Dilma reúne coordenação política após manifestações de rua

144

Um dia depois das manifestações que levaram milhares de pessoas às ruas, a coordenação política do governo promoveu reunião na manhã de hoje, no Palácio do Planalto, para avaliar os atos. Durou cerca de uma hora e meia.
Além da presidente Dilma Rousseff, participaram sete ministros, entre eles, o da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, o da Casa Civil, Jaques Wagner, e o da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Edinho Silva.
Os três já haviam se reunido ontem, no Palácio da Alvorada, com a presidente e com o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo. No domingo à noite, o governo avaliou, em nota, como própria das democracias a liberdade de manifestação e destacou que o caráter pacífico dos atos demonstra a maturidade de um país que sabe conviver com opiniões divergentes.
A reunião de hoje no Palácio do Planalto também contou com a presença dos líderes do governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE), e no Congresso, José Pimentel (PT-CE).

Ministro do Esporte diz que eventos de domingo foram críticos ao governo e oposição
O ministro do Esporte, George Hilton, disse hoje que as manifestações de ontem apresentaram críticas à toda a classe política, que, na visão do ministro, precisa se unir e ouvir a “voz das ruas”.
– As críticas foram a todo mundo. Situação e oposição. Mostrando assim a necessidade para a classe política de que há de atentar à voz das ruas – disse o ministro, que visitou hoje a Vila dos Atletas e o Parque Olímpico da Barra, acompanhado da presidente da Caixa Econômica Federal, Miriam Belchior.
Segundo ele, “as lideranças estão percebendo que não adianta o quanto pior, melhor. É preciso estarem todos unidos. É preciso um pacto nacional pela governabilidade”, acrescentou ele, que avaliou as manifestações como “dentro da normalidade” e “pacíficas”.
A presidente da Caixa também comentou sobre as manifestações ao ser perguntada por jornalistas. Miriam Belchior disse que faz a mesma avaliação divulgada pela Presidência da República, em nota ontem, de que os atos foram pacíficos e democráticos.
–  A gente espera que as coisas sejam pacíficas, sigam a lei e todos os ritos da democracia no Brasil.

Atos mostram crise sistêmica na política, dizem especialistas
As manifestações ocorridas nesse domingo no país mostram que o Brasil vive uma crise sistêmica na política, na avaliação de especialistas ouvidos pela Agência Brasil.  
Apesar de o foco dos atos ter sido a crítica à corrupção, ao governo da presidente Dilma Rousseff e ao PT, o professor de Gestão de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (USP), Pablo Ortellado, disse que a crise não é apenas do mandato da petista.
– A Dilma é expressão máxima, mas acho que a gente não vai ter estabilidade tão logo. O que está movendo a mobilização é a investigação da Lava Jato, que é muito transversal a todos os partidos políticos. A investigação afeta PT, PMDB e PSDB. Isso já está gerando uma crise sistêmica e vamos ver que solução o Brasil vai encontrar para isso, porque estamos com poucos atores [políticos] com legitimidade -, disse Ortellado, que esteve na mobilização de ontem na capital paulista e estuda os protestos de rua em São Paulo nos últimos anos.
Para o professor da USP, o fato de políticos terem sido vaiados e hostilizados na manifestação realizada na Avenida Paulista, como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) e o senador Aécio Neves (PSDB-MG), mostra que os manifestantes estão insatisfeitos com todos os partidos políticos.
– A desconfiança não está apenas no PT. Para os manifestantes, o PT é um caso máximo e muito grave de corrupção, mas a corrupção é sistêmica e está espalhada por todos os partidos políticos. A desconfiança não está apenas nos partidos políticos, mas também nas suas principais lideranças. Poucos escapavam desse sentimento e é isso que a gente viu mais uma vez aqui [em São Paulo]. Quando os políticos se arriscaram a tentar ter um papel mais proeminente e subir nos carros de som, foram impedidos. Essa é uma novidade desse processo porque esta foi uma manifestação que foi chamada por partidos políticos também, não apenas por grupos da sociedade civil – afirmou Ortellado, para quem a instabilidade política pode gerar uma situação preocupante: “isso pode abrir para uma situação muito perigosa para algum aventureiro se cacifar com um discurso antipolítico. Foi o que aconteceu na Itália com Berlusconi ou o que está acontecendo nos EUA com Trump. Uma pessoa que vem de fora do sistema político que busca consertar isso, mas sem programas políticos claros.

Falta de representatividade – O cientista político Márcio Malta, da Universidade Federal Fluminense (UFF), também acredita que a crise política é estrutural.
–  É uma crise estrutural em termos de uma falta de representatividade em relação a todos os políticos: o Eduardo Cunha, o Michel Temer, o PSDB, o PT. É como se falassem: não nos sentimos representados por esses políticos no Planalto e no Congresso. Parte da população que está indo para as ruas repudia também esse tipo de comportamento de alguns políticos que tentam tirar proveito nesse tipo manifestação – disse.
Para Malta, o país está sem uma agenda. Na avaliação do cientista político, a saída passa por ações propositivas, reforma política e financiamento público de campanha efetivos.
– A classe política tem responsabilidade: tem que entender essas manifestações pelo viés do que está levando as pessoas às ruas e por que tantas pessoas estão insatisfeitas com o governo. O quadro é bastante complexo, mas é preciso respeitar a Constituição.
Segundo o professor da UFF, um outro fator que aumenta a insatisfação da população é a crise econômica.
– Ela é decisiva. À medida que a classe média perde poder de consumo, também essa insatisfação e indignação crescem. Mas as instituições não podem ser abaladas, por exemplo, por uma crise econômica. Tem que respeitar o rito de um presidente eleito e a oposição, se estiver insatisfeita, que se organize e dispute uma próxima eleição – afirmou.

Espaço Publicitáriocnseg

Com informações da Agência Brasil

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui