Do início ao fim

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Na ocasião em que a oposição formal parece despertar e descobre a dura realidade consubstanciada na entrega do patrimônio nacional aos estrangeiros e o sórdido processo de privatização empreendido no Brasil, começando a reagir com a iniciativa da entrega de um abaixo-assinado a ser subscrito por 5 milhões de pessoas, pedindo a abertura da CPI da Telebrás e o início do processo de impedimento do atual presidente FHC, é necessário recordar alguns fatos. De imediato, a mídia amestrada classifica a ação pretendida como “golpismo”, alegando que o presidente foi eleito em pleito democrático, não se admitindo mudança nas regras do jogo no seu transcurso. Cabe uma simples pergunta. E com o ex-presidente Collor não foi assim que funcionou? O precedente foi aberto. E ele foi derrubado por muito menos.
Foi o próprio presidente FHC que deflagrou o início da mudança das regras do jogo, ao alterar a Constituição Federal, a qual jurou cumprir, criando pela primeira vez, no Brasil, o vergonhoso instituto da reeleição, aprovado pelo Congresso de forma suspeita e vergonhosa. Isto foi o princípio de tudo. Não custa recordar a consistente suspeita da compra de votos de parlamentares para aprovar tal absurdo, tantas vezes denunciada, nunca perpetrado na história do país. A seguir, a condução do jogo eleitoral, no qual até os candidatos adversários foram escolhidos a dedo, para perder, com a totalidade do apoio dos meios de comunicação, financiados pelo Sistema Financeiro Internacional, e dos institutos de pesquisa, num conluio incestuoso. Até os demais candidatos foram, na sua maioria, lançados pelo sistema, para pulverizar o tempo arbitrado pela justiça eleitoral na TV, principalmente, objetivando não ameaçar a unção do escolhido. A própria apuração por meio eletrônico, ao invés de garantir a lisura do processo eleitoral, pelo contrário, foi motivo de justa preocupação por parte dos partidos autênticos de oposição, impossibilitados de fiscalizá-lo convenientemente. É uma “caixa preta”, a qual nem o setor de informática do TSE pode abrir.
De fato, o presidente FHC iniciou seu segundo mandato, obtido graças à ilusão da estabilidade monetária, conquistada à custa da sobrevalorização cambial, em especial, com graves prejuízos à economia do país, sendo obrigado a desvalorizar o real, medida adotada tardiamente devido ao oportunismo eleitoral. Tal fato ajudou a esclarecer a verdadeira situação vivenciada pela nação. A realidade do brutal desemprego, da destruição dos pilares do Estado Nacional Soberano, do sucateamento da estrutura produtiva do país, da desnacionalização da economia, do aniquilamento da infra-estrutura econômico-social, do desmantelamento dos macro-setores, do abandono das Forças Armadas, do empobrecimento da população, da crescente miséria e fome, e ,o pior, da falta de esperança no futuro.
O total atrelamento da condução de nossa “política econômica” às normas ditadas pelos “donos do mundo” torna a nossa economia extremamente vulnerável a qualquer variação ocorrida no exterior. O ataque especulativo empreendido contra nossa economia, no início do ano, foi apenas uma pálida amostra do que poderá ocorrer no futuro. A aparente normalidade existente agora está sendo obtida a um custo muito elevado. As altas taxas de juros e a isenção fiscal estão atraindo para o país o pior tipo de capital que há. Aquele que pode sair do Brasil em 48 horas, provocando efeitos desastrosos em todas as expressões do Poder Nacional.
Na realidade, o governo FHC de fato já acabou. A rigor, não deveria sequer ter começado. O primeiro mandato foi desastroso. Representou a dilapidação de um patrimônio nacional incomensurável, o qual o povo brasileiro levou séculos para construir. Vale do Rio Doce, Usiminas, Acesita, Telebrás, Embratel, todo o setor de comunicações, os transportes. Nada foi construído. Só existiu para garantir a reeleição. O segundo mandato expressa apenas a intenção de acabar a obra de destruição iniciada. Nada será construído, de positivo. A retração econômica deste ano é sintomática. Agora, é entregar a Petrobras, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, a energia, a água, enfim o que resta de empresas. E então tentarão entregar a Amazônia. É demais. Não se pode enganar a todos todo o tempo. A verdade é gritante. A situação ficará cada vez mais insustentável e sem romper com o modelo em vigor é impossível uma solução. A sobrevida obtida apenas aumentará o tempo de agonia do atual sistema de poder. É uma questão de tempo.

Marcos Coimbra
Professor titular de Economia junto à Universidade Candido Mendes e conselheiro da Escola Superior de Guerra (ESG). Correio eletrônico: [email protected]

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