Poucos dias antes da mudança presidencial na Argentina, neste domingo, os indicadores econômicos que compõem o legado do governo que termina do presidente Alberto Fernández moldam a situação econômica do país, pintando um quadro desafiador que exigirá uma administração hábil por parte do próximo presidente, Javier Milei.
No campo cambial, a taxa de câmbio atacadista oficial, informada pelo Banco Central da República Argentina (BCRA) e utilizada no comércio exterior, encerrou o último dia financeiro, antes da transferência presidencial, em 364,41 pesos por unidade. Paralelamente, o dólar oficial do varejo, habilitado para venda ao público, atingiu 390,97 pesos.
No mercado paralelo, o dólar “azul” (nosso dólar no câmbio paralelo) apresentou uma cotação elevada de 990 pesos por unidade na última rodada financeira do governo Fernández, elevando o “gap cambial” (diferença entre as cotações oficiais e informais) para 172%.
Os dólares MEP (Mercado de Pagamento Eletrônico) e CCL (Dinheiro com Liquidação), indicadores ligados à área financeira, registraram valores de 986 pesos e 1.000 pesos, respectivamente, disparidade que somada ao preço do “azul” reflete a complexidade da situação cambial na Argentina.
Inflação passa de 140% ao ano
No que diz respeito à inflação, em outubro assistiu-se a um aumento mensal de 8,3% nos bens e serviços do país, contribuindo para uma inflação de 142,7% em 12 meses, segundo dados oficiais. Este aumento, acumulando um total de 120% em 2023 até outubro, representa um desafio significativo para a estabilidade econômica argentina.
A atividade da economia revelou uma queda acumulada de 1,5% nos primeiros três trimestres do ano, com o desemprego em 6,2% no segundo trimestre. Estes números, divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec), apontam para um panorama que exigirá medidas eficazes para promover a recuperação.
Quanto à balança comercial, desde o início do ano até outubro, o intercâmbio da Argentina com o mundo apresentou exportações de US$ 56,580 bilhões, marcando uma queda de 24,8%, e importações de US$ 63,976 bilhões, que diminuíram 9,6%.
Desta forma, no décimo mês de 2023, a balança comercial do país vizinho registou um saldo negativo de US$ 7,396 bilhões, detalhou o Indec.
No entanto, entre os números relevantes, destaca-se o crescimento de 9,5% nas exportações de bens manufaturados de origem industrial para a China durante os primeiros 10 meses de 2023, fato que destaca a importância das relações comerciais com o país asiático diante do complexo contexto econômico.
Dívida externa ameaça próximo governo argentino
Na área dos compromissos financeiros do país, a dívida externa atingiu US$ 276,201 bilhões no final do segundo trimestre, sendo US$ 155,116 bilhões a dívida pública, US$ 27,672 bilhões a do Banco Central e US$ 88,844 bilhões a de “instituições sem fins lucrativos que atendem às famílias”, segundo o Indec.
Paralelamente, as reservas internacionais registaram uma diminuição de US$ 10,058 bilhões no segundo trimestre de 2023 e no final do mandato do governo do presidente Fernández situavam-se em US$ 21,345 bilhões, segundo dados do BCRA.
Em relação ao panorama do Investimento Direto Estrangeiro (IDE), de acordo com os últimos dados disponíveis correspondentes ao segundo trimestre do ano, apresentou um lucro líquido de US$ 4,803 bilhões, o que explica que a posição passiva bruta do IDE atingiu US$ 138,248 bilhões até junho passado, indicou a entidade monetária.
Em resumo, Javier Milei assume a presidência num contexto desafiante, caracterizado por um quadro cambial complexo, elevadas taxas de inflação e elevados níveis de endividamento, pelo que a gestão eficaz destes indicadores pelo próximo governo argentino será decisiva para o futuro imediato da Argentina sob a sua liderança.
Por Victoria Argüello, Agência Xinhua