Conforme proposto anteriormente, publicarei nesta coluna, no período de vigência de cada signo, um artigo que busque falar do desejo das pessoas por certos vinhos, segundo o conceito de sinastria da Astrologia. Isso será possível, considerando a série que escrevi intitulada Zodíaco dos Vinhos, pela qual caracterizei os vinhos e suas uvas pelas semelhanças com as características dos signos.
Agora é a vez de Peixes (18/2 a 20/3). Como já desenvolvido pela série, Peixes é regido por Netuno, um planeta de lenta translação, ligado ao mundo oceânico, pelas suas baixas temperatura e luminosidade, tendo como elemento regente a água. Isso vai influenciar o seu ritmo de fruição, a alta conexão com os sentimentos e com a espiritualidade. As urgências e incoerências do mundo pragmático agridem seu perfil altruísta, o que pode transportá-lo com frequência para o mundo dos sonhos, para a profundidade oceânica de seus sentimentos.
Na analogia anterior, os vinhos ditos “mais piscianos” seriam marcados pela suavidade e profundidade, mas isso pode não ser necessariamente o vinho “desejado” pelo pisciano. O conceito de sinastria fala das interações com o outro e nem sempre a melhor alma é a gêmea.
Pela Astrologia, o signo complementar (que complementa o outro) pode ser aquele com características opostas, justamente porque ele te oferece uma moderação para as suas tendências, tornando o seu cotidiano mais equilibrado. Tendo isso em conta, para Peixes, escolhi duas possibilidades para Peixes: uma conexão com aquilo que o traz para uma realidade mais assertiva, menos caótica, e outra com aquilo que alimenta essa imersão no sonho, no mundo sem arestas.
Vamos aos vinhos. A primeira possibilidade seria o signo complementar de Peixes: Virgem. Signo de terra, de perfil detalhista, metódico, preciosista. Enxerga também as irregularidades do mundo, mas em vez de sofrer com isso, busca organizar o seu território com muito rigor, tomando para si desafios difíceis. O entendimento da sinastria é que o seu domínio preciosista da realidade poderia encantar o pisciano. Dentre os vinhos que sugeri como virginianos, acho que o que mais poderia se encaixar nesse perfil são os da uva Nebbiolo, rainha incondicional do Piemonte, região situada a Noroeste da Itália.
A contar pelo sucesso dos seus vinhos, todos gostariam de produzir a Nebbiolo, mas o desafio não é pequeno, e poucos tentam fazê-lo. Talvez porque a sua expressão tão majestosa tenha a ver com seu território de predileção. É uma cepa que brota cedo e amadurece tardiamente. Demanda, portanto, uma boa e longa exposição, o que consegue obter nas encostas íngremes piemontesas, com orientação sul, de onde são colhidas para dar origens aos Barolos e Barbarescos e outros mais.
Se, em termos agrícolas, a Nebbiolo é exigente, o seu perfil organoléptico pode chegar a resultados maravilhosos, mas requer tempo para afinamento dos taninos e desenvolvimento de aromas complexos. Tempo, perseverança não seriam problemas para o pisciano, desde que este vinho lhe toque a alma. Aliás, o Barolo em seus mais destacados frascos é um dos vinhos considerados de meditação, tudo a ver com Peixes. Certamente que, com apelos menos evidentes, mais sutis, exigindo um degustador atento. Espera-se que o pisciano não renuncie a este prazer, antes de compreendê-lo.
A segunda possibilidade de sinastria para Peixes seria mais por semelhança do que por complementaridade. Câncer é um signo apontado como um excelente encaixe, por ser de elemento água e também movido pela sensibilidade, afetuosidade e empatia.
Dentre os vinhos indicados como possíveis “cancerianos”, considero os da uva Moscatel com mais pontos de sinergia. Primeiro, trata-se de uma das uvas mais populares do mundo, o que combina com o perfil altruísta pisciano. É vinificada em vários países, onde pode pertencer a famílias diferentes, ter nomes distintos, mas sempre preservando a sua predisposição para a doçura e aromas florais. Faz vinhos secos, mas tem uma atração pelos mais adocicados, seja em forma de espumante (Asti), delicados vinhos de sobremesa (Muscats franceses) ou fortificados (Moscatel de Setúbal).
São duas perspectivas diferentes de sinastria e espero que uma delas funcione!
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