Apesar da fala de Powell sem grandes novidades, as falas duras de outros membros do Fomc impõem um clima de cautela ao mercado, enquanto os índices europeus sobem, apoiadas por balanços acima do esperado. Juros globais têm dia misto, com as taxas na Europa subindo, enquanto os juros das treasuries operam de lado, após a terceira alta seguida ontem. Dólar opera com viés de baixa, enquanto commodities têm sessão mais negativa. Por aqui, destaque do dia deve ser a digestão do balanço de Itaú, com o mercado ainda focado no noticiário político, com notícias sugerindo que a ala econômica do governo tem buscado baixar a fervura das críticas de Lula ao BC. Apesar disso, há poucos catalisadores altistas para a sessão de hoje, sugerindo um dia morno, com o mercado local sujeito às flutuações em Nova Iorque.
Na Ásia, em meio ao noticiário vazio e com o setor de tecnologia penalizado após perdas recordes do Softbank no quarto trimestre, Bolsas fecharam no negativo sem negociações na China. Na Índia, o RBI (o BC do país) elevou a taxa básica de juros em 0,25% (ante expectativa de 0,25%), de 6,25% para 6,50%, com o comitê afirmando que seguirá flexível nas próximas decisões.
Na Europa, apoiadas pelos resultados acima do esperado de Total e SocGen, Bolsas sobem, com as ações de tecnologia liderando as altas, com o FTSE 100 (Londres) fazendo nova máxima histórica. Joachim Nagel (do Bundesbank) disse que, apesar da queda na inflação, ainda são necessárias novas altas de juros para garantir a convergência da inflação para à meta de 2%. Isabel Schnabel (BCE) disse que a inflação na Zona do Euro está extraordinariamente alta e que apoia uma nova alta de 0,50% em março. François Villeroy de Galhau (Banque de France) afirmou que o pico de inflação está próximo e que espera que a inflação volte à meta entre o fim de 2024 e 2025. Hoje, vendas no varejo da Itália (de dezembro) às 6h. Frank Elderson (do BCE) fala às 6h.
Nos EUA, sentindo as promessas de continuidade no ciclo de alta de juros de Jerome Powell, futuros operam em queda, após a volátil recuperação de ontem. A balança comercial teve déficit de US$ 67,4 bi (ante expectativa de US$ -68,5 bi) em dezembro, fechando o ano em US$ 948 bi (-3,6% do PIB). Neel Kashkari (do Fed Minneapolis, votante) disse que não se deve exagerar a importância do payroll de janeiro, não mudando sua visão de taxa de juros terminal (5,40%) e que o Fomc ainda tem trabalho a fazer. Powell afirmou que, apesar de ter iniciado, a desinflação não chegou ao setor de serviços, que o caminho será ruidoso, que os juros ainda não estão restritivos e que o último payroll pode levar a altas adicionais de juros e que a inflação só deve voltar à meta em 2024. Na agenda, relatório de safra da USDA às 14h e estoques de petróleo do DoE (do último dia 3) às 12h30. John C. Williams (Fed Nova Iorque, votante) discursa às 11h15, Michael S. Barr (FRB, votante) às 12h e Christopher J. Waller (FRB, votante) às 15h45. Leilão de T-Notes (10 anos) às 15h. CVS Health divulga resultado antes da abertura. Disney, após fechamento.
Aqui no Brasil, em dia volátil em Nova Iorque, com as Bolsas fechando em alta após Powell sem surpresas, o mercado local seguiu preso à dinâmica de alta dos riscos políticos, em meio a críticas a Campos Neto e à privatização da Eletrobras, com o Ibovespa fechando em 107.829 pontos (-0,82%), com B3, Itaú e Eletrobras liderando as perdas. A piora na percepção de risco local levou o real a descolar da queda global da moeda americana, com o dólar fechando em R$ 5,20 (0,51%). A alta no dólar e nos juros globais, em dia de dificuldades do TN no leilão de pós-fixados levou à sessão mista na curva de DI futuro, com os vértices longos subindo mais de 10 pontos, enquanto a ponta curta recuou, em véspera de divulgação do IPCA.
Segundo o Ivar, o índice de aluguéis da FGV, os preços subiram 4,2% em janeiro, somando 10,7% nos últimos 12 meses (1,23% em janeiro de 2022). A deflação no IPA fez o IGP-DI recuar de 0,31% para 0,06% (ante expectativa de 0,29%) em janeiro, com a taxa em 12 meses caindo para 3,00%, mínima desde outubro de 2019. O IPA caiu de 0,32% para -0,19% (1,88% a/a), o IPC subiu de 0,35% para 0,80% (4,62% a/a) e o INCC subiu de 0,09% para 0,46% (9,00% a/a). De acordo com a Anfavea, a produção de veículos caiu para 152,7 mil unidades em janeiro, recuo de 12,5% (5,0% a/a) na margem. Ata do Copom com a mensagem da última decisão, preocupado com a desancoragem das expectativas, enumerando possíveis causas desse movimento e que seguirá atento, perseverando até que a ancoragem das expectativas se consolide e, se a desinflação não transcorrer como esperado, considerando retomar as altas de juros. A grande novidade foi o trecho em que o Copom reconhece que o plano fiscal apresentado por Haddad pode atenuar o risco fiscal, baixando a fervura nas críticas à política fiscal. A Petrobras cortou o preço do diesel nas refinarias de R$ 4,50 para R$ 4,10 (-8,88%). Hoje, primeira prévia do IPC-S (fevereiro) às 8h, LSPA (janeiro) às 9h e fluxo cambial (do último dia 3) às 14h30. Banco ABC Brasil, Klabin, Log e Banco Pan divulgam resultados.
Campos Neto disse que a principal razão para a autonomia do BC é desconectar o ciclo da política monetária do ciclo político. Fernando Haddad afirmou que a ata do Copom teve um tom mais “amigável” e irá mostrar a Lula uma boa reforma de instrumentos de crédito. Lula voltou a cobrar a condução da política monetária, dizendo que Campos Neto deve explicações ao Congresso e que a economia precisa a voltar a crescer, com os juros acessíveis aos investidores brasileiros. Lula também criticou o processo de privatização da Eletrobras, dizendo que utilizará a AGU para contestar o contrato na justiça, classificando o evento como “lesa-pátria”.
Ótima quarta-feira!
.
Nicolas Borsoi
Economista-chefe da Nova Futura Investimentos
Leia também: