Desemprego de jovens negras é três vezes maior que de homens brancos

Brasil sofre com uma taxa de desemprego de 7,4%, que apesar de ser a menor desde 2015, ainda afeta mais de 8 milhões de pessoas

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Carteira de trabalho (Foto: Wilson Dias/ABr)
Carteira de trabalho (Foto: Wilson Dias/ABr)

Em 2023, as jovens mulheres negras de 18 a 29 anos tiveram uma taxa de desemprego três vezes maior que a dos homens brancos no Brasil. Quando empregada, a juventude feminina negra tem uma renda 47% menor que a da média nacional e quase três vezes menor que a dos homens brancos. Além disso, as mulheres negras de 14 a 29 anos dedicam quase o dobro de horas aos afazeres domésticos quando comparado à media dos homens negros e brancos.

A comparação foi realizada pela organização Ação Educativa, a partir dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) de 2023, e publicada no relatório Mude com Elas, divulgado nesta quarta-feira.

De acordo com o projeto Mude com Elas, enquanto as jovens mulheres negras registraram, em 2023, uma taxa de desemprego de 18,3%, os homens brancos tiveram uma taxa de 5,1%. O desemprego geral do país terminou 2023 em 7,4%. Já o salário médio da população no ano passado foi R$ 2.982, enquanto o das jovens negras foi de apenas R$ 1.582. Se comparado com homens brancos, a diferença salarial é ainda maior. Como a renda média desse grupo foi R$ 4.270 em 2023, ela é 2,7 vezes maior que a das jovens mulheres negras.

A informalidade também atinge mais as jovens negras, que registraram 44% com carteira assinada, porcentagem similar a dos jovens negros (43,3%). Já os jovens brancos, tanto mulheres quanto homens, ficaram em torno de 50% com carteira assinada (50,3% para jovens brancos e 49,8% para jovens brancas). Além da menor renda e do maior desemprego, o trabalho doméstico sobrecarrega as jovens negras de 14 a 29 anos que dedicam 22 horas, por semana, aos afazeres domésticos. Enquanto isso, a média dos homens negros e brancos é de 11,7 horas na semana.

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O grupo das jovens negras também chega menos ao Ensino Superior no Brasil. Enquanto as jovens brancas frequentando ou concluindo o Ensino Superior, em 2023, chegavam a 39,8% do total, as jovens negras na mesma situação eram apenas 23,4% do total.

A pesquisadora Andreia Alves, advocacy do projeto Mude com Elas, destacou que existe uma cultura que coloca a juventude nos espaços mais precários do mercado de trabalho. Porém, há um agravamento desse quadro quando se considera raça e gênero.

“É muito comum mulheres jovens negras que conseguem chegar a ocupar esse mercado de trabalho formal estarem em áreas que, na verdade, não vão aproveitar toda a sua capacidade. Então, normalmente, ela vai ocupar as piores áreas, os piores cargos, diferentes de pessoas não negras” destacou.

Andreia Alves acrescentou que há uma herança, que vem do período escravocrata, que costuma colocar as jovens mulheres negras fora do mercado de trabalho, ocupando-as com o trabalho doméstico.

“Normalmente, os lugares onde essas mulheres moram são lugares muito distantes dos locais de trabalho. Então, essas jovens mulheres negras acabam sendo obrigadas a submeter aos cuidados, a fazer da casa, cuidar da alimentação e cuidar dos irmãos menores, porque os adultos da casa são também desses lugares de trabalho distantes” completou.

Para ela, o fundamental é ouvir esse público antes de construir políticas que minimizem essa desigualdade no mercado de trabalho. A especialista acrescenta que o aumento da educação formal superior de mulheres negras nos últimos anos não tem se refletido em mais espaço no mercado de trabalho.

O Brasil sofre com uma taxa de desemprego de 7,4%, que apesar de ser a menor desde 2015, ainda afeta mais de 8 milhões de pessoas. E parte importante deste público sem ocupação são os brasileiros com idade entre 18 e 24 anos, que deveriam estar começando a vida profissional.

De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 36% dos jovens não estudam e nem trabalham. Dos países analisados pelo relatório Education at a Glance, o Brasil ocupa a preocupante segunda posição dentre as nações com a maior proporção de jovens que não estão empregados e nem estudando. Ampliando o horizonte, outra pesquisa mostra que a situação também é complicada para menores de idade que poderiam estar em programas de jovem aprendiz. Segundo um levantamento produzido pela Subsecretaria de Estatísticas e Estudos do Trabalho, do Ministério do Trabalho e Emprego, 5,2 milhões de pessoas entre 14 e 24 anos estão fora do mercado.

Dando indícios sobre quem são os mais afetados pela falta de empregabilidade, a pesquisa mostra que 52% dos jovens desempregados são mulheres e 66% são pretos e pardos.

Com informações da Agência Brasil

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