Mesmo com iniciativas como reajustes do valor de programas de transferência de renda ou do próprio salário mínimo, além do Desenrola Brasil – criado pelo governo, em 2023, para amenizar a inadimplência -, a taxa de famílias com contas atrasadas nas capitais nacionais se manteve estável entre 2022 e 2024, segundo a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP). Se no fim do primeiro semestre de 2022, essa margem era de 29% de lares, neste ano, chegou a 28,8%, após ligeira subida para 29,6%, no ano passado.
No entanto, esse processo não aconteceu de forma linear pelo país. Pelo contrário, a pesquisa da federação aponta que a diferença entre a capital mais inadimplente hoje, Belo Horizonte, em Minas Gerais (54% das famílias estavam nessa situação no fim do primeiro semestre) e a que apresenta o menor volume de lares com contas atrasadas, Aracaju, em Sergipe, com apenas 20%, é de relevantes 34 pontos porcentuais (p.p.).
Dentre as capitais com mais gente convivendo com dívidas em atraso, destacam-se, ainda, Natal, no Rio Grande do Norte (52%); Porto Velho, com 51% dos lares nessa condição; Manaus, com 45%; e Rio Branco, onde 39% das famílias estão inadimplentes.
Na análise da Fecomércio-SP, os dados dessas cidades são preocupantes para as populações locais, uma vez que indicam que há pressão sobre o mercado de crédito, aumentando custos com novos empréstimos e dificultando o pagamento das despesas atuais, além de travar investimentos de longo prazo. O resultado disso é um desenvolvimento econômico mais contido do que outras metrópoles.
Em situação oposta, estão cidades como São Paulo, onde 20% das casas estão vivendo com despesas ainda não pagas; Palmas, com 18%; Curitiba, com 14%; e João Pessoa, em que a taxa é de apenas 6%. São locais onde, além da gestão financeira mais adequada do orçamento familiar, há conjunturas econômicas que permitem que a população não dependa tanto de modalidades de crédito, muito em razão da maior capacidade de pagamento das contas, seja pela massa de renda – como é o caso da capital paraibana, em que os rendimentos dos lares subiram 20,8%, entre 2022 e 2024 -, seja pelo mercado de trabalho, que se manteve aquecido nesse período.
Ainda segundo o estudo, enquanto algumas capitais brasileiras viram o número de lares inadimplentes cair nos últimos dois anos, outras apontaram um salto nesse fenômeno [tabela 1]. É o caso, notadamente, de Manaus, onde a taxa de inadimplência familiar subiu 16 p.p. no intervalo, passando de 29% de famílias nessa situação, em 2022, para 45%, agora.
Em Goiânia, a elevação foi de 15 p.p., saindo da lista das cidades com a menor quantidade de casas com contas atrasadas (19%) para uma situação acima da média nacional (34%). Em Belo Horizonte, líder do ranking, inclusive, as condições se agravaram bastante no último biênio, com uma alta de 11 p.p. no número de lares vivendo com contas vencidas. O fenômeno inverso ocorreu em capitais como Recife, João Pessoa, Rio de Janeiro e Porto Alegre, onde a porcentagem de famílias inadimplentes praticamente manteve-se o mesmo ao longo do período analisado. Na capital pernambucana, em especial, o indicador chegou a subir em 2023, mas, atualmente, está no mesmo patamar de dois anos atrás (27%).
Os dados da Fecomércio-SP ressaltam que, entre 2022 e 2024, a proporção das dívidas dentro do orçamento familiar se manteve inalterado em torno de 30%. Em outras palavras, um terço dos rendimentos dessas pessoas, nas capitais, está sendo utilizado para pagar despesas em curso ou para liquidar eventuais atrasos. Isso significa que, se uma família tem uma renda mensal de R$ 3 mil, cerca de R$ 900 são destinados a sanar dívidas. O fenômeno, porém, se deu de forma bastante desequilibrada entre as capitais do país. Em Teresina, por exemplo, essa margem segue em torno de 43%, praticamente no mesmo patamar de dois anos atrás. Situação parecida com a de locais como Macapá, onde 36% da renda familiar está comprometida com dívidas, e Natal, em que esse número é de 35%.
Do outro lado está, mais uma vez, a capital paraibana: atualmente, apenas 12% da renda dos lares de João Pessoa é destinada a pagar dívidas, segundo os dados da Fecomércio-SP. É, de longe, a proporção mais baixa do país. Em seguida, aparecem Distrito Federal, com 22%, e Campo Grande, com 25%.
Já informações da Serasa Experian mostram que no segundo trimestre deste ano, considerando apenas dívidas que venceram por mais de 180 dias e que foram contraídas em setores que se relacionam às principais atividades do agronegócio, a inadimplência alcançou apenas 7,4% da população rural que atua como pessoa física no Brasil. Em comparação com os primeiros três meses de 2024, houve uma leve alta de 0,3 pontos percentuais.
De acordo com o head de Agronegócio da Serasa Experian, Marcelo Pimenta, o quadro pode ser representado como relativamente positivo, pois a variação trimestral foi muito baixa.
“Mesmo com as dificuldades para acesso a crédito, rolagem de dívida, patamar do preço das commodities, e outros desafios, como os acontecimentos climáticos que afetaram a estabilidade financeira no campo, os números de inadimplência no agro se mantiveram praticamente iguais e a maior parcela dos proprietários rurais do país estão conseguindo honrar seus compromissos financeiros e continuar mantendo um saldo positivo para o setor.”
Neste estudo, a estratificação por porte revelou que grandes proprietários tiveram a maior representatividade e 9,8% deles foram impactados pela inadimplência. Aqueles que não possuem registro de cadastro rural – arrendatários, pessoas participantes de grupos econômicos ou familiares – vieram depois, com 9,3%. Os proprietários de médio porte marcaram 6,9% e os pequenos foram os menos afetados, com apenas 6,6%.
Os dados levantados pela Serasa Experian também revelaram que, quando maior a faixa etária do proprietário rural, menor é o índice de inadimplência registado. Ainda sobre o segundo trimestre de 2024, daqueles que têm entre 50 e 59 anos, 7,2% estavam com o nome no vermelho. A partir disso, quanto mais aumenta a idade mais o percentual diminui. Ainda em relação ao segundo trimestre deste ano, observando os setores em que as dívidas foram contraídas e negativadas, gerando as taxas de inadimplência analisadas neste estudo, é possível identificar que as dívidas com instituições financeiras – que financiam atividades no campo – marcaram a maior fatia, de 6,5%. No entanto, os percentuais de proprietários rurais inadimplentes no setor agro e em outros setores relacionados foram muito pequenos, de 0,1% e 0,2%, respectivamente. Essas categorias abrangem diversos produtos e serviços como agroindústrias de transformação e comércio atacadista agro, serviços de apoio ao agro, produção e revendas de insumos e de máquinas agrícolas, produtores rurais, seguradoras não vida, transportes e armazenamentos.
Para o head de Agronegócio da Serasa Experian é interessante analisar que, nesse cenário, a cadeia agro revela um quadro otimista em relação a inadimplência da população rural. “É fundamental reforçar essa diferenciação porque, se no geral apenas 7,3% dos proprietários rurais estão inadimplentes, nesse recorte o percentual permanece muito baixo”.
A avaliação por região agrícola mostrou que a inadimplência foi registrada em menor percentual no Sul, atingindo apenas 4,8%. Nesse sentido, o head de Agronegócio da Serasa Experian explica que é preciso considerar a suspensão das negativações no Rio Grande do Sul anunciada pela Associação Nacional dos Bureaus de Crédito (ANBC), que perdurou por 60 dias, em função das enchentes que ocorreram na região. Em sequência estava o Sudeste, com 6,2%, e o Centro-Oeste Agro, que marcou 7,6%.
Foram consideradas apenas pessoas com dívidas vencidas com mais de 180 dias e até cinco anos somando pelo menos R$ 1.000 dentre aquelas que estão relacionadas ao financiamento e atividades agronegócio, como, por exemplo, instituições financeiras, agroindústria de transformação e comércio atacadista agro, serviços de apoio ao agro, produção e revendas de insumos e de máquinas agrícolas, produtores rurais, seguradoras não vida, transportes e armazenamentos.
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