Desigualdade, estagnação de renda e desemprego de jovens ameaçam desenvolvimento sustentável

Dados são da OIT; já pesquisa do Insper mostra que diferença salarial entre negros e brancos chega a 42%

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Jovens (Foto: Galeria de Fora do Eixo/CC)
Jovens (Foto: Galeria de Fora do Eixo/CC)

A crescente lacuna entre a renda do trabalho e a do capital e os desafios enfrentados pelos jovens no mercado de trabalho são preocupantes e colocam em risco o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até o prazo de 2030.

O alerta foi feito pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), em relatório divulgado ontem.

O estudo revela que a participação da renda do trabalho no mundo, que representa a parcela da renda total obtida pelos trabalhadores e pelas trabalhadoras, caiu 0,6 pontos percentuais de 2019 a 2022 e desde então permaneceu estagnada. Se a participação tivesse permanecido no mesmo nível de 2004, a renda do trabalho teria aumentado em US$ 2,4 trilhões somente em 2024.

No recém-lançado relatório Perspectiva Mundial do Emprego e Social: Atualização de Setembro de 2024 (World Employment and Social Outlook: September 2024 Update), a OIT constata uma pressão crescente sobre a desigualdade, à medida que a participação da renda do trabalho está estagnada e uma grande parcela de jovens permanece sem trabalho, educação ou treinamento.

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O estudo revela que a participação da renda do trabalho no mundo, que representa a parcela da renda total obtida pelos trabalhadores e pelas trabalhadoras, caiu 0,6 pontos percentuais de 2019 a 2022 e desde então permaneceu estagnada – agravando uma tendência de declínio no longo prazo. Se a participação tivesse permanecido no mesmo nível de 2004, a renda do trabalho teria aumentado em US$ 2,4 trilhões somente em 2024.

O material destaca que a pandemia da Covid-19 foi um fator-chave para essa queda, já que quase 40% da redução na participação da renda do trabalho ocorreu durante os anos da pandemia de 2020-2022. A crise exacerbou as desigualdades existentes, sobretudo porque a renda do capital continua a se concentrar com os mais ricos, prejudicando o progresso em relação ao ODS 10, que visa reduzir a desigualdade dentro e entre os países.

O relatório indica um progresso lento em relação ao cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) à medida que o prazo de 2030 se aproxima.

Avanços tecnológicos, incluindo a automação, desempenharam um papel nessa tendência. Embora essas inovações tenham impulsionado a produtividade e a produção, as evidências sugerem que esses ganhos não estão sendo compartilhados de forma equitativa com os trabalhadores e as trabalhadoras.

O relatório adverte que, sem políticas amplas para garantir que os benefícios do progresso tecnológico sejam amplamente compartilhados, os desenvolvimentos recentes no campo da inteligência artificial podem aprofundar a desigualdade, colocando em risco o cumprimento dos ODS.

“Os países devem agir para reduzir o risco de queda da participação da renda do trabalho. Precisamos de políticas que promovam uma distribuição equitativa dos benefícios econômicos, incluindo a liberdade sindical, a negociação coletiva e uma administração do trabalho mais eficaz, para alcançar um crescimento inclusivo e construir um caminho para o desenvolvimento sustentável para todas as pessoas”, disse Celeste Drake, diretora-geral adjunta da OIT.

Com base no recente relatório Global Employment Trends for Youth (GET Youth) publicado pela OIT, o estudo também identifica a grande parcela de jovens fora do mercado de trabalho, da educação e de programas de treinamento como uma área persistente de preocupação.

Como mostrou o GET Youth, a taxa global de jovens “nem-nem” registrou apenas uma modesta diminuição, de 21,3% em 2015 para 20,4% em 2024, e a previsão é de que permaneça estável pelos próximos dois anos. A taxa feminina dos “nem-nem” – que foi de 28,2% em 2024 – é mais do que o dobro da enfrentada por jovens do sexo masculino, comprometendo o alcance do ODS 8.

Aqui no Brasil, pesquisa feita pelo Núcleo de Estudos Raciais do Insper (NERI) que aponta disparidades salariais entre trabalhadores brancos e negros no Brasil. O levantamento destaca que o salário médio de um colaborador negro é 42% menor se comparado com um funcionário branco.

Respectivamente, os valores são de R$ 2.858 e R$ 4.956. No caso das mulheres, essa diferença chega a 40%. A média salarial chega a R$ 2.278 contra R$ 3.813.

Além disso, a pesquisa “O Custo Salarial da Desigualdade Racial” mostra ainda que a taxa de desemprego de trabalhadores negros é 1,4 vez maior em relação aos brancos (5,99% x 3,5%) enquanto a de mulheres negras chega a 1,5 vez superior na comparação com as brancas (7,95% x 5,35%).

Da diferença salarial entre os homens, a análise estima que isso ocorre em função da discriminação. No caso das mulheres, existem ainda outros fatores ligados às características das colaboradoras, como educação, tipo de emprego e local de moradia.

Outro dado interessante é sobre a massa salarial total perdida pela desigualdade, que chega a R$ 103 bilhões, dos quais R$ 62 bilhões por parte dos homens e R$ 41 bilhões com as mulheres. Ainda dentro do valor global, a pesquisa estima que cerca de R$ 14 bilhões se deve somente à discriminação racial.

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