O ataque ao seu território a 11 de setembro último por um inimigo de identidade estatal esquiva e com armas imprevisíveis abalou os fundamentos da estratégia militar norte-americana que, com sucesso, nos últimos 50 anos, teve sua defesa assegurada nos princípios de contenção e dissuasão.
No discurso pronunciado há cerca de um mês na Academia de West Point, o presidente Bush reafirmou os princípios de uma nova estratégia, chamada de “defensiva preventiva” que deverá permitir aos Estados Unidos a atacarem as organizações terroristas e os países que os apoiem, onde forem caracterizados.
A estratégia de defensiva preventiva prevê uma ação militar unilateral dos Estados Unidos, independente de acordos ou tratados internacionais, cabendo a Washington apontar os alvos a serem atacados, organizações terroristas e governos que os apoiam.
Os estrategistas do Pentágono já selecionaram os governos que dão suporte aos terroristas, apelidando-os de Eixo do Mal = Iraque, Iran e Coréia do Norte. Seriam os primeiros alvos a ser atacados.
Esta nova estratégia norte-americano vem causando profundas preocupações entre seus aliados tradicionais e mesmo entre destacadas personalidades da política local.
Passados os momentos de exaltação e surpresa causados pelos atentados contra as torres do World Trade Center e o Pentágono, quando uma reação irracional aceitaria qualquer tipo de revanche, o tempo vem conduzindo o povo norte-americano a diminuir a emoção e a apurar a reflexão, isto apesar das ameaças que perduram.
Importantes personalidades políticas, principalmente membros do Partido Democrático, vêm manifestando seu receio de que a nova estratégia do presidente Bush possa levar os Estados Unidos a uma insustentável posição de isolamento internacional. Sustentam que na era da globalização não é mais sustentável uma posição de decisões unilaterais. Reforçam seus argumentos afirmando que as ameaças de aplicar a “intervenção preventiva” no Iraque, anunciada por Bush há mais de seis meses, que seria o teste inaugural da nova estratégia, não pôde até hoje ser executada, ante a imposição aos estrategistas do Pentágono em reconhecer que a reação dos países árabes, até mesmo dos seus aliados tradicionais, levaria a um verdadeiro desastre político.
Não é difícil de se compreender a encruzilhada estratégica em que se encontram o Presidente Bush e o Pentágono. Até agora, mais de oito meses passados desde que anunciaram a guerra total ao terrorismo e mobilizaram todo seu poder militar e toda capacidade diplomática a fim de se protegerem contra as ações solertes e inesperadas desta arma traiçoeira, os resultados alcançados foram pouco compensatórios. O território norte-americano continua ameaçado apesar de seu poderosíssimo poder militar e a sua população continua a viver sob tensão na expectativa de novas agressões.
A grande nação norte-americana acaba de comemorar o Dia de sua Independência. Esta data festiva teve que ser festejada sob a proteção do maior dispositivo de segurança já realizado no seu território. Isto vem provar que todas as medidas de guerra ao terrorismo até então realizadas, com enorme aparato militar e imenso desdobramento diplomático mostraram-se insatisfatórias. O néo terrorismo, baseado na utilização do homem suicida, de infiltração e aparecimento imprevisível, veio colocar em crise de inutilidade todos os poderosos meios militares de defesa do Estado. Seja de seu território, seja de sua população.
Este néo terrorismo, evasivo, esquivo nas suas origens, nas suas táticas e no seu apoio, e que decretou guerra aos Estados Unidos, é a nova arma estratégica contra a qual o presidente Bush e o Pentágono não sabem como se defender.
Carlos de Meira Mattos
General reformado do Exército e conselheiro da Escola Superior de Guerra (ESG).














