Grüner Veltliner Federspiel im Weingebirge 2010 e o Nikolaihof Riesling Federspiel Vom Stein 2011. Terroir e uso cuidadoso de carvalho aportam personalidade, delicadeza, frescor e mineralidade a esses vinhos. O Riesling é envolvente e sedutor – enche o paladar de prazer.

O produtor Domaine Boucabelle, do Roussillon, região mais ao sul da França, trouxe vinhos interessantes e fáceis de gostar. O Domaine Boucabeille Côtes-Du-Roussillon Villages les Orris Rouge 2016 tem o típico corte GSM, com Syrah em destaque e um ano de barrica. Aromas intensos de frutas negras e toques defumados. Em boca, mostra os taninos vivos da fruta e da madeira sem excesso, com belo equilíbrio.

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A linha Cepa Pura da Quinta do Montalto, da região de Lisboa, apresentou vinhos orgânicos de boa relação preço/qualidade. Conseguiu trabalhar muito bem uma cepa difícil, típica da região da Bairrada, a Baga. Com bouquet de frutas silvestres e notas terrosas, traz um rico paladar, cheio de fruta e personalidade, além de taninos finos e ainda vigorosos. Já o francês Domaine du Chardonnay Petit Chablis 2018 (safra muito feliz em qualidade e quantidade para a região) é um vinho fresco, frutado e mineral – generoso, para se beber sem parar.

Bordeaux margem direita ocupou uma mesa com três exemplares das safras 2011 – Lussac, Saint Emilion e Pomerol – bons, para quem gosta do estilo potente e amadeirado. Já o Rhone apresentou uma boa conjugação de complexidade aromática e finesse no paladar com o Chateauneuf-du-Pape Clos du Calvaire 2017 e o Crozes-Hermitage Domaine Belle les Pierrelles 2015. Finalmente, o Mas D’en Gil Priorat Coma Blanca, corte de Garnacha Blanca e Viura, foi meio sensação do evento e realmente é um excelente vinho, não fosse o preço. Aromas maduros de pêssego, damasco seco e toques amanteigados. Em boca, equilibrado e longo.

O outro evento que anunciei na semana passada e fui conferir foi o novo Sparkling Festival, que também tem versões no Rio e em São Paulo. Aqui o perfil já é bem de consumidor final, e o vinho (ou espumante) é protagonista que age como chamarisco para o entretenimento. O espumante já foi incorporado ao consumo do brasileiro, antes mesmo do que o vinho “tranquilo”, dado o seu caráter festivo e refrescante. Ficou também muito associado às produção nacional, de qualidade destacada. No dia em que fui, acontecia a final da Libertadores da América, que foi transmitida pelo telão ao público e terminou em alta temperatura com a vitória flamenguista. Espumante não faltou para comemorar! As pessoas tinham acesso livre à compra de vinho e comidinhas, e havia uma tenda fechada para a exposição de produtores e importadores, à qual se tinha acesso mediante pagamento de ingresso.

A escolha do local foi muito feliz – a Marina da Glória é espaçosa e agradável de ver – perfeita para eventos. A faixa de preço dos vinhos apresentados era mais acessível e compatível com o valor do ingresso, mas suficiente para atender à proposta de entretenimento e democratização do consumo de vinhos. Predomínio de vinhos da América do Sul e muitos brasileiros: Marzarotto, Amitié, Villa Francioni, Lídio Carraro, entre outros.

Vou destacar pela novidade e qualidade os vinhos de garagem vendidos pela Cave di Baco. O Tor II Sur Lie 2017 da Vinícola Harigami, de São Joaquim, é um Sauvignon Blanc que fica 77 dias sob as borras finas, reunindo frescor, notas frutadas e vegetais com uma cremosidade que o prolonga no paladar. A linha Cão Perdigueiro, feita com uvas de Farroupilha, traz um Trebbiano fresco e agradável, um Chardonnay elegante com uso calculado de barrica e um Cabernet Sauvignon muito frutado. Mas o destaque mesmo foi para o vinho laranja da uva Peverella – delicado e mais acessível para não iniciados na categoria.

 

Para saber mais sobre grupos de estudos sobre vinhos e turmas abertas da Cafa Wine School no Brasil, visite miriamaguiar.com.br / instagram: @miriamaguiar.vinhos

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