Desmatamento caiu em todos os biomas do Brasil

Para MapBiomas, país teve redução de 32,4% em área desmatada; segundo Greenpeace, apesar da boa notícia, Amazônia em abril perdeu área equivalente a BH

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Desmatamento na Amazônia (Foto: ABr/arquivo)
Desmatamento na Amazônia (Foto: ABr/arquivo)

Pela primeira vez desde o início da série histórica do MapBiomas Alerta, iniciada em 2019, todos os biomas do Brasil registraram, em um mesmo ano, redução ou estabilidade na área de desmatamento. É o que aponta a nova edição do Relatório Anual do Desmatamento no Brasil (RAD). Os dados se referem ao ano de 2024 e indicam um recuo de 32,4% na área total desmatada em comparação com 2023.

Segundo o levantamento, foram 1.242.079 hectares de vegetação nativa suprimidos no país no último ano, distribuídos em 60.983 alertas validados. É o segundo ano consecutivo de redução no desmatamento no Brasil – em 2023, a queda havia sido de 11% em relação a 2022.

Entre os destaques, o Cerrado manteve a liderança como bioma mais desmatado do país, com 652.197 hectares, o que representa mais da metade (52,5%) de toda a área desmatada no país em 2024. No entanto, o número representa uma queda significativa de 40% em relação ao ano anterior. A região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) concentrou 75% do desmatamento no Cerrado e cerca de 42% de toda a perda de vegetação nativa no país.

O Maranhão aparece novamente como o estado que mais desmatou em 2024, com 218.298 hectares, seguido pelo Pará. Juntos, os dois estados concentram mais de 65% do desmatamento no Brasil. Os municípios com maiores aumentos proporcionais no desmatamento estão no Piauí: Canto do Buriti, Jerumenha, Currais e Sebastião Leal.

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A Amazônia ficou em segundo lugar, com 377.708 hectares desmatados – o menor número da série histórica do RAD. A região conhecida como Amacro (Acre, Amazonas e Rondônia) registrou queda pelo segundo ano seguido. Apesar disso, o Acre teve aumento de 30% no desmatamento em 2024.

Na Caatinga, houve 174.511 hectares desmatados, com destaque para o maior alerta individual já registrado pelo MapBiomas Alerta desde 2019: 13.628 hectares desmatados em uma única propriedade no Piauí, em apenas três meses.

O Pantanal, por sua vez, registrou a maior redução proporcional de desmatamento: 58,6% a menos do que em 2023. O Pampa e o Cerrado vêm na sequência com quedas de 42,1% e 41,2%, respectivamente. Já na Mata Atlântica, o desmatamento se manteve estável, após forte queda de quase 60% em 2023. No entanto, eventos climáticos extremos no Rio Grande do Sul elevaram as perdas de vegetação nativa no estado em 70%.

As formações savânicas continuaram como as mais desmatadas (52,4% do total), seguidas pelas formações florestais (43,7%).

Nas Unidades de Conservação, a queda também foi expressiva: 42,5% a menos que em 2023, totalizando 57.930 hectares desmatados. A Área de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu, no Pará, liderou com 6.413 hectares. Já nas Terras Indígenas, apenas 33% tiveram registros de desmatamento, com queda de 24% em relação ao ano anterior. A Terra Indígena Porquinhos dos Canela-Apãnjekra (MA) liderou com 6.208 hectares, um aumento de 125%.

Goiás foi o estado com a maior redução proporcional no desmatamento: 71% a menos que em 2023. Também tiveram reduções superiores a 60% o Paraná, Espírito Santo e o Distrito Federal.

Apesar dos avanços, o histórico ainda é alarmante. Desde 2019, o Brasil perdeu quase 10 milhões de hectares de vegetação nativa – área equivalente à da Coreia do Sul. A agropecuária é a responsável por mais de 97% dessa perda. O garimpo concentrou 99% de sua destruição na Amazônia, enquanto 93% da perda associada a empreendimentos de energia renovável se concentrou na Caatinga. Já o Cerrado respondeu por quase metade do desmatamento ligado à expansão urbana em 2024.

Apesar da boa notícia sobre a queda de nos alertas de desmatamento na Amazônia nos primeiros quatro meses de 2025 anunciada pelo Governo Federal, o Greenpeace Brasil alerta para o aumento de mais de 55% nos alertas de abril deste ano, em comparação com o mesmo período de 2024 (para comparar as taxas mensais, é preciso comparar o mesmo mês em diferentes anos).

Segundo os dados do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), os alertas de desmatamento saltaram de 174 quilômetros quadrados de abril de 2024 para 270 quilômetros quadrados em abril de 2025. A área é equivalente ao tamanho de capitais como Belo Horizonte ou Curitiba.

“Os dados do Deter de abril mostram que as políticas de comando e controle de desmatamento são eficazes, porém, sozinhas, não garantirão que alcancemos a meta do desmatamento zero, meta esta que deve ser alcançada muito antes de 2030. É importante que outras ações com efeitos perenes avancem mais rapidamente para coibir o desmatamento”, afirma a porta-voz do Greenpeace Brasil, Thais Bannwart.

O Greenpeace Brasil lembra que a expansão da agropecuária na Amazônia tem sido o motor principal do desmatamento no bioma há décadas, e que a pastagem é responsável por mais de 90% do desmatamento na Amazônia brasileira nos últimos 39 anos (de 1985 a 2023), segundo dados do Mapbiomas.

Por isso, a organização defende que seja adotado o monitoramento para toda a cadeia produtiva da agropecuária no Brasil, seja nos financiamentos ou nas cadeias produtivas dos frigoríficos. “Enquanto houver acesso ao crédito rural e investimentos sem critérios socioambientais robustos, bem como empresas que compram e comercializam gado com rastro de desmatamento, essa realidade de desmatamento e devastação das florestas não vai mudar”, diz Bannwart.

A porta-voz lembra que, enquanto o uso de combustíveis fósseis é a principal fonte de emissões de gases do efeito estufa no mundo, a principal fonte de emissões desses gases no Brasil é o desmatamento, promovido principalmente pelo avanço do agronegócio sobre ambientes naturais e cuja atividade, por si só, também contribui com um grande volume de emissões.

“Em ano de COP30 na Amazônia, é hora de darmos nome ao grande vilão do clima, para além dos combustíveis fósseis: o agronegócio. Se quisermos frear as mudanças climáticas, precisamos zerar o desmatamento e, para isso, as grandes empresas do agronegócio precisam ser contidas e reduzir drasticamente as emissões associadas à agropecuária. Proteger a Amazônia é urgente e requer maior ambição, chega de boi comendo a floresta”, diz Bannwart.

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