O ano de 2024 trouxe um cenário econômico e geopolítico marcado por imprevisibilidades que moldaram o comportamento dos mercados globais e impactaram diretamente os investimentos. No Brasil, expectativas iniciais de crescimento e estabilidade econômica foram frustradas ao longo do ano, enquanto, no cenário internacional, a inflação continuou sendo uma preocupação central, mesmo com sinais de desaceleração.
O Cenário Econômico Brasileiro
O segundo ano do governo de Luiz Inácio Lula da Silva foi desafiador, especialmente no que diz respeito à política fiscal. A ausência de medidas claras para equilibrar as contas públicas gerou desconfiança no mercado, afetando a credibilidade do país perante investidores. Embora tenham sido anunciados cortes de gastos de R$ 70 bilhões para os próximos dois anos, as medidas foram recebidas com ceticismo. A falta de confiança resultou na desvalorização do real, no aumento do custo das importações e em pressões inflacionárias adicionais.
Além disso, o Brasil se destacou por iniciar cedo a luta contra a inflação, mas o ritmo de cortes nas taxas de juros foi tema de debate. Essa questão, associada à volatilidade política e econômica, limitou o crescimento de diversos setores, incluindo o agronegócio, que enfrentou desafios climáticos e econômicos.
A Cena Global
Internacionalmente, as políticas monetárias restritivas nos Estados Unidos e na Europa mostraram resultados mistos. Embora a inflação tenha desacelerado em boa parte do ano, o reaquecimento do mercado de trabalho no final de 2024 trouxe preocupações renovadas. Adicionalmente, a eleição presidencial norte-americana, marcada por polarização, culminou na vitória de Donald Trump, o que gerou expectativas de políticas protecionistas e de redução regulatória, valorizando o dólar e ativos de risco, ao mesmo tempo que aumentou as tensões comerciais.
Os conflitos no Oriente Médio também adicionaram volatilidade ao mercado. A escalada de tensões fez o preço do petróleo atingir picos preocupantes, levando investidores a buscarem refúgio em ativos como o ouro, consolidando sua posição como reserva de valor em tempos de incerteza.
Mercado de Capitais e M&A
O mercado de M&A foi diretamente impactado por questões macroeconômicas e mudanças regulatórias, como a reforma tributária no Brasil, que alterou estratégias corporativas e afetou valuations. Houve uma retração de 25% no volume de operações e uma queda de 11% no montante financeiro das transações. Setores como tecnologia, varejo e energia ganharam destaque, enquanto o agronegócio, apesar das adversidades, manteve seu papel de relevância global.
No segmento de renda fixa, o cenário de juros altos trouxe desafios para empresas com menor qualidade de crédito, mas criou oportunidades para investidores em ativos estressados e fundos especializados.
Lições e Perspectivas
Os acontecimentos de 2024 reforçam a importância da diversificação e da cautela na alocação de recursos. A imprevisibilidade dos mercados demonstra que, embora projeções sejam úteis como diretrizes, é essencial não depender cegamente delas.
Para 2025, espera-se que investimentos atrelados ao CDI continuem apresentando bom desempenho. No entanto, oportunidades em ativos descontados, como fundos imobiliários e setores de transição energética, também devem ser exploradas. A necessidade de ajuste fiscal no Brasil permanece crucial para atrair investimentos e restabelecer a confiança no mercado.
Dessa forma, o ano que se inicia exige estratégias bem fundamentadas e um olhar atento às oportunidades que surgirem, mesmo em um ambiente desafiador e dinâmico.
Victor Nogueira Casagrande é Board Member da Unio Company da Unio Company, gestora focada em transformar ideias em grandes negócios
