Segue a novela interna de disputas entre os três Poderes e dissensões, fazendo com que os mercados aqui não evoluam. A Bovespa mostra queda acumulada no ano de 1,30%. Ontem foi mais um dia de mercado no Brasil atuando na contramão dos principais mercados do mundo. A Bovespa encerrou com queda de 0,49% e índice em 117.471 pontos, dólar oscilando muito para fechar estável em R$ 5,38 e com juros pressionados. Nos EUA, o Dow Jones terminou o dia com alta de 0,61% e Nasdaq com +1,55% (recorde de pontuação).
Motivo aqui pode ser atribuído ao risco institucional alto das últimas semanas, expectativa de fura-teto por parte do governo e por medidas populistas que começam a ser esboçadas.
Hoje, os mercados da Ásia voltaram a encerrar com boas altas e apetite ao risco (destaque para Hong Kong com +2,46%), Europa começou em alta também, mas perde tração na sequência e futuros do mercado americano com comportamento positivo. O petróleo também em nova alta (ontem registrou recuperação de mais de 5,0%) ajuda no quadro positivo. Aqui, mercado só ganha tração quando se aproximar de 121 mil pontos do Ibovespa, mas mostra fraqueza se perder 116 mil pontos.
Na Alemanha, a segunda leitura do PIB do segundo trimestre mostrou expansão de 1,6% (previsão era +1,5%) e na comparação anual com alta de 9,8%. No Peru, o PIB do segundo trimestre na comparação anual cresceu 41,9%. A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) indicou que o comércio dos países do G-20 registrou novo recorde no segundo trimestre, mas mostra sinais recentes de desaceleração.
Nos EUA, os Democratas moderados entraram em choque com Joe Biden e Nancy Pelosi (presidente da Câmara) por conta dos trilhões no orçamento de 2022 dos programas propostos. Já a vice-presidente, Kamala Harris, em discurso em Cingapura, acusou a China de coerção e intimidação. A SEC (correspondente da nossa CVM) emitiu novas exigências para que empresas chinesas façam IPOs no mercado americano.
No mercado internacional, o petróleo WTI, negociado em Nova Iorque, mostrava alta de 1,52%, com o barril cotado a US$ 66,64. O euro era transacionado em US$ 1,17 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 1,27%. O ouro em queda e a prata em alta na Comex e commodities agrícolas com comportamento de alta nas negociações da Bolsa de Chicago.
No cenário local, o governo discute plano B para a PEC dos precatórios com o todo ou parte fora do teto de gastos, situação que ninguém gostaria que acontecesse. Mas Paulo Guedes diz que tem forte programa de manutenção do teto de gastos e manteve as perspectivas equilibradas. O presidente da Câmara, Arthur Lira, quer votar hoje a reforma do Imposto de Renda, que não tem consenso e agrega distorções maiores para os assalariados, com a possibilidade de maior “pejotização”.
Governadores também estão preocupados com a adesão de oficiais da Polícia Militar às manifestações que estão sendo programadas para o 7 de setembro. Manifestações que até aqui contarão com a participação de Bolsonaro.
Na agenda do dia local, somente entrevistas de Paulo Guedes e Campos Neto, ficando o mercado ao sabor do noticiário. No exterior, teremos o índice de atividade industrial de Richmond de agosto e as vendas de casas novas de julho. Expectativa para o dia de Bovespa podendo tentar recuperação (depende do clima político), dólar ainda pressionado e o mesmo para os juros.
Ontem, mais uma vez, a Bovespa destoou do mercado internacional em dia de alta quase plena. O dólar também trilhou volatilidade e viés de alta, apesar da fraqueza externa. Nem mesmo a forte alta do petróleo no mercado internacional fez as ações da Petrobras acompanharem com intensidade parecida. O motivo disso é recorrente e esbarra no risco institucional. Bolsonaro voltou a dar declarações polêmicas, com o objetivo de manter apoiadores unidos e levar adiante manifestações até o 7 de setembro.
No exterior, os mercados reverberaram indicadores PMI da atividade composta (indústria e serviços) para diferentes países em agosto. Com exceção do Japão, que ficou abaixo dos 50 pontos, todos mostraram expansão da atividade, apesar da desaceleração. Nos EUA, tivemos o mesmo efeito. Desaceleração do índice composto para 55,4 pontos, vindo de 59,9 pontos, chegando ao menor nível em oito meses. Lembrando que valores acima de 50 pontos mostram expansão da atividade.
Ainda nos EUA, as vendas de imóveis usados cresceram 2,8% em julho, quando o esperado era queda de 0,5%. O índice de atividade nacional de Chicago subiu para 0,53 ponto em julho, vindo de -0,01 ponto. O FMI anunciou a alocação de US$ 650 bilhões em Direitos Especiais de Saque (SDR), o que é uma oportunidade única para países combaterem a pandemia.
Na Zona do Euro, a confiança do consumidor de agosto caiu para -5,3 pontos, vindo de -4,4 pontos. Já Israel divulgou que a terceira dose da vacina da Pfizer aumenta a proteção contra a Covid-19 em seis vezes. Na China, o PBoC (o BC chinês) se comprometeu com crescimento estável do crédito em meio à desigualdade na recuperação.
Também ontem, no mercado internacional, o petróleo WTI, negociado em Nova Iorque, mostrava alta de 5,92%, com o barril cotado a US$ 65,82. O euro era transacionado em alta para US$ 1,174, e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 1,25%. O ouro e a prata também com fortes altas na Comex, e commodities agrícolas majoritariamente com altas na Bolsa de Chicago. O minério de ferro teve nova madrugada de queda em Qingdao, na China, com -2,66% e a tonelada cotada em US$ 136,71.
No segmento doméstico, a nova pesquisa semanal Focus, do BC, trouxe a inflação oficial novamente em alta para o fim de 2021 (20ª seguida) em 7,11%, de anterior em 7,05%, acima do teto da meta, e com 2022 também em alta para 3,93%. A Selic ficou estável em 2021 e 2022 no patamar de 7,50%, e o PIB encolhendo na margem para 5,27% em 2021. A produção industrial também caiu para 6,40% (anterior em 6,43%) e dólar estável em R$ 5,10 para o fim deste ano. Em compensação, o saldo da balança comercial evoluiu para US$ 70 bilhões em 2021 e, em 2022, também em alta para US$ 63,5 bilhões. A Confederação Nacional do Comércio (CNC) mostrou que a intenção de consumo das famílias cresceu 2,1% em agosto, mas ainda está 0,4% aquém do período pré-pandemia.
No ambiente político, a situação continuou tensa e mexeu novamente com os mercados, depois de um fim de semana também estressante. Bolsonaro recuou do veto e resolveu sancionar pagamentos de emendas do relator geral na LDO de 2022, e parlamentares poderão indicar gastos no orçamento, posição diferente da última sexta-feira. Bolsonaro também voltou a desafiar governadores para zerarem ICMS do botijão de gás e ainda não descartou o Vale Gás. Voltou a dizer que vacinas são experimentais e quer o fim da obrigatoriedade de máscaras. Também reiterou suspeitas sobre as urnas eletrônicas, ainda que não tenha provas. Com isso, o risco institucional ficou alto e os mercados sentiram os impactos.
Tanto isso é verdade que a Bovespa segue negativa no ano em pouco mais de 1%, enquanto mercados mais maduros, como o americano, mostram valorizações de dois dígitos. No mercado local, dia de dólar encerrando praticamente estável e cotado a R$ 5,38. No segmento Bovespa da B3, na sessão do dia 19, os investidores estrangeiros voltaram a alocar recursos no montante de R$ 1,82 bilhão, deixando o saldo de agosto positivo em R$ 6,65 bilhões e o ano com ingressos líquidos de R$ 46,4 bilhões.
No mercado acionário, a segunda-feira foi dia de alta de 0,30% na Bolsa de Londres, Paris com +0,86% e Frankfurt com +0,28%. Madri e Milão com valorizações de 0,59% e 0,49%, respectivamente. No mercado americano, dia de novos recordes de pontuação nos principais índices do mercado, com o Dow Jones encerrando com +0,61% e Nasdaq com 1,55%. Na Bovespa, dia de queda de 0,49% e índice em 117.471 pontos, fazendo mínima em 117.062 pontos.
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Alvaro Bandeira
Economista-chefe do Banco Digital Modalmais