Diz que é mentira…

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Em 1º de abril é celebrado o Dia da Mentira. Diz então que é mentira. O presidente da República tocando os seus eleitores para a morte, feito gado conformado, por que carne velha “gasta muito” com aposentadorias, farmácia popular etc., comprometendo as finanças. Ah, as finanças, a banca, o lucro como única racionalidade, a economia. Os cinco maiores bancos brasileiros tiveram, em 2019, lucro da ordem de R$ 81.500.000.000,00 (difícil de ler e de acreditar). “Todo mundo vai mesmo morrer um dia…”. Antecipa logo isso. Alivia as contas da Previdência. Quando eu era criança, presidente da República era elogio para menino estudioso. Mas só sei porque eu sou velho. Deve ser por isso também que sou grupo de risco. Diz que é mentira…

 

Passou só para lembrar: proibido trepar!

Faz dois meses que a ministra Damares lançou a campanha “Tudo tem seu tempo”, pregando abstinência sexual de jovens. Pensar que a titular da Secretaria de Políticas para as Mulheres já foi a ex-reitora da Uerj médica Nilcea Freire… Pensar que na ditadura militar havia generais para usurpar a presidência. Que generais, mesmo os mais comprometidos com os horrores da ditadura, arrebentaram com o país e não batiam continência para baixo… Pensar que o país tem o nome que tem por causa do pau-brasil.

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Para a superação da crise’

Manifesto do Conselho Regional de Economia da I Região (CoREcon, Rio de Janeiro)

O CoREcon (I Região – RJ) distribuiu nota em que afirma que “o Brasil e o mundo testemunham uma crise civilizatória de grandes proporções” e apresenta motivos exógenos, sendo a nota parcimoniosa em relação aos motivos endógenos (coluna Empresa-Cidadã de 11/3/2020 – “Goleiro amarrado”), como a política de juros atabalhoada do Banco Central, que espantou cerca de US$ 47,7 bi, cortejando uma crise cambial. A nota cita sim os efeitos da desaceleração chinesa e da desorganização do mercado internacional do petróleo, a pandemia do coronavírus, além do estresse do sofrimento com a Covid-19 e com as necessárias medidas de isolamento social.

Sobre a perspectiva neoliberal que caracteriza as políticas públicas propostas pelo Governo Federal, a nota do CoREcon diz que: “os dispositivos de mercado já se mostraram completamente insuficientes para reorganizar o sistema econômico e já há consenso, entre especialistas e entre o povo de que a capacidade do sistema econômico prover as condições de sobrevivência material sem intervenções governamentais é cada vez mais questionável.”

A nota segue, discutindo o caráter global da crise e a inação do governo brasileiro, seja no entendimento, seja na proposição de medidas, a tempo, em autismo administrativo:

A advertência quanto à impossibilidade do exercício honesto da ciência econômica (…) se encarada como dogma, enaltecendo de forma repetitiva as sacrossantas reformas como solução única, incapaz de colher medidas de curto prazo, também é ressaltada. A insistência nesse samba de uma nota só levará a um desastre econômico e sanitário. Aparentemente, a esperança reside no fato de que a crise imporá mudanças. Mas isso é muito pouco e pode ser insuficiente. Não se deve apostar no perigoso clichê de que, no fim, tudo se resolve”. O futuro a Deus pertence. E como Deus é brasileiro…

Sobre os programas de transferência de renda já existentes: “A intensificação dos programas de transferência de renda já existentes, superando as dificuldades injustificáveis com o cadastramento do público-alvo, elevando os valores dos benefícios e a abrangência dos programas atuará diretamente sobre parcela do povo mais vulnerável que hoje se encontra desempregada ou na informalidade e por isso não dispõe de nenhum mecanismo de proteção social que permita obedecer ao isolamento sem que isso signifique aprofundar ainda mais a sua situação de degradação.”

Atualidade em destaque: “O combate à Covid-19, contudo, impõe novas restrições. Na medida em que seu controle, até o momento, depende fundamentalmente de medidas de isolamento social, é fácil antever a queda da demanda, mas, principalmente da oferta de bens e serviços. Nesse sentido, é crucial que as medidas de proteção e recuperação da economia estejam ancoradas no planejamento econômico, orientadas pelos objetivos da sustentação da economia e do combate à pandemia. Deve-se privilegiar, por exemplo, investimentos que melhorem rapidamente as condições de saneamento, a contratação de pessoal de saúde e a recuperação, modernização e construção de unidades de atendimento. A logística na distribuição de alimentos, a oferta de água tratada e a produção de medicamentos tem de estar no foco do planejamento de curto prazo. Os investimentos em pesquisa de vacinas, testes e métodos de tratamento não devem enfrentar quaisquer limites de ordem fiscal. Não é possível brincar nem postergar decisões.”

Rezar para o “deus mercado”, todos os dias, ao amanhecer, de joelhos, voltado para Wall Street: “É certo que as forças de mercado não serão capazes de assegurar a oferta de bens e serviços para atender às necessidades do povo, manter articuladas as estruturas produtivas e incrementar o volume de recursos para combater o corona.”

Essas são as diretrizes em torno das quais deve-se construir, democraticamente, uma convergência política para a definição das medidas concretas. A ordem do dia é assegurar o pleno emprego, mitigar restrições financeiras ao crescimento e planejar as ações capazes de coordenar o combate ao corona com o funcionamento da economia. É urgente abandonar as restrições fiscais que nos amarram, ter ousadia no trato das questões financeiras e reconstruir rapidamente o planejamento para vencer a crise econômica e a pandemia.” (Fim da nota do CoERcon–I Região).

Quem viver verá.

 

Paulo Márcio de Mello é professor aposentado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UerJ).

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