A decisão do primeiro-ministro grego, George Papandreou, de substituir o referendo popular por um “acordão” com a mesma oposição de direita que levou o país à crise mostra que, de berço da democracia ocidental, a Grécia virou caso emblemático de falência da democracia representativa. Com a esmagadora maioria da população contrária à submissão do país às políticas recessivas do FMI, Papandreou e a Nova Democracia – equivalente grego da ditabranda da mídia tupiniquim – não têm a menor legitimidade para assinar qualquer termo de rendição com a União Européia (UE) que hipoteque o futuro do país.
Democracia cosmética
Mais do que autoritária, a decisão de Papandreou, em obediência aos desígnios dos tecnocratas da UE, do Banco Central Europeu e do FMI, expõe a incompatibilidade entre os desejos dos plutocratas globais e a democracia. Situação similar já se passara quando governos europeus, como o Reino Unido de Tony Blair, apoiaram a invasão do Iraque pelos Estados Unidos, em antagonismo com a vontade de seus concidadãos. Bombardeado nas ruas, seus substitutos do Partido Conservado e até do Partido Liberal – que se opusera à ação militar, com isso angariando forte prestígio popular – não apenas mantiveram a posição de linha auxiliar dos EUA no Iraque, como formaram a linha de frente dos bombardeios à Líbia. Com isso, tem-se o abastardamento do voto, com a ida às urnas sendo transformada em mera pantomina, para legitimar um sistema que não admite qualquer dissidência fora dos assuntos cosméticos.
Tragédia espanhola
Há quatro anos consecutivos amargando o fechamento de postos de trabalho, a Espanha parece longe de ter atingido o fundo do poço. Em outubro, mais 134.182 vagas foram cortadas. Com isso, a taxa de desemprego no país saltou para 21,5% da população economicamente ativa (PEA), a maior dos últimos 15 anos. No total, a Espanha já tem 4.360.926 de desempregados. Ao mesmo tempo, o número de inscritos na Seguridade Social diminuiu em 75.249 inscritos, recuando para 17.360.313 de pessoas. Não por acaso, o primeiro-ministro José Luis Zapatero e a UE sequer cogitam de submeter a referendo às medidas que têm levado a Espanha à deterioração social.
Democracia dos monopólios
Para cada três emissoras comerciais de rádio ou televisão, o Estado do Rio de Janeiro tem apenas uma rádio ou TV comunitária. Não por acaso, o estado é o oitavo no ranking de radiodifusão comercial, enquanto amarga o 14º posto na relação de rádio ou televisão comunitária. Os dados, do Sindicato do Jornalistas do Município do Rio de Janeiro, ajudam a entender por que, quando se fala em democratização da comunicação, os donos do poder estabelecido gastam tantas páginas e horas para defender “a liberdade de imprensa”.
Quase civilizados
A redução na taxa básica de juros (Selic) já repercute nos financiamentos entre empresas. A gigante de software Totvs – que tem 48,6% do mercado de programas empresariais e de gestão – passou a oferecer linha própria de financiamento com juros de 1% ao mês. Ainda que alto para padrões internacionais, e que via Cartão BNDES os empresários possam ter acesso a empréstimo com juros mais em conta e prazo mais longo, é uma sinalização da queda das taxas.
Sagrado&profano
De olho nas 500 mil pessoas que compareceram, este ano, à procissão em homenagem ao Padre Cícero, no Dia de Finados, o comércio que cerca a manifestação de fé dos romeiros, em Juazeiro do Norte (CE), recorreu à criatividade para elevar as vendas aos céus. Numa barraca, que atendia pelo peculiar nome de Barraca de Cheiro, a dona vendia, por R$ 1….calcinhas fio dental. Para justificar o nome do estabelecimento, ela perfumava o produto antes de entregar aos clientes: “Compre a calcinha e o Padre Cícero opera o milagre para te arranjar alguém”, recitava a vendedora.
MicaCícero
Diante da miríade de ofertas das barracas, algumas fiéis chegaram a batizar a romaria de “Micareta do Padre Cícero”. Apesar do caráter turístico, e até exótico, boa parte dos participantes, no entanto, faz do evento uma reafirmação da sua manifestação de fé no beato.