Economia sustentável só acontecerá com desbloqueio de capital privado

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Floresta Amazônica
Floresta Amazônica (Foto: Marcelo Camargo/ABr)

O G20 pelo Impacto elaborou documento com recomendações para enfrentar crises climáticas e sociais, destacando a importância de novos modelos de financiamento privado. A coalizão pressiona a inclusão da pauta nas discussões do G20 no Brasil.

A necessidade de soluções que impulsionam uma economia mais equitativa e sustentável coloca o desbloqueio de capital privado como uma estratégia fundamental. Com o cenário climático e socioeconômico global cada vez mais desafiador, a integração entre os setores público, privado e filantrópico tem se mostrado crucial para financiar a transição rumo à chamada Economia de Impacto.

Segundo relatório recente do Climate Policy Initiative, o volume médio anual de financiamento climático atingiu cerca de US$ 1,3 trilhão em 2021/2022, representando apenas 1% do PIB global. Esse valor está bem abaixo dos US$ 8,1 trilhões estimados como necessários anualmente até 2030 para enfrentar a crise climática de forma eficaz. Essa pauta é um dos pontos focais do G20 pelo Impacto, uma coalizão de 50 organizações nacionais e internacionais que têm construído diálogo e recomendações para serem discutidas no G20 em novembro.

Marco Gorini, CEO do Grupo Din4mo e membro do G20 pelo Impacto, acredita na importância da mobilização de recursos privados: “O capital privado detém 70% dos recursos globais disponíveis. Sem ele, não conseguiremos avançar na velocidade necessária para enfrentar os desafios sociais e ambientais que temos pela frente”, comenta.

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No cenário atual, acessar capital privado para projetos inovadores e de impacto social é uma tarefa desafiadora. A mentalidade predominante entre investidores e gestores de recursos ainda se baseia em uma visão tradicional que prioriza segurança e liquidez em detrimento de inovações que podem trazer transformações profundas para a sociedade.

“A perspectiva é o principal desafio. Donos de recursos e gestores foram formados na lógica da tríade risco-retorno-liquidez, buscando a melhor equalização com menor risco, maior retorno e maior liquidez. Isso impede que considerem a dimensão impacto como uma quarta variável crucial na decisão de investimento”, complementa Gorini.

Esse desbloqueio de capital privado oferece alguns benefícios tanto para empresas quanto para investidores. Ao direcionar recursos para projetos de impacto, é possível acessar volumes maiores de capital com condições mais favoráveis, viabilizando a expansão de cadeias produtivas e o crescimento econômico. Segundo Gorini, os investimentos em impacto oferecem retornos financeiros acompanhados de benefícios sociais e ambientais.

“Ao elevar a disponibilidade de recursos para novos investimentos, há uma ampliação da oferta das cadeias produtivas na economia. Em outras palavras, o PIB potencial do país se amplia. Investimentos são naturalmente geradores de empregos e crescimento setorial.”, ressalta Gorini.

Uma das práticas mais promissoras para viabilizar a mobilização de capital privado é o modelo de Blended Finance, que combina capital público, de fomento ou filantrópico com recursos privados. Nesse modelo, o capital catalítico assume a maior parte do risco inicial, tornando os ativos mais atrativos para investidores tradicionais. “O Blended Finance equaliza o risco e facilita a entrada do capital privado em projetos que, de outra forma, seriam considerados arriscados”, explica Gorini.

O Contexto Global e o G20 pelo Impacto

Esse debate se insere em um contexto global urgente. Com a iminente cúpula do G20, marcada para novembro no Rio de Janeiro, o G20 pelo Impacto busca influenciar diretamente as discussões globais. A coalizão está focada em propor um modelo econômico inclusivo, equitativo e regenerativo como solução para a crise climática e as desigualdades socioeconômicas.

Marcel Fukayama, co-fundador da Din4mo e coordenador do G20 pelo Impacto, explica como funciona a coalizão e seu objetivo. “O G20 pelo Impacto serve como uma plataforma para promover soluções concretas que garantam o cumprimento da Agenda 2030 e do Acordo de Paris”, afirma. Ele enfatiza que, com o G20 respondendo por 85% do PIB global, 80% das emissões de gases de efeito estufa e dois terços da população mundial, a articulação desse fórum é essencial para o sucesso de novos modelos econômicos que atendam às demandas socioambientais globais.

As recomendações da coalizão, que incluem o desbloqueio de capital privado, são parte de um esforço para acelerar a transição para uma economia mais justa e sustentável, integrando finanças climáticas e impacto social. Essas diretrizes serão apresentadas durante as reuniões do G20, com o objetivo de influenciar as políticas globais e garantir que as ações necessárias sejam tomadas.

Em junho de 2024, a coalizão G20 pelo Impacto apresentou o documento “Recomendações: Sustainable Finance Work Group”, com propostas para acelerar a transição para uma economia sustentável. Essas recomendações cobrem desde financiamento sustentável e soluções baseadas na natureza até estratégias para reduzir desigualdades sociais e fortalecer a resiliência dos ecossistemas. Entre as propostas, destaca-se a criação de um Fundo Catalítico Blended Rotativo Global, visando atrair capital comercial para projetos de descarbonização e outras questões socioambientais.

Outro ponto essencial da agenda do G20 pelo Impacto é a importância de garantir um ambiente institucional e regulatório que apoie a economia de impacto, harmonizando o progresso econômico com o bem-estar social e os limites planetários.

“Precisamos mudar as regras do jogo, criando um ambiente institucional e normativo que guie políticas públicas e regulatórias capazes de mobilizar capital e garantir boa governança. A urgência é clara, e estamos comprometidos em oferecer soluções viáveis e escaláveis”, afirma Fukayama.

A coalizão também propõe novos modelos corporativos, como o steward-ownership, que visa uma gestão mais responsável e voltada para o impacto social, além da inclusão de indicadores de bem-estar nas contas nacionais. Essas ações complementam os esforços do G20 pelo Impacto em promover uma economia inclusiva e sustentável, transformando o debate global e influenciando diretamente as políticas que serão apresentadas na Declaração dos Líderes do G20.

Um Novo Modelo para o Século XXI

O G20 pelo Impacto advoga que, para garantir o sucesso da transição para uma nova economia, é imperativo que governos, empresas e organizações da sociedade civil trabalhem juntos.

“O objetivo é claro: garantir um futuro no qual o desenvolvimento seja sustentável, inclusivo e equitativo, com políticas públicas que permitam a escalabilidade das soluções apresentadas. Os países membros do G20 têm uma oportunidade única de fazer história na Cúpula de 2024 no Rio de Janeiro, promovendo um ambiente justo e seguro para todas as nações”, ressalta Fukayama.

O compromisso com a aceleração da nova economia vai além do Brasil. A coalizão também pretende garantir que as discussões continuem sob a presidência da África do Sul em 2025, promovendo uma gestão contínua das metas estabelecidas.

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