Diversificação de investimentos

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bruno rodrigues, investimentos
Bruno Rodrigues (foto divulgação Sten)

Conversamos sobre diversificação de investimentos com Bruno Rodrigues, sócio e diretor de investimentos da Sten Gestão Patrimonial.

O que é diversificação de investimentos?

Eu vou quebrar a minha resposta entre o senso comum e a visão técnica do que é diversificação de investimentos. O senso comum usa muito a lógica de nunca colocar todos os ovos numa única cesta, alocando os investimentos em várias apostas. Para o senso comum, assim se tem um portfólio diversificado, mas, na prática, isso não é diversificação de investimentos.

Do ponto de vista técnico, a diversificação de investimentos surge de uma fórmula matemática. A principal métrica de risco de um ativo é a sua volatilidade. Quanto mais volátil for um ativo, maior o seu risco.

Se você tem um ativo A, com determinada volatilidade, e um ativo B, com outra volatilidade, a soma das suas volatilidades deve ser menor ou igual à volatilidade do ativo C, que é composto pelos dois ativos.

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O que eu quero dizer é que a volatilidade do portfólio combinado do ativo A com o ativo B deve ser menor ou igual a soma das volatilidades dos ativos A e B.

Do ponto de vista técnico, quando eu somo mais de um ativo em uma caixinha, o risco do meu portfólio somado tem que ser menor por uma razão matemática. Por exemplo, durante uma pandemia, uma ação do setor de saúde pode subir, mas todas as outras ações podem cair. Isso quer dizer que elas são descorrelacionadas, pois possuem fatores de riscos diferentes. É por isso que o risco combinado é menor.

A combinação de diferentes ativos em um determinado portfólio tem que ter um risco menor que a soma individual de cada ativo, mas isso só é válido se os fatores de risco que explicam os movimentos de cada ativo realmente forem diferentes, pois se os ativos forem influenciados pelos mesmos fatores não se gera o benefício da diversificação.

Isso é diferente do senso comum que acha, simplesmente, que a compra de um monte de coisas é diversificação.

Na sua visão, as pessoas entendem o que é diversificação de investimentos?

Em geral, eu acredito que não. Como disse, muitas pessoas entendem que diversificação é comprar um monte de coisas, quando, de fato, é a análise de como cada ativo se comporta, os fatores de risco que fazem com que esses comportamentos sejam diferentes e a montagem de uma cesta com ativos que tenham fatores de risco diferentes.

Por exemplo, não adianta comprar uma carteira com 20 Fundos de Investimento Imobiliário (FIIs) e achar que se diversificou o portfólio, pois todos esses fundos têm os mesmos fatores de risco. Eles estão sujeitos à inflação, aos reajustes de preços de aluguéis e a piora das condições econômicas que impactam nos índices de ocupação desses fundos.

Agora, é diferente quando se combina uma carteira de FIIs com investimentos em commodities, que estão sujeitas às demandas globais de investimentos, ao crescimento dos países com os quais o Brasil possui um índice de comércio relevante, aos preços do mercado internacional e às tensões políticas no mundo.

Como os fatores que influenciam os preços das commodities são muito diferentes dos fatores que influenciam os FIIs, ao montar uma carteira com esses dois ativos eu estou diversificando o meu portfólio.

Como fazer uma boa diversificação de investimentos?

Para que se possa montar uma carteira diversificada, o primeiro passo é definir a base de ativos que podem ser investidos, como equities, renda fixa, FIIs, ativos internacionais, dólar ou outras moedas. O segundo passo é fazer a análise qualitativa, entendendo os riscos aos quais esses ativos estão expostos.

Por exemplo, o dólar depende dos juros nos Estados Unidos e dos juros no Brasil. O terceiro passo é definir as classes de ativos que se movem de forma contrária.

Um exemplo clássico de diversificação ao longo do tempo é o All Weather da Bridgewater, gestora comandada pelo Ray Dalio. Pela sua própria definição, esse é um fundo que vai funcionar bem em todos os momentos ao longo do tempo, por isso o nome All Weather.

Como os fatores de risco de cada alocação são independentes, o All Weather investe um pouco em renda fixa, um pouco em ações, um pouco em ouro e um pouco em outras commodities, formando um portfólio com ativos descorrelacionados que não são explicados pelos mesmos fatores de riscos.

Vale a pena pegar, como parâmetro de diversificação, portfólios como do All Weather ou do Berkshire para replicá-los?

Depende do fundo. O All Weather foi feito para isso, pois a Bridgewater criou uma estratégia com fatores de riscos diversificados que pudessem durar ao longo do tempo.

O Berkshire é uma aposta um pouco diferente. Ele é um fundo de longo prazo com um grande foco em ações de empresas vencedoras ao longo do tempo. Historicamente, o portfólio da Berkshire foi concentrado em poucas ações, apesar de ser um pouco mais diversificado hoje, mas ainda sendo um portfólio de ações.

Se olharmos um fundo multimercado no Brasil, seu portfólio não é, necessariamente, diversificado. Alguns gestores fazem apostas, muito relevantes, em algumas classes. No ano passado, uma aposta que deu muito dinheiro para esses fundos foi em relação à taxa de juros nos Estados Unidos. Elas foram concentradas, o oposto de diversificação, e deram certo.

Diversificar não significa, necessariamente, ganhar mais dinheiro ao longo do tempo, mas sim a tentativa de maximizar o retorno dado o risco que eu quero correr. Enquanto o All Weather é diversificado, a Berkshire e os fundos multimercado no Brasil foram feitos com o objetivo de maximizar o retorno para o nível de risco que eles querem tomar através de apostas mais convictas e mais concentradas. Eles não foram feitos com o objetivo de maximizar a diversificação de portfólio.

O mercado sempre fala em diversificação, mas quando chega na hora recomendá-la aos clientes, isso é bem feito?

Na minha opinião, não, e essa resposta vale tanto para as recomendações feitas quanto para os clientes. Do lado das recomendações, como acabei de explicar, existe uma análise técnica para entender, de fato, quais são os fatores de risco que influenciam os preços de cada ativo, mas a minha impressão é que boa parte do mercado não usa isso.

Os grandes investidores são bem atendidos por assessores que conseguem fazer essa análise técnica, mas, de uma forma geral, usa-se o senso comum, ou seja, a diversificação do portfólio simplesmente com o aumento do número de ativos.

Não é feita uma análise técnica para se entender, de fato, quais são os fatores por trás das movimentações dos preços de cada ativo. Falta esse passo para que o mercado implemente a diversificação de forma correta.

Do lado dos clientes, alguns deles, quando olham alguns ativos, acabam decidindo pela não diversificação. Por exemplo, um investidor, que tem uma carteira de renda fixa que paga CDI + 1%, acha um título que paga CDI + 5%. Esse investidor pode pensar “para que eu vou diversificar se eu posso investir tudo em CDI + 5%?”.

Essa assimetria de conhecimento pode levar alguns investidores a alocar muitos recursos em um único ativo, o que, do ponto de vista de diversificação, não faz muito sentido.

Falta a muitos investidores o conhecimento de que a diversificação em fatores de risco faz sentido e que o fato de um ativo ter uma expectativa de rentabilidade maior que a de outro não faz dele um melhor ativo. A diversificação precisa ser feita com a combinação do retorno ponderado pelo risco.

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