A propagação de fake news sobre a tragédia no Rio Grande do Sul tem sido outro grave problema para a atuação das forças de segurança no local. Informações falsas como retenção de doações e proibição de entrada de medicamentos têm se disseminado rapidamente, principalmente pelas redes sociais, o que pode gerar falta de confiança no trabalho das equipes de apoio e até mesmo hesitação por parte de quem quer doar.
No município de Canoas, um dos mais atingidos pelas chuvas, a Procuradoria-Geral entrou com uma ação judicial contra um vereador após ele divulgar um vídeo pelo qual acusou a administração municipal de estar confiscando doações destinadas aos desabrigados. Trata-se de Jonas Dalagna (PP), que foi obrigado pela Justiça a excluir fake news das redes sociais em que acusa o prefeito da cidade, Jairo Jorge (PSD), de “sequestrar” doações às vítimas das enchentes no estado. Diante do cenário, o Ministério da Justiça e Segurança Pública pediu investigações envolvendo políticos e influenciadores digitais.
Segundo a Agência Brasil, em outra linha de frente, a Advocacia-Geral da União se reuniu com executivos das principais plataformas de redes sociais que atuam no Brasil e pediu apoio para conter essa propagação.
Thaiane Moreira, professora da Universidade Federal Fluminense e pesquisadora do tema, explica que esse fenômeno está relacionado com a rápida proliferação de dados nas redes sociais e a perda da noção de ‘autoridade’ no campo da informação.
“A gente tinha alguns autores que eram legitimados para trazer uma informação, para apresentar uma informação que fosse considerada de credibilidade. Eram jornalistas, eram comunicadores públicos, divulgadores científicos, agentes públicos, entre outros. Com essa popularização das mídias sociais, hoje em dia emitir uma opinião é motivo de autoridade. A gente está passando por uma nova configuração da própria noção de autoridade”.
A especialista também desmente outra perigosa notícia disseminada no campo da saúde.
“A gente tem visto com conjunto de influenciadores digitais indicando tratamentos médicos, quimioterápicos, por exemplo, para poder se prevenir de doenças, como leptospirose. Então é um risco para a saúde pública também”.
Fabio Malini, pesquisador e professor da Universidade Federal do Espírito Santo, acrescenta que as notícias falsas podem se dar por meio de generalizações e levar à população ao erro.
“Às vezes acontece uma situação de violência sexual em um abrigo, que é um caso particular, e isso é generalizado né, ah, está acontecendo em todos os abrigos. É um exemplo de que o particular se torna geral, e com isso você pode gerar um certo tipo de engano”.
A disseminação de fake news, de acordo com o pesquisador, ocorre de forma semelhante ao vivido na pandemia de Covid-19, quando informações falsas sobre a vacinação levaram medo e resistência às pessoas.
















