Desigualdade aumenta risco e custo de pandemias, alertam especialistas

Relatório alerta que desigualdade aumenta riscos e custos de pandemias, tornando-as mais letais, longas e economicamente danosas.

285
Compras durante lockdown (foto de Ioannis Kounelis, JRC-CE)
Compras durante lockdown (foto de Ioannis Kounelis, JRC-CE)

Um relatório elaborado por economistas, especialistas em saúde pública e líderes políticos aponta que altos níveis de desigualdade aumentam o risco de surtos se tornarem pandemias e dificultam respostas eficazes, tornando as crises de saúde mais prolongadas, letais e economicamente prejudiciais.

O estudo, resultado de dois anos de pesquisas globais, destaca ainda que as pandemias reforçam a desigualdade, criando um ciclo observado na COVID-19, HIV/AIDS, Ebola, influenza, mpox e outros. Ele analisa determinantes sociais das pandemias e propõe ações para enfrentá-las, conectando comunidades e governança multissetorial.

O relatório, do Conselho Global sobre Desigualdade, AIDS e Pandemias e convocado pelo UNAIDS, é co-presidido pelo Prêmio Nobel Joseph E. Stiglitz, pela ex-primeira-dama da Namíbia Monica Geingos, pelo epidemiologista Sir Michael Marmot e pelo Secretário de Estado da Saúde da Espanha, Javier Padilla. Ele oferece recomendações sobre política econômica global, acesso a medicamentos e preparação para futuras pandemias, além de estratégias para combater crises de saúde existentes, como HIV, tuberculose e pneumococo.

As conclusões surgem pouco antes das reuniões de ministros da saúde do G20, em um contexto de surtos internacionais de gripe aviária e mpox, e com órgãos reguladores aprovando novos medicamentos para prevenção do HIV.

Espaço Publicitáriocnseg

Segundo o relatório, países com altos níveis de desigualdade apresentaram taxas de mortalidade mais elevadas por COVID-19, HIV e AIDS, além de dificuldades na implementação de respostas eficazes. Em cidades africanas estudadas, moradores de favelas apresentaram maior prevalência de HIV em comparação a outras áreas, refletindo desigualdades em riqueza, educação, emprego e moradia.

No Brasil, pessoas sem educação básica tiveram risco de morte por COVID-19 várias vezes maior que aquelas com ensino fundamental completo. Na Inglaterra, residir em moradias superlotadas também esteve associado a taxas mais altas de mortalidade. Países de alta renda gastaram quatro vezes mais do que países de baixa renda no enfrentamento da COVID-19, e o acesso desigual a vacinas e medicamentos contribuiu para infecções evitáveis e surgimento de variantes resistentes.

O relatório alerta que “o fracasso em abordar desigualdades e determinantes sociais deixou o mundo vulnerável e despreparado para a próxima pandemia”. Ele ressalta que decisões políticas equivocadas durante crises podem enfraquecer sistemas de saúde, educação e proteção social, tornando as sociedades menos resilientes.

Winnie Byanyima, diretora-executiva do UNAIDS, afirma que reduzir desigualdades “resultará em vidas melhores, mais justas e mais seguras para todos”.

O relatório traz quatro recomendações principais:

  1. Remover barreiras financeiras globais para permitir que todos os países tenham capacidade fiscal suficiente.
  2. Investir nos determinantes sociais das pandemias e fortalecer mecanismos de proteção social para reduzir desigualdades.
  3. Estimular produção local e regional e garantir compartilhamento de tecnologias essenciais.
  4. Promover confiança, equidade e eficiência na resposta a pandemias por meio de governança multissetorial envolvendo governos, comunidades, organizações de direitos humanos e líderes científicos.

O estudo reforça que políticas globais e nacionais voltadas à redução da desigualdade são essenciais para proteger o mundo contra futuras crises de saúde.

Fonte: EuropaPress

Siga o canal \"Monitor Mercantil\" no WhatsApp:cnseg