Desigualdades de gênero no emprego são maiores do que se pensa

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Assédio no trabalho (foto de Yan Krukov, Pexels, CC)
Assédio no trabalho (foto de Yan Krukov, Pexels, CC)

Os desequilíbrios de gênero no acesso ao emprego e às condições de trabalho são maiores do que se pensava anteriormente. A afirmação está em um novo relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Outra descoberta do estudo é que, nas duas últimas décadas, o progresso para a redução dessa lacuna tem sido muito lento.

O documento “Novos dados esclarecem as diferenças de gênero no mercado de trabalho”, indica que 15% das mulheres em idade produtiva em todo o mundo gostariam de trabalhar, mas não têm emprego, em comparação com 10,5% dos homens.

Mulheres continuam enfrentando maior índice de desemprego na comparação com homens.

ONU Mulheres/Piyavit Thongsa-Ard Mulheres continuam enfrentando maior índice de desemprego na comparação com homens.

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Essa diferença de gênero permaneceu quase inalterada por duas décadas, de 2005 a 2022. Em contraste, as taxas globais de desemprego para mulheres e homens são muito semelhantes, porque os critérios usados para definir o desemprego tendem a excluir desproporcionalmente as mulheres.

Um novo indicador, desenvolvido pela OIT, capta todas as pessoas sem emprego que estão interessadas em encontrar um emprego. Ele reflete um quadro muito mais sombrio da situação das mulheres no mundo do trabalho do que a taxa de desemprego mais comumente usada.

Os novos dados mostram também que as mulheres ainda têm muito mais dificuldade em encontrar um emprego do que os homens.

A lacuna de postos de trabalho é particularmente grave nos países em desenvolvimento, onde a proporção de mulheres incapazes de encontrar uma vaga chega a 24,9% nos países de baixa renda.

A taxa correspondente para os homens na mesma categoria é de 16,6%, um nível preocupantemente alto, mas significativamente inferior ao das mulheres.

A análise aponta que as responsabilidades pessoais e familiares, incluindo o trabalho de cuidados não remunerado, afetam desproporcionalmente as mulheres.

Essas atividades se tornam um impedimento não apenas para uma contratação, mas também para procurar emprego ativamente ou para estarem disponíveis para trabalhos de última hora.

No Brasil, segundo levantamento do Dieese, a maioria dos domicílios é chefiada por mulheres: dos 75 milhões de lares, 50,8% (38,1 milhões de famílias) tinham liderança feminina. Já as famílias com chefia masculina somaram 36,9 milhões (49,2%). As mulheres negras lideravam 21,5 milhões de lares (56,5%) e as não negras, 16,6 milhões (43,5%), no terceiro trimestre do ano passado.

Em termos de renda média do trabalho da família, os domicílios de casais com e sem filhos receberam os maiores valores (R$ 4.987 e R$ 4.898, respectivamente). Já as famílias formadas por mulher não negra com filhos têm renda de R$ 3.547; e por mulher negra com filhos, R$ 2.362. Já as famílias de homem não negro com filhos têm renda de R$ 4.860; e de homem negro com filhos, R$ 2.923.

“Os indicadores mostraram o que se vivencia na prática: um contingente de mulheres que ganha menos se insere de forma precária e leva mais tempo em busca de colocação no mercado de trabalho. Esse quadro faz com seja perpetuada a situação de vulnerabilidade não só da mulher chefe de família, mas de todos os familiares, com a transferência de milhares de crianças e jovens da escola para o mercado de trabalho, para que contribuam com a renda da família”, destaca a pesquisa do Dieese.

De acordo com a entidade, para mudar esse cenário será necessário reforçar políticas transversais de igualdade de gênero, garantir igualdade de oportunidades no mercado de trabalho, reduzir a desigualdade econômica e aumentar o número de mulheres em posição de liderança.

“É preciso que o país cresça e gere renda e emprego de qualidade, mas é necessário também enfrentar as desigualdades de gênero, raça e cor, e que as mulheres tenham mais voz na sociedade, via negociação coletiva e políticas públicas.”

Inclusão

Já com relação a investimentos em diversidade, inclusão e equidade, a forma como as mulheres se sentem em relação ao local de trabalho está mudando. É o que mostra uma pesquisa da Bain & Company realizada na América do Sul.

A consultoria identificou que 72% das brasileiras heterossexuais consideram que o sentimento de inclusão melhorou nos últimos anos. A percepção de melhora é mais evidente quando selecionamos grupos sub-representados, como mulheres LGBTQIA+ brancas (73%) e negras (75%).

A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministra Rosa Weber, afirmou nesta segunda-feira que é urgente a perspectiva de gênero ser adotada em todo o sistema judiciário brasileiro. A ministra esteve, nesta segunda-feira, em um seminário sobre a teoria e a prática da aplicação da metodologia no Judiciário. O evento ocorre por ocasião do Dia Internacional da Mulher, a ser comemorado nesta quarta-feira.

Rosa Weber frisou como as leis e normas foram historicamente concebidas “de forma a não considerar a mulher como ator político e institucional relevante na sociedade”, motivo pelo qual é necessário agora aplicar uma “lente de gênero” sobre essas normas abstratas, de modo a garantir igualdade de tratamento”.

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