Dia negativo para os mercados, após alta de juros surpresa do RBA (o BC da Austrália), dados europeus ruins e ventos negativos nos EUA, com anúncio da Apple decepcionante e notícias de novas regulações dos bancos, além do maior risco geopolítico, após a explosão da barragem de Nova Kakhovka, na Ucrânia. Commodities mistas, com trigo liderando as altas, enquanto petróleo é destaque na outra ponta, levando à nova queda dos juros. Dólar opera com viés global de leve queda. Por aqui, destaques IGP-DI, que deve ter deflação forte, e a apresentação da reforma tributária, após o relator Reginaldo Lopes (PT-MG) dizer que deve entregar o relatório hoje. O Ibovespa deve abrir com viés de baixa, enquanto dólar deve abrir para baixo. Nos juros, mesmo após um rali fenomenal, a deflação no IGP-DI, os menores riscos fiscais e o otimismo com o avanço das reformas no Congresso devem levar à nova queda das taxas.
Ásia: em dia sem negociações em Seul, Bolsas fecharam mistas, após surpresa com a decisão do RBA, com os índices em Tóquio fazendo novas máximas. Na Austrália, o BC do país subiu os juros em 0,25% (ante expectativa de 0%), de 3,85% para 4,10%, alertando que a inflação fez pico, mas segue muito alta, o que pode exigir novas altas. No Japão, gasto de consumo das famílias abaixo do consenso (ante expectativa de 0,6%), caindo 1,3% (-4,4% a/a) em abril. Kazuo Ueda (BoJ) disse que os estímulos monetários seguirão até que a meta de inflação seja atingida, o que exigirá expectativas de inflação em 2%. Hoje, PIB da Austrália (1T23) às 20h50 e balança comercial da China (maio) às 0h. Philip Lowe (RBA) fala às 20h20.
Na Europa, dados ruins e o clima de cautela devido a riscos geopolíticos leva à queda das Bolsas. Na Alemanha, encomendas à indústria abaixo do consenso (ante expectativa de 3,8%), caindo 0,4% (-9,9% a/a) em abril. Na Espanha, produção industrial caiu 1,8% em abril, queda interanual de 0,9% (ante expectativa de 1,5% a/a). Na Zona do Euro, o PPI caiu 3,2%, somando 1,0% (ante expectativa de 1,7% a/a) em 12 meses, mínima desde fevereiro de 2021. Kaas Knot (do DNB, o BC dos Países Baixos) afirmou que o pior da inflação já passou, mas que novas altas de juros são necessárias. Christine Lagarde (BCE) disse que não há evidências de pico na inflação, mas que as altas de juros estão surtindo efeito. Joachim Nagel (Bundesbank) disse que as pressões de preço estão altas, reduzindo pouco na margem, o que exigirá “muitas altas”de juros. Na Ucrânia, evacuações na região de Kherson, após a explosão da barragem de Nova Kakhovka. Na agenda, vendas no varejo da Zona do Euro (maio) às 6h.
Na EUA, a decepção com o anúncio da Apple e dados ruins de ontem pesam nos futuros, que operam próximos da estabilidade, em meio ao clima global mais cauteloso. Núcleo de encomendas à indústria abaixo do consenso (ante expectativa de 0,2%), recuando 0,2% (-3,6% a/a) em abril. PMIs de serviços (maio): da ISM, caiu de 51,9 para 50,3 pontos (ante expectativa de 52,4), mínima em cinco meses; da Markit, subiu de 53,6 para 54,9 pontos (prévia 55,1). Segundo o WSJ, as novas regulações bancárias podem exigir um aumento de 20% na provisão de capital dos grandes bancos. Na agenda, estoques de petróleo da API (do dia 6 de maio) às 17h30.
Aqui no Brasil, em dia negativo em Nova Iorque, após frustração com dados de atividade fracos, mercado local teve sessão amena, apesar da alta das commodities e das quedas dos juros, com a parte cíclica da Bolsa acompanhando o exterior e o Ibovespa fechando 112.692 pontos (0,12%). O carrego atrativo e a fraqueza global da moeda americana favoreceram o real, com o dólar fechando em R$ 4,93 (-0,45%). A queda das expectativas no Focus, as falas mais construtivas dos diretores do BC e a queda dos juros americanos após dados fracos fizeram a curva de DI futuro desabar, com os vértices de médio e longo prazo caindo quase 20 pontos.
O PMI de serviços recuou de 54,5 para 54,1 pontos (-7,1% a/a) em maio, mas com a recuperação no PMI industrial, o PMI composto subiu de 51,8 para 52,3 (-5,7% a/a), máxima em sete meses. Relatório Focus (do dia 2 de junho): no IPCA, quedas de 5,71% para 5,69% (2023) e de 4,13% para 4,12% (2024) e seguiu em 4,00% (2025). No PIB, alta de 1,26% para 1,68% (2023), queda de 1,30% para 1,28% (2024) e seguiu em 1,70% (2025). Na taxa Selic, estáveis em 12,50% (2023), em 10,0% (2024) e em 9,0% (2025). O ministro da Fazenda Fernando Haddad anunciou que o governo oferecerá, por quatro meses, descontos de 1,6% até 11,6% mil para compras de veículos, sendo R$ 700 mi para caminhões, R$ 500 mi para carros populares e R$ 300 mi para ônibus e caminhões. O programa será financiado pela reoneração de R$ 0,11/litro de diesel, a partir de setembro, o que deve arrecadar R$ 1,5 bi. Além disso, foi assinada a MP do Desenrola, buscando tirar 1,5 mi de inadimplentes no SPC/Serasa, priorizando a renegociação de quem recebe até dois salários-mínimos e deve até R$ 5 mil, com o TN aportando R$ 10 bi no programa. Na agenda, IGP-DI (maio) às 9h, produção de veículos da Anfavea (maio) às 10h e leilão do TN (LFT e NTN-B) às 11h30.
Campos Neto afirmou que a inflação global está caindo e que a dinâmica recente tem sido melhor, que as expectativas de inflação estão caindo e que o cenário clareou um pouco, mas que os núcleos de inflação estão caindo devagar. A atividade está resiliente e a desaceleração do crédito é moderada. Diogo Guillen (também do BC) disse que a atividade local está desacelerando, mas segue resiliente, que o mercado de crédito está em linha, que não há relação mecânica entre políticas fiscal e monetária e que há boas notícias nas inflações de alimentos e de industriais, mas que as expectativas de inflação de 2024 seguem acima da meta.
Ótima terça-feira!
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Nicolas Borsoi
Economista-chefe da Nova Futura Investimentos
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