Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres

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Irmãs Mirabal (foto Casa Museo Hermanas Mirabal)
Irmãs Mirabal (foto Casa Museo Hermanas Mirabal)

A desigualdade de gênero atravessa os séculos e, apesar das conquistas, ainda subsistem iniquidades. Segundo a ONU, uma em cada três mulheres é vítima de violência física ou sexual ao longo da vida, sendo que esses números ficam ainda mais acentuados em situações de crise humanitária, que é quando ocorrem calamidades, sejam provocadas pela natureza ou pela mão humana.

Muitas violências de gênero seguem sob a bandeira da cultura ou do silêncio, como a mutilação genital feminina, o casamento infantil e o tráfico de mulheres.

Existe, portanto, uma seletividade que desfavorece as mulheres enquanto grupo e que precisa ser combatida. Por isso, para marcar essa luta, foi criado um dia para mobilizações e ações. Mas, antes de falarmos dessa data, vejamos a história de três mulheres corajosas que desafiaram um regime ditatorial e foram brutalmente assassinadas.

O caso emblemático ocorreu na República Dominicana, em 1960. Patria, Maria Teresa e Minerva, conhecidas como as Irmãs Mirabal, levantaram a voz contra o regime do então ditador General Rafael Trujillo. Chegaram a ser advertidas de que corriam risco em razão de seu ativismo, ao que Minerva respondeu: “Se me matam, levantarei os braços do túmulo e serei mais forte.”

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Certo dia, ao retornarem de uma visita à prisão onde estavam os maridos de Maria Teresa e de Minerva, que eram presos políticos, tiveram o veículo interceptado por militares. As três irmãs e o motorista foram espancados até a morte e seus corpos colocados no automóvel, que foi jogado de um precipício para parecer um acidente.

A versão oficial dessa tragédia não convenceu ninguém, e as Irmãs Mirabal se tornaram mártires e um símbolo do feminismo. Daí terem sido homenageadas no 1º Encontro Feminista Latino-Americano e do Caribe, realizado em Bogotá, na Colômbia, em 1981, com a deliberação de que o dia 25 de novembro, data do assassinato das irmãs, marcaria mobilizações para expor a violência contra as mulheres latino-americanas e caribenhas.

A atuação dessas mulheres, também conhecidas como As Borboletas, fez delas um ícone de luta por tempos melhores, merecendo registro que o brutal regime de Trujillo caiu logo após terem sido assassinadas. A casa de sua família se tornou o Museo Hermanas Mirabal. Um centro cultural levando seu nome foi fundado em Nova York, em 1990, com o objetivo de promover ações e exigir justiça social, atuando, entre outras áreas, para reduzir a violência doméstica.

Inspiraram o livro No Tempo das Borboletas, de Julia Alvarez, que foi adaptado para o cinema. Receberam homenagens póstumas na República Dominicana, nos EUA e na França. E o 25 de novembro, que era uma data regional, passou a ter alcance global quando, em 1999, a Assembleia Geral da ONU o elegeu como o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres.

Como sabemos, as borboletas bem conhecem o fenômeno da transformação, e foi o que se deu com as Irmãs Mirabal. Afinal, com sua morte, o combate às injustiças ao nível local foi amplificado para o mundo, realizando assim o que havia sido prenunciado por Minerva: do túmulo serei mais forte.

 

Wagner Cinelli de Paula Freitas é desembargador do TJRJ e autor do livro Sobre ela: uma história de violência.

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